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Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega

Há vencedores e vencidos, recados à esquerda e à direita e uma novidade: a confirmação de que o futuro político de António Costa terá o respaldo do Governo português no caminho rumo a Bruxelas.

Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Carlos César
Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Carlos César Bruno Colaço
10 de Junho de 2024 às 12:29

Sem hesitações e ainda relativamente cedo, o primeiro-ministro e líder do PSD deu a cara e assumiu prontamente a derrota nas eleições europeias. Sem rodeios, nem meias palavras.

"Quando há eleições cada força política tem os seus objetivos: os da AD é ter mais um voto de qualquer outro partido e quero assumir que não cumprimos o objetivo", reconheceu.

Já antes, à chegada ao hotel onde a AD passou a noite eleitoral, Montenegro tinha desdramatizado, vincando que não lhe passava pela cabeça demitir-se se não tivesse mais votos. "Está a insistir na mesma pergunta, isso [a demissão] não está em cima da mesa e essa pergunta não faz sentido", rematou.

Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Carlos César
Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega Pedro Catarino

No discurso em que assumiu a derrota, o líder do PSD e da AD não quis, ainda assim, deixar cair o cabeça de lista, Sebastião Bugalho, uma aposta arriscada e com forte cunho pessoal do primeiro-ministro, que todos surpreendeu quando apresentou o nome.

Dirigindo-se ao cabeça de lista, Luís Montenegro agradeceu ao candidato escolhido: "Sebastião Bugalho, disseste que estavas orgulhoso. Nós estamos orgulhosos e reconhecidos pela campanha que conseguiste fazer", considerando que a campanha da AD "foi extraordinária na defesa dos valores de sempre: da paz, dos direitos fundamentais, da prosperidade económica."

 

Os recados de Pedro Nuno e o que aí vem

A pouca distância, também num hotel da capital, o líder socialista cantava vitória depois de uma noite longa em que os dois maiores partidos estiveram taco a taco nas votações.

Pedro Nuno Santos, um dos vencedores da noite com 8 eurodeputados eleitos, mas ainda assim perdendo um lugar face a 2019, não deixou passar a oportunidade de reivindicar os ganhos, frisando o papel menor de um Governo eleito há pouco mais de três meses, mas não querendo arriscar mais do que um mero sinalizar de forças. Afinal de contas, a diferença foi de 38.500 votos.

"Esta vitória do PS e a derrota da AD não é irrelevante no plano nacional", começou por apontar, considerando que "o Governo nacionalizou esta eleição".

Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Carlos César
Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega Bruno Colaço

Os números não lhe dão margem, a divisão constante ao longo da noite demonstrou-o, o que levou o secretário-geral socialista a lembrar que "não será pelo PS que haverá instabilidade política em Portugal". "Não foi o Governo que ficou em causa nestas eleições, mas uma forma de governar."

Esta segunda-feira, Pedro Nuno Santos voltou a repetir que com as eleições europeias ficou "muito claro que os portugueses não gostaram da forma como o Governo foi lidando com o parlamento e a oposição".

 

Costa, o que mais sai destacado nas Europeias

Despido o fato de primeiro-ministro, António Costa assumiu o fato de comentador televisivo na emissão da CMTV, mas acabou por ser um dos vencedores da note.

Luís Montenegro usou-o como trunfo para desviar as atenções da derrota da AD nas Europeias e anunciou que tinha, mesmo antes de ser nomeado chefe de Governo, garantido o apoio a Costa caso este assumisse a corrida ao Conselho Europeu.

A votação deste domingo deu a vitória à família política do PPE, o que permite à coligação onde PSD e CDS se sentam liderar a Comissão Europeia. A lógica de Bruxelas abre assim portas a que a segunda força política mais votada – os socialistas do S&D – possa escolher o presidente do Conselho Europeu… E Costa está entre os preferidos entre os diversos chefes de Estado e de governo europeus.

Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Carlos César
Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega

Na CMTV, o antigo primeiro-ministro admitiu que tinha falado com Montenegro, por duas vezes, sobre o apoio para uma eventual corrida ao alto cargo da EU, reconhecendo que "nunca aceitaria ser presidente do Conselho sem o apoio do Governo". Foi um dos triunfadores, mesmo não estando diretamente em jogo, do tabuleiro político da última noite eleitoral.

A má noite do Chega e de Ventura

Esteve durante boa parte da noite eleitoral a ser apontado pelas projeções como a quarta força política nas eleições europeias em Portugal, mas lá acabou por aguentar o terceiro lugar, ficando à frente da Iniciativa Liberal. A diferença foi curta, pouco mais de 28 mil votos.

