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Dono da Lello propõe baixa do IRC para empresas que aumentem 15% os salários e invistam 1% na cultura

Aumento salarial “teria um impacto estimado de 12,5 mil milhões de euros anuais na economia”, realça o grupo de Pedro Pinto, que detém “a mais bela livraria do mundo”, o Lionesa Business Hub, o Teatro Sá da Bandeira, o Mosteiro de Leça do Balio e quase uma rua no Porto.

A Livraria Lello é um dos ativos do grupo Lionesa.
A Livraria Lello é um dos ativos do grupo Lionesa. Nuno Fernandes Veiga/Correio da Manhã
09 de Outubro de 2025 às 14:59

Uma década após ter sido adquirida pelo casal Pedro Pinto, Avelino e Aurora, a Livraria Lello celebra 119 anos a vender um milhão de livros por ano e a receber 3.500 visitas por dia.

Só com as entradas - o bilhete de acesso custa 10 euros -, aquela que já foi eleita em várias ocasiões como “a mais bela livraria do mundo” amealha 35 mil euros por dia, o que dá cerca de 12,8 milhões por ano.

Dona de preciosidades como as 42 cartas de amor de Bob Dylan, correspondência do músico e Nobel da Literatura enviada à namorada de adolescência, e da biblioteca pessoal – com mais de 200 obras – de Amy Winehouse, a Lello faz parte de um portefólio diversificado de negócios da família Pedro Pinto, nas áreas de retalho, turismo, cultura e escritórios.

Uma década antes de adquirir a Lello, o grupo de Pedro Pinto arrancava, a poucos minutos do Porto, em Leça do Balio, com um centro empresarial nascido das ruínas da Fábrica de Tecidos de Seda Lionesa.

O Lionesa Business Hub é, atualmente, um dos maiores ecossistemas empresariais de Portugal, reunindo 120 empresas e ponto de passagem para mais de sete mil profissionais de 47 nacionalidades.

E tem em curso um plano de expansão em mais 110 mil metros quadrados da oferta de escritórios e espaços de restauração, assim como outros serviços à comunidade, prevendo gerar cerca de dois mil novos postos de trabalho.

Entre outros ativos, o chamado grupo Lionesa detém também o Teatro Sá da Bandeira, o Mosteiro de Leça do Balio – transformado há um ano em polo cultural – e uma série de edifícios na portuense Rua do Loureiro, que quer transformar num novo polo e turístico da cidade.

Ora, o mais forte agente cultural privado do Porto decidiu lançar um movimento em defesa de uma espécie de permuta da baixa do IRC por aumentos salariais e investimento na cultura.

“Era uma vez um país europeu que apenas competia por ter baixos salários. Esse país abriu-se, cresceu e passou a ser conhecido por ter gente de talento, territórios atrativos, força na inovação e gosto na cultura. E, no entanto...Os salários continuam baixos. Os impostos continuam altos. E a cultura continua a nem chegar a metade do tão sonhado 1% do PIB”, lê-se no arranque do manifesto “Menos IRC dá cultura e faz crescer os salários!”, a que o Negócios