O caso sírio pode ter impacto nas legislativas alemãs?

A crise na Síria poderá afectar o desenrolar da campanha para as eleições na Alemanha, diz a “The Economist”. Desde a Segunda Guerra Mundial, o papel dos germânicos tem sido pautado pela neutralidade no que diz respeito a conflitos militares. Mas há excepções.
David Santiago 27 de Agosto de 2013 às 21:24

As eleições parlamentares na Alemanha, marcadas para 22 de Setembro, que opõem a actual Chanceler, Angela Merkel, e o seu antigo ministro das Finanças, Peer Steinbrück, pareciam estar resolvidas a favor de Merkel. Porém, o caso Snowden, em que os Serviços de Informação americanos e britânicos espiaram cidadãos alemães, teve impacto no eleitorado alemão.

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Em nenhum outro país se sentiu tamanha repercussão como na Alemanha, depois de Snowden ter divulgado informação classificada. O impacto ganhou maior dimensão quando a “Der Spiegel” noticiou que os Serviços Secretos alemães haviam colaborado com a Agência de Segurança Nacional (NSA), com troca de informação, que incluía, provavelmente, dados relativos a nacionais alemães. Repescar memórias da polícia política da Alemanha de Leste (Stasi) foi inevitável.

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A revista “The Economist” cogita, num artigo publicado esta terça-feira, sobre o impacto da crise síria nas próximas eleições. Este artigo refere, também, um possível impacto negativo das declarações do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, quando garantiu que a Grécia ia precisar de novo pacote de ajuda financeiro.

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O posicionamento alemão, e a sua influência na política interna, em relação a questões bélicas é de análise dúbia. A revista britânica recorda que Gerhard Schröder, então Chanceler da Alemanha, foi contra a invasão do Iraque (2002), e como esta posição o ajudou à recondução no cargo nas eleições desse ano. Merkel, na altura líder da oposição, afirmou publicamente o apoio a esta invasão.

 

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O caso sírio reporta-nos a uma questão sensível para a Alemanha – utilização de armas químicas. Desde o final da Segunda Guerra, houve uma construção idiossincrática alemã sustentada no moralismo e nas boas práticas. Terá sido esta a razão que levou Schröder a apoiar a intervenção militar da Nato no Kosovo em 1999.

 

A postura pacifista, e habitualmente neutral da Alemanha, face a situações de conflito militar, têm-na deixado muitas vezes isolada, mesmo relativamente aos seus habituais aliados. Em 2011, em plena votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Alemanha, que detinha um dos assentos rotativos naquele órgão, decidiu pela abstenção. Esta decisão foi vista pelos tradicionais aliados alemães como pouco solidária.

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As imagens, divulgadas, do bombardeamento da passada quarta-feira são declaradamente impactantes. A provável decisão, entre amanhã e quinta-feira, sobre uma resposta militar contra o regime de Assad, deverá colocar a Alemanha perante a necessidade de decidir se apoia ou não os seus aliados. Steinbrück deverá defender a não participação militar alemã no conflito. Merkel poderá decidir-se por qualquer uma das posições.

 

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No próximo domingo, 1 de Setembro, vai realizar-se o único debate televisivo, até às eleições, entre os dois candidatos. Se não antes, poderá ser esse o momento em que terão de definir as suas posições. Veremos, à posteriori, como irá o eleitorado alemão reagir perante tais decisões.

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