Independentistas catalães divididos sobre processo soberanista da Generalitat
O futuro da Catalunha não ficou mais nítido no dia seguinte às eleições autonómicas que decorreram este domingo, 27 de Setembro (27-S), e que garantiram uma maioria parlamentar aos partidos independentistas que, no entanto, não conseguiram alcançar pelo menos 50% dos votos dos cerca de 5,5 milhões de eleitores inscritos.
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Entre os soberanistas, a coligação vencedora (Juntos pelo Sim) defende que ganhou o "sim" à independência, enquanto a Candidatura de Unidade Popular (CUP) sustenta que não apoiará uma declaração de independência porque "não vencemos o plebiscito".
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As diferenças sobre uma futura interpretação dos resultados eleitorais entre a aliança Juntos pelo Sim, que elegeu 62 deputados, e a CUP, que obteve 10 mandatos, ficaram registadas ainda durante a campanha para as eleições regionais. Se a coligação avisou que a eleição de pelo menos 68 deputados, número que assegura maioria no Parlamento da Generalitat, garantiria condições para avançar com uma Declaração Unilateral de Independência no prazo de seis meses, a CUP defendia que tal só seria legítimo se os soberanistas conseguissem não só a maioria dos mandatos, mas também dos votos. O que não se verificou, uma vez que apenas 47,74% dos eleitores votaram nas duas forças independentistas, tendo 50,62% votado em partidos autonomistas ou federalistas.
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Entretanto, a CUP já confirmou outro dado que havia pré-anunciado na campanha. Este partido de extrema-esquerda não apoiará a investidura de Artur Mas, que mesmo não sendo cabeça-de-lista da aliança era, fruto de um acordo no seio da Juntos pelo Sim, candidato à presidência da Generalitat. Mas este partido eurocéptico e anti-sistema vai mais longe. Segundo o candidato Antonio Baños, a CUP não apoiará "passar do fetichismo de Mas ao fetichismo de [Raül] Romeva nem ao de [Oriol] Junqueras", reafirmando que a independência da Catalunha "é o caminho a seguir".
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Este conjunto de factores deixa, para já, a Catalunha num impasse. Por um lado, é preciso perceber se a aliança Juntos pelo Sim chegará, ou não, a acordo com a CUP para a formação de um Executivo com apoio parlamentar maioritário. Por outro, continua por perceber quem poderá assumir a presidência da Generalitat. Artur Mas ou outro nome que venha a resultar de eventuais negociações com a CUP. A possibilidade de um Governo minoritário ou uma tentativa de negociação com a coligação promovida pelo Podemos, Catalunha Sim que é Possível, também estão em cima da mesa. Sergi Sabriá, porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que também integra a coligação Juntos pelo Sim, disse hoje que vão sondar a coligação Catalunha Sim que é Possível porque eles "também querem iniciar um processo constituinte" e defendem que os catalães possam decidir em referendo o futuro da região. No entanto, além da CUP, também a aliança promovida pelo Podemos rejeita um Governo autonómico que seja novamente liderado por Mas. Já a ERC e, naturalmente, a Convergência Democrática da Catalunha (CDC) de Artur Mas, garantem que não contemplam sequer a possibilidade de não ser o ainda líder da Generalitat a ser reconduzido no cargo.
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Neste momento só o futuro poderá ditar se as forças independentistas avançarão mesmo com um processo tendente à secessão face a Madrid. E antecipando-se que os soberanistas continuarão os seus intentos tendo em vista a independência da Catalunha, tal como confirmado ainda durante a noite eleitoral de ontem, é difícil prever em que moldes o farão.
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Grande parte das esperanças soberanistas está depositada nas eleições gerais de Novembro. A previsão de que o próximo Governo seja minoritário e que o Parlamento nacional se caracterize por um forte polarização partidária é encarada pelos independentistas catalães como uma oportunidade para garantir mais cedências por parte de Madrid. Para já, o actual Governo central liderado pelo primeiro-ministro conservador, Mariano Rajoy, está disponível para dialogar e cooperar com o futuro Governo regional catalão, desde que segundo a lei. Lei essa que impede qualquer intento soberanista.
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Assim, as eleições autonómicas deste domingo terão servido, essencialmente, para recolocar na agenda a questão independentista da Catalunha e para reacender as disputas internas sobre a quem cabe o protagonismo.
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