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Vistos 'gold' aumentam riscos de corrupção, diz Transparência Internacional

Portugal não tem registado evoluções significativas na última década e desde 2012 que apresenta variações anuais mínimas no Índice de Percepção da Corrupção elaborado anualmente pela Transparência Internacional.

casas, vistos gold
casas, vistos gold Pedro Dias Coelho
31 de Janeiro de 2023 às 15:17

A Transparência Internacional considera ser "problemático" Portugal manter o programa de vistos 'gold' em Portugal por "aumentar os riscos de corrupção" e "colocar pressão no mercado imobiliário".

A crítica surge na mais recente edição do Índice de Percepção da Corrupção, publicado anualmente, que volta a apontar falhas no âmbito do combate à corrupção em Portugal, descrito como "frágil".

"O exemplo dos vistos 'gold' é paradigmático das falhas identificadas porque coloca a nu não apenas a crónica falta de diligência devida, de controlo e de avaliação, suportada por sucessivos governos, mas sobretudo a enorme resistência em instituir a prevenção da corrupção, da fraude e do branqueamento de capitais enquanto política pública", observa a diretora executiva da Transparência Internacional Portugal, Karina Carvalho, num comunicado divulgado esta terça-feira, a par com o relatório da organização.

No início de novembro, o primeiro-ministro, António Costa, fez saber que o Governo estava a avaliar a continuidade do programa de vistos 'gold' para obtenção de autorização de residência em Portugal, admitindo que poderá não se justificar mais a sua manutenção, mas desde então pouco ou nada mais se soube a respeito.

Os problemas estendem-se a outras áreas desde logo à contratação, com a mesma responsável a apontar o dedo a "uma atitude displicente por parte dos principais responsáveis políticos ante o comportamento escandaloso, e até mesmo criminoso, de quem foi mandatado para proteger o interesse público e o dinheiro que é de todos nós".

Portugal não tem registado evoluções significativas na última década e desde 2012 que apresenta variações anuais mínimas no Índice de Percepção da Corrupção. No relatório agora divulgado, volta, com 62 pontos, a igualar a pontuação registada no ano passado - e também em 2019 - continuando abaixo do valor médio (66 pontos) da sua região (países da Europa Ocidental e União Europeia). Já no ranking, que engloba 180 países, acaba por baixar uma posição face a 2021 passando para o 33.º lugar.

"Os resultados nacionais do Índice de Perceção da Corrupção 2022 refletem, em linha com os de anos anteriores, um combate anticorrupção débil e estagnado, com percecionados níveis de risco agravados de corrupção e, igualmente, falta de transparência e controlo no setor da defesa e segurança nacional", diz o presidente do capítulo português da Transparência Internacional, citado na mesma nota.

Nuno Cunha Rolo vai mais longe, ao considerar, aliás, que esses resultados "decorrem da continuada incapacidade de sucessivos governos e governantes perceberem a imensa riqueza das lideranças e políticas anticorrupção, abertas, transparentes, participadas e íntegras, tanto no sistema político e administrativo, quanto nos setores da economia e sociedade, todas elas muito contribuem para um país mais justo, seguro, pacífico, inclusivo e desenvolvido".

E prova disso - continua - são "os casos recentes que se vão sucedendo nos media a ritmo vertiginoso" e que "muito se devem há falta de vontade e visão políticas – no Governo e no Parlamento - em matéria de anticorrupção, transparência e integridade".

Corrupção política ignorada

Outra das críticas apontadas a Portugal pela coligação mundial de organizações não-governamentais anticorrupção prende-se com a própria Estratégia Nacional Anticorrupção, "lançada sem diretrizes ou plano de monitorização, resultando em fraca aplicação e implementação lenta de medidas dirigidas à prevenção da corrupção no setor público".

Em comunicado, a Transparência Internacional Portugal sublinha que já tinha alertado para as "deficiências" da Estratégia "nomeadamente por ignorar praticamente por inteiro a questão da corrupção política" e que tal tinha sido, de resto, salientado aquando da publicação do Índice da Perceção de Corrupção de 2021 e nas recomendações do Grupo de Estados Contra a Corrupção.

O setor da defesa em Portugal também merece a atenção da Transparência Internacional que considera que "precisa de maior transparência e supervisão", apontando que "processos de contratação envoltos em secretismo e práticas de transparência financeira deficientes enfraquecem as salvaguardas contra a corrupção nas instituições de defesa".

Em termos globais, no mundo, entende-se que, apesar dos esforços e de muitos ganhos, não se pode considerar como garantido o progresso contra a corrupção, até porque a média global permaneceu inalterada (com 43 pontos em 100 pelo 11.º ano consecutivo) e mais de dois terços dos países (122) têm "um sério problema de corrupção", com uma pontuação inferior a 50 pontos.

A Dinamarca volta a encabeçar o índice, com 90 pontos, seguida da Nova Zelândia e Finlândia (87). Já a Síria e Sudão do Sul (13) e Somália (12) mantêm-se nos últimos lugares da tabela.

O Índice de Perceção da Corrupção foi criado pela Transparência Internacional em 1995 e é, desde então, uma referência na análise do fenómeno da corrupção, a partir da perceção de especialistas e executivos de negócios sobre os níveis de corrupção no setor público.

O indicador resulta da combinação de fontes de análise de corrupção desenvolvidas por outras organizações independentes, e classifica de 0 (percecionado como muito corrupto) a 100 (muito transparente) 180 países e territórios.

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