EUA usam vendas de chips da Nvidia à China como trunfo em negociações sobre terras raras
A retoma das vendas dos chips H20 passou a fazer parte das negociações comerciais entre Washington e Pequim, num momento em que os EUA tentam aliviar o bloqueio chinês às exportações de terras raras.
- 1
- ...
A Nvidia prepara-se para retomar a venda dos chips de inteligência artificial H20 ao mercado chinês, após ter recebido garantias de que obterá, em breve, as licenças do governo norte-americano. A mudança marca uma inversão na política de restrições à exportação de tecnologia avançada imposta por Washington, alegadamente por razões de segurança nacional.
A revelação foi feita pelo secretário do Comércio norte-americano, Howard Lutnick, que confirmou que a questão foi incluída num novo acordo com a China relacionado com ímanes baseados em terras raras – matérias-primas essenciais para produtos como automóveis elétricos, armamento e smartphones. “Colocámos isso no acordo comercial com os ímanes”, comentou, sem avançar mais pormenores.
A Nvidia viu as ações subirem 4% após o anúncio. O mercado chinês representa 13% do volume de negócios anual da empresa, que estima que as restrições tenham custado cerca de 15 mil milhões de dólares em receitas.
A decisão está a gerar forte oposição no congresso dos EUA. “Isto entregaria aos nossos adversários estrangeiros as nossas tecnologias mais avançadas e é perigosamente incoerente com a posição anteriormente assumida por esta administração”, criticou o congressista democrata Raja Krishnamoorthi, membro da comissão que supervisiona a relação com a China. Também o republicano John Moolenaar, presidente dessa comissão, exigiu esclarecimentos ao departamento do Comércio.
Na prática, os chips H20 que a Nvidia espera voltar a fornecer são versões limitadas dos que comercializa fora da China. No entanto, mantêm compatibilidade com o ecossistema de software da empresa, considerado o padrão dominante no setor da inteligência artificial. Isso torna-os ainda bastante atrativos para empresas chinesas como a ByteDance ou a Tencent, que já estarão a apresentar pedidos de aquisição, de acordo com fontes citadas pelo The Japan Times.
A possibilidade de venda destes chips reacende o debate sobre o equilíbrio entre segurança e competitividade tecnológica. Para o especialista Divyansh Kaushik, da Beacon Global Strategies, o impacto dependerá do volume autorizado: “Se a China conseguir acesso a um milhão de chips H20, pode reduzir significativamente, ou mesmo ultrapassar, a vantagem dos EUA em IA.”
A reaproximação entre a Nvidia e o mercado chinês coincide com uma ligeira trégua na guerra comercial entre as duas maiores potências económicas. Em março, a China suspendeu as exportações de terras raras, travando fornecimentos essenciais para a indústria ocidental. Agora, Pequim dá sinais de abertura para retomar esses envios.
A movimentação de Nvidia surge também num momento de forte concorrência da Huawei, que tem vindo a atrair programadores chineses com alternativas de chips locais. Nos últimos tempos, a China tem investido em massa para alcançar autossuficiência no setor da IA, mesmo com as restrições tecnológicas impostas pelo ocidente. Estão na calha ofertas públicas iniciais (IPO) chinesas de 1,4 mil milhões de euros, justamente no sentido de testar o domínio da Nvidia.
Também a rival AMD anunciou que pretende retomar as vendas dos seus chips MI308 à China, estando a aguardar as licenças correspondentes. As ações da empresa subiram 7% após essa informação.
Mais lidas