Novo governador deve manter "linha menos agressiva", defende ex-ministro
Na leitura de João Leão, o próximo governador do Banco de Portugal deve manter postura "dovish" e "ter em atenção alguns sinais sobre a economia europeia que podem recomendar novas descidas de taxas de juros nos próximos meses".
No contexto do Banco Central Europeu, João Leão defende que o perfil do governador do Banco de Portugal (BdP) tem peso: "É uma postura muito importante, é um papel muito importante, o da condição da política monetária da Zona Euro, em que têm voto vários governadores dos bancos centrais".
O ex-ministro das Finanças recorda que, a partir de 2022, o Banco Central Europeu "enfrentou o maior período de inflação desde a criação do euro e nesse período teve um combate bem sucedido à inflação, que depois de ter atingido 8% em 2023, agora está nos 2%. E penso que a postura de Portugal nesse debate foi positiva porque foi uma postura que mostrou que era possível fazer esse combate à inflação sem taxas de juros excessivamente elevadas que levassem a economia para a recessão e para o desemprego".
"Havia posturas muito mais duras que acabaram por não prevalecer e isso foi positivo porque a Europa teve um combate à inflação relativamente bem sucedido, em que conseguiu baixar a inflação sem grandes sacrifícios no lado da economia em termos de uma recessão ou de um fortalecimento do desemprego", sublinha em entrevista ao Negócios no NOW.
Tendo em conta este contexto, o antigo ministro defende que o novo governador "deve seguir essa linha e ter em atenção alguns sinais que se estão a avisar sobre a economia europeia e que podem recomendar novas descidas de taxas de juros nos próximos meses. A economia europeia continua-se estagnada, praticamente desde 2022 que não cresce, com exceção do sul da Europa, grande parte da Europa, nomeadamente a Alemanha e a Europa de Leste, praticamente não tem crescido".
Por outro lado, recorda, há fatores adicionais que podem levar a que a inflação fique abaixo do target e do objetivo do Banco Central Europeu, "em particular, a forte apreciação do euro nos últimos meses, desde que Trump assumiu funções. Com a desvalorização do dólar, essa apreciação do euro face ao dólar faz com que os preços tendam a baixar, porque os produtos chegam à União Europeia mais baratos e fazem com que a inflação possa baixar".
Além disso, destaca João Leão, "o efeito das guerras comerciais pode ser no sentido de levar a piores condições económicas. Se a Europa não retaliar, o efeito é sobretudo dificultar as exportações para os Estados Unidos, mas não o contrário, ou seja, as importações dos Estados Unidos e as da China até chegam mais baratas à Europa, porque a China deixa de poder exportar para os Estados Unidos. E tudo isso vai no sentido de menos pressão inflacionista, mais espaço para reduzir as taxas de juros, para ajudar agora a economia europeia a recuperar desta quase estagnação".
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