O forte que foi prisão já foi casa
Casa é um substantivo difícil de colar à Fortaleza de Peniche, mas há quem lhe chame isso. Entre 1977 e 1982, mais de quinhentos refugiados das ex-colónias portuguesas moraram dentro das muralhas da antiga prisão do Estado Novo. As celas foram convertidas em quartos, junto à solitária entendia-se a roupa. Eis uma das encarnações menos conhecidas do futuro Museu Nacional da Resistência e Liberdade, que por acaso, como o Governo ponderou em 2016, não se tornou uma pousada depois da revolução.
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"A minha primeira casa cá em Peniche", "a pequena ilha", "a nossa residência". É assim que Maria Encarnação, Manuela Correia e João Caetano se referem à Fortaleza de Peniche. Falam com sentido de propriedade, libertos do peso da história portuguesa. Entre setembro de 1977 e dezembro de 1982, a emblemática antiga prisão do Estado Novo, que passará a albergar em 2020 o Museu Nacional da Resistência e Liberdade, viveu uma das suas encarnações menos estudadas: foi transformada num Centro de Acolhimento de Refugiados (CAR) pela Cruz Vermelha e pelo ACNUR. Durante cinco anos e três meses, moraram dentro de muralhas mais de 500 pessoas vindas das ex-colónias portuguesas. Atirados para dentro forte que estava abandonado desde o dia 27 de abril de 1974, os refugiados transformaram das celas em quartos. Deram outros nomes e utilidades às áreas do edifício. Fizeram-no seu.
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