O Chega, que durante a campanha chegou a avançar que um bom resultado seria eleger seis deputados, não foi além dos dois mandatos. Mesmo tendo alcançado, pela primeira vez, a entrada no Parlamento Europeu, foi o próprio cabeça de lista António Tânger Correia a admitir que "não foi um dia bom para o Chega".

Já Ventura chamou a si os fracos números do partido nas europeias, admitindo que "este obviamente não era o resultado" desejado, reiterando que a expectativa era "vencer estas eleições".

O presidente do Chega envolveu-se diretamente na campanha, percorreu o país e esteve marcadamente na rua a pedir o voto aos portugueses. Perdeu o fôlego de protesto das legislativas, não conseguiu vincar a posição do partido na Europa ao contrário de alguns partidos próximos da sua filiação de extrema-direita. E isso tornou Ventura um dos perdedores da noite, o que era visível na rosto desanimado.

 

BE e CDU perdem eleitos, mas seguram-se em Bruxelas

À esquerda, Bloco e CDU estiveram quase até à última para agarrar os lugares dos seus cabeças de lista em Bruxelas. Catarina Martins foi a primeira a anunciar que tinha conseguido a eleição.

Apesar de terem cantado vitória, o certo é que os bloquistas estão entre os perdedores da noite já que recuaram de dois assentos no Parlamento Europeu para apenas um. Em 2019, foram eleitos Marisa Matias e José Gusmão, agora só Catarina Martins segue para Bruxelas e Estrasburgo.

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Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega António Cotrim/Lusa

Depois de um desempenho pouco positivo nas legislativas, a direção do Bloco volta a demonstrar pouca força em urna numas eleições.

Também a CDU sai perdedora da noite, com João Oliveira a surgir duas vezes a discursar: fez uma primeira abordagem muito genérica, quase incompreensível, quando ainda não sabia se ia ser eleito. Já a noite ia longa quando pôde finalmente sorrir de alívio, garantindo a manutenção dos comunistas no Parlamento Europeu.

João Oliveira segurou o lugar, mas o partido registou o pior resultado de sempre em Europeias, tornando-se num dos perdedores da noite eleitoral. A CDU passou de quarto para sexto lugar - ficando atrás de PS, AD, Chega, IL e BE - e perdeu votos em todos os distritos e regiões autónomas.

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Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega João Relvas/Lusa

Cotrim centrou a campanha em si e cumpriu meta

A Iniciativa Liberal foi uma das vencedoras da noite eleitoral, ainda que não tenha conseguido o pleno ao não conseguir ter maior votação do que o Chega.

Ainda assim, a campanha para as Europeias da IL, muito centrada na imagem de João Cotrim de Figueiredo, acabou por resultar. Os liberais não só conseguiram a entrada no Parlamento Europeu, como alcançaram a meta de dois mandatos que o partido tinha assumido a meio da campanha.

No discurso de final da noite, Cotrim Figueiredo defendeu que a IL demonstrou com tal resultado que "basta não evitar os assuntos que preocupam" os portugueses e que "Portugal não está condenado a nunca cumprir o seu potencial".

Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Carlos César
Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega António Pedro Santos/Lusa

"Pelos vistos, quando uma campanha dá aos portugueses essa confiança os portugueses dizem sim", afirmou o candidato liberal.

E acrescentou: "Os portugueses vão cada vez mais dizer sim, porque a IL mostra que é possível combater a desesperança e o voto de protesto estéril". Cotrim insistiu ainda que se trata de "uma grande vitória da política positiva".

PAN e Livre eclipsam-se nas europeias

Se o Livre tinha alcançado algum ímpeto nas últimas legislativas, ao eleger dois deputados para o parlamento nacional, nas Europeias a corrida não correu assim tão bem ao partido de Rui Tavares.

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Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega André Kosters

O partido já estava fora de Estrasburgo desde 2019, mas ambicionava um regresso. A escolha do candidato foi pautada por polémica, tendo o nome de Francisco Paupério estado, numa fase inicial, desligado da direção do Livre. Tudo ao processo interno de seleção do candidato.

No PAN, voltou a confirmar-se a tendência decrescente do partido, que tem vindo a ser castigado em urnas.

Pedro Nuno Santos, Marta Temido, Carlos César
Uma derrota assumida, um apoio sem tabus, uma oposição “não irrelevante” e a má noite do Chega Manuel de Almeida/Lusa

A liderança de Inês Sousa Real está cada vez mais fragilizada e o partido que chegou a ter quatro deputados no hemiciclo nacional e que no passado já elegeu para o Parlamento Europeu, caiu significativamente na votação, ficando atrás do ADN de Joana Amaral Dias.

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