Trump considera que o México “se aproveitou dos EUA” por demasiado tempo
Donald Trump voltou a atacar o México. A "arma" foi a rede social Twitter. Num tweet, o presidente dos Estados Unidos, empossado há uma semana, afirmou: "o México aproveitou-se dos Estados Unidos por tempo suficiente. Elevados défices comerciais e pouca ajuda numa fronteira muito frágil tem de mudar AGORA".
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Mexico has taken advantage of the U.S. for long enough. Massive trade deficits & little help on the very weak border must change, NOW!
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As palavras do presidente norte-americano surgem menos de 24 horas depois do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, ter cancelado a sua visita a Washington. Na base deste cancelamento está o facto de Trump manter a sua ideia de alterar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA na sigla em inglês) e de querer que seja o México a pagar pelo muro que o presidente quer construir na fronteira dos dois países.
Um muro que Trump comparou ao que Israel ergueu para separar os territórios palestinianos com a intenção de evitar ataques. "O muro é necessário porque o povo quer protecção e o muro protege. Basta perguntar a Israel. Tinham um absoluto desastre atravessando para o outro lado", afirmou Trump, numa conversa com um apresentador do canal conservador Fox News.
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Depois do cancelamento da deslocação à capital norte-americana por parte do líder mexicano, surgiu a notícia que os Estados Unidos poderiam impor um imposto de 20% sobre as importações mexicanas.
"Este é um dia muito triste para as relações entre os Estados Unidos e o México – o pior dia de que há memória", disse à Bloomberg Michael Shifter, presidente Dialogo Inter-Americano. "Há o risco real de as coisas assumirem uma espiral que fique fora de controlo".
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México tem um ás na manga para negociar NAFTA com os EUA
O ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano chegou na última terça-feira a Washington com a missão de renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte com o governo de Trump. Considerando o quanto o México beneficiou com o pacto assinado em 1994 - o excedente comercial anual do país com os EUA supera 60 mil milhões de dólares - a sensação geral é que Videgaray não tem muito peso nas negociações e que acima de tudo cederá terreno para os seus colegas americanos.
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Mas Videgaray pode ser um negociador formidável. No México, o economista de 48 anos formado no MIT é visto há tempos como o mestre da estratégia por trás da chegada do presidente Enrique Peña Nieto ao poder. Também estabeleceu um relacionamento forte com Trump, que o descreveu como um "homem maravilhoso", e com o genro e assessor sénior de Trump, Jared Kushner. Além disso, pode ter na manga uma carta que tem sido ignorada: a segurança.
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Se o México deixar de cooperar com os EUA no combate ao tráfico de drogas ou no contra-terrorismo, poderá paralisar uma administração que fez da segurança fronteiriça outra das suas maiores prioridades, tendo até escolhido apresentar o plano de construir um novo muro precisamente quando o contingente mexicano estava a começar a trabalhar em Washington.
Videgaray insinuou sua estratégia na segunda-feira, quando disse ao canal de televisão Televisa que "esta não pode ser uma negociação em que só se discute o comércio". "Há muitas áreas em que os EUA precisam da cooperação do México, como a segurança e a imigração", disse.
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As economias dos dois países, em especial nos estados fronteiriços, estão fortemente ligadas. Por isso, separá-las será algo difícil e poderá provocar uma forte instabilidade política e económica, escreve a Bloomberg.
A agência explica inclusivamente que reabrir as negociações no âmbito do NAFTA pode prejudicar economicamente os dois lados da fronteira. A indústria automóvel, da componente de carros, dos bens agrícolas e têxteis são algumas das que podem sofrer danos. Os chamados Rust Belt States, que impulsionaram Trump para a presidência, podem ser afectados.
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Apesar de várias indústrias poderem vir a ser afectadas com uma renegociação do acordo, o sector automóvel será, potencialmente, um dos mais afectados. A Ford, a General Motors e a Fiat têm fábricas em território mexicano. E outras empresas como a Honda, a Volkswagen e a Mazda têm fábricas no país hispânico e exportam para os EUA.
"Se a todas as importações dos primeiros meses de 2016 tivesse sido aplicado um imposto de 20%, os importadores norte-americanos teriam pago cerca de 54 mil milhões de dólares em tarifas, bem mais do que algumas estimativas apontam para o custo do muro, que é de 15 mil milhões de dólares", afirmou Caitlin Webber, analista da Bloomberg Intelligence.
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