Paulo Flores: A minha música é mais antiga do que eu próprio
No final dos anos 80, foi um dos primeiros a fazer Kizomba, música que iria chegar, duas ou três décadas depois, a todo o mundo, e que faria Portugal parecer, pelo menos nas pistas de dança, realmente mestiço. Depois, dedicou-se a divulgar o Semba, música que guarda as memórias anteriores a ele, de um povo a lutar pelo direito básico à sua independência. Paulo Flores começou a cantar muito jovem, mas já soava antigo. Há quem jure tê-lo ouvido na infância em tempos em que Paulo Flores não teria ainda nascido. Lançou o primeiro disco aos 16, ainda só tem 42, já conseguiu cumprir a promessa, como cantou, de ser "um filho que sonhou mudar o mundo". Mudou, pelo menos, a música angolana. Encontrámo-lo no restaurante Poema do Semba, que abriu recentemente em Lisboa, com a mesma simplicidade e alegria a falar da música como se tivesse começado a tocar ontem. O seu mais recente álbum, "O País que Nasceu Meu País", que apresenta em Portugal com dois concertos - na Casa da Música, a 21 de Abril, e no CCB, a 29 -, é uma homenagem ao seu pai e à geração de angolanos que acreditou que a liberdade era para todos e que nem sempre vê acontecer aquilo que tinham combinado.
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1. Quando comecei a fazer música, perguntava às minhas avós sobre a vida delas em Angola e comecei a compor quase com palavras delas. O meu primeiro disco chamava-se "Kapuete Kamundanda". "Kapuete kamundanda n'kabolokosso" significa "etc., etc. e tal". Eu achava interessante palavras tão grandes significarem só "etc., etc. e tal" e numa música que fala de memórias, canto: "Lembro o Mussulo / kapuete kamundanda n'kabolokosso".
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