Mortágua ao FT: Toda a margem financeira deve ser usada para recuperar das medidas da troika
"António Costa pode descobrir em breve que o sucesso traz os seus próprios problemas", escreve o FT.
O Financial Times publica esta segunda-feira um artigo onde analisa a recuperação da economia portuguesa, tendo recorrido a uma citação do jornal Público para concluir que Portugal vive uma "crise de boas notícias".
Para ilustrar esta conclusão, o jornal britânico cita Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, que reclama que "toda a margem financeira que o país ganhe" com esta recuperação económica, "deve ser usada para reconstruir o que foi perdido" durante o período de resgate.
O FT assinala que o Bloco de Esquerda e o PCP estão a pressionar o Governo para aplicar cortes no IRS e aumentar as pensões numa dimensão que excede significativamente os compromissos assumidos no Orçamento do Estado.
Entre os factores que levam o FT a recorrer à expressão usada pelo Público de "crise de boas notícias" está o crescimento da economia ao dobro do ritmo da Zona Euro, a descida dos juros da dívida pública para mínimo de 10 meses abaixo dos 3%, o desemprego a cair ao rimo mais célere na Europa e a saída do procedimento dos défices excessivos.
"António Costa pode descobrir em breve que o sucesso traz os seus próprios problemas", escreve o FT, adiantando que o primeiro-ministro tem agora maior pressão por parte dos países de esquerda para relaxar da disciplina orçamental.
O FT cita António Barroso, analista da Teneo, a desvalorizar esta pressão dos partidos à esquerda do PS. "Os partidos de extrema-esquerda vão sem dúvida continuar a pedir mais despesa. Mas tem um incentivo para não abanar muito o barco, pois correm o risco de serem acusados de criar instabilidade".
O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, disse em entrevista ao Negócios que se o PCP e Bloco de Esquerda apresentarem propostas para o IRS que vão além dos 200 milhões de euros que o Governo tem guardados, isso "vai ter consequências noutras áreas do orçamento nomeadamente na despesa".
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