Ford vai cortar até 1.000 empregos na Alemanha perante fraca procura de veículos elétricos
O corte soma-se a milhares de despedimentos já anunciados pela Ford na Europa e ilustra os obstáculos que o setor enfrenta para tornar a eletrificação um negócio sustentável.

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A Ford vai eliminar até 1.000 postos de trabalho na fábrica de Colónia, na Alemanha, depois de reconhecer que a procura por veículos elétricos na Europa continua abaixo do esperado. De acordo com a Reuters, a empresa norte-americana anunciou esta terça-feira que a produção será reduzida a um único turno a partir de janeiro de 2026, o que levará ao despedimento de parte da força laboral. Os trabalhadores abrangidos terão acesso a pacotes de rescisão voluntária.
Segundo a DPA International, este anúncio eleva para 2.900 o total de cortes previstos em Colónia até 2027, o equivalente a cerca de um quarto do número atual de empregados na unidade. A fábrica, inaugurada em 1930 e transformada em centro de produção de veículos elétricos, tinha sido apontada como peça-chave da estratégia da Ford para a eletrificação na Europa. Contudo, o abrandamento da procura, associado a elevados custos de produção e a incentivos públicos irregulares, forçou a empresa a rever planos e ajustar a capacidade.
Nos últimos meses, a relação entre a administração e os trabalhadores em Colónia tem sido marcada por tensão. Ainda em maio, os funcionários realizaram uma greve histórica, a primeira em quase um século de operação, em protesto contra os cortes de pessoal. Apenas em julho foi alcançado um acordo entre a direção e o sindicato IG Metall, com a aprovação de 93,5% dos trabalhadores, que estabelecia medidas de contenção de custos e compensações generosas para saídas voluntárias. O novo anúncio da Ford, contudo, poderá voltar a colocar pressão sobre este entendimento.
A situação em Colónia não é isolada. A Ford encontra-se a implementar um vasto programa de reestruturação na Europa, que inclui o encerramento da fábrica de Saarlouis, também na Alemanha, afetando milhares de trabalhadores. Segundo a Bloomberg, em agosto a empresa já tinha comunicado a intenção de cortar mais de 470 empregos em duas fábricas na África do Sul, em Silverton e Struandale, devido ao impacto da concorrência de veículos mais baratos oriundos da Índia e da China. Esse movimento foi descrito por sindicatos locais como “possivelmente o início de perdas ainda maiores no setor automóvel sul-africano”.
De acordo com a Reuters, a decisão de reduzir a atividade em Colónia reflete um problema que vai além da Ford: as vendas de automóveis elétricos na Europa têm ficado bem abaixo das previsões da indústria. O preço elevado, a escassez de infraestruturas de carregamento e a instabilidade nas políticas de apoio têm travado a adesão dos consumidores. Para as construtoras, que investiram milhares de milhões na transição energética, isso traduz-se agora em pressões acrescidas para reduzir custos e ajustar as operações.
O caso da Ford ilustra os desafios que a indústria automóvel enfrenta no caminho para a eletrificação: equilibrar os elevados investimentos na nova tecnologia com uma procura que ainda não se consolidou e, ao mesmo tempo, lidar com os custos sociais das reestruturações. Para Colónia, que acolhe há quase um século uma das fábricas mais emblemáticas da marca americana, o corte de até 1.000 empregos marca mais um capítulo de uma transição que continua a ser tudo menos linear.
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