Crise em França. "Não devemos excluir a intervenção que o BCE possa fazer nos bastidores"
O economista Jorge Bravo lembra que o banco central dispõe de "instrumentos para evitar a fragmentação nos mercados de dívida pública" e sublinha que "não há nenhum interesse da parte do BCE que exista uma crise sistémica na Zona Euro".
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O Governo de François Bayrou não sobreviveu à moção de confiança apresentada pelo primeiro-ministro. Emmanuel Macron já prometeu um substituto nos próximos dias, mas os mercados reagiram com desconfiança, numa altura em que os investidores estão bastante preocupados com o futuro económico do país. Com a instabilidade política e o orçamento em risco, a banca e o setor financeiro são especialmente afetados devido ao risco de contágio face à dívida e de desaceleração da economia. Em entrevista ao Negócios no NOW, o economista Jorge Bravo considera que os "mercados já tinham, de certa forma, antecipado este desfecho".
"Os desenvolvimentos terão que ver necessariamente com a evolução da situação política, se vai ou não existir a nomeação de um novo primeiro-ministro, se vão existir eleições antecipadas e para já é o que está a acontecer. O índice do mercado acionista, o índice CAC-40, também desvalorizou bastante naquilo que antecedeu esta votação, sobretudo nos setores mais expostos à instabilidade financeira: o setor financeiro, o setor da habitação, os bancos são sempre alguns dos títulos mais penalizados porque, obviamente, os detentores de dívida pública são, maioritariamente, intermediários financeiros e, portanto, qualquer degradação no valor do mercado da dívida pública afeta imediatamente os balanços dos intermediários financeiros e, portanto, obviamente também a confiança na economia e do crescimento económico provoca deterioração daquilo que são as perspectivas de resultados", defende.
Para Jorge Bravo há ainda outro fator a ter em atenção: "Não devemos excluir a intervenção que o Banco Central Europeu (BCE) possa estar a fazer nos bastidores. Como se sabe, a França é a segunda maior economia da Zona Euro. Não há nenhum interesse da parte do Banco Central Europeu que exista uma crise sistémica na Zona Euro, semelhante àquela que aconteceu em 2011-2012 na crise das dívidas públicas".
"O BCE dispõe de alguns instrumentos para evitar a fragmentação nos mercados de dívida pública, em particular o mecanismo conhecido por Transmission Protection Instrument (TPI), que permite, no fundo, comprar dívida pública, intervir no mercado, no sentido de estabilizar os diferenciais de juros, face aos países de referência. E acredito, portanto, diria que já há algum tempo até, que o Banco Central Europeu esteja a intervir nesse sentido, porque, repito, não há nenhum interesse, nem do ponto de vista financeiro, do ponto de vista económico, do ponto de vista daquilo que é a estabilidade da União Europeia como um todo, que se degrade ainda mais, no fundo, o diferencial do juros de dívida pública francesa face ao resto da Zona Euro, em particular aos juros de referência da Alemanha", explica o economista.
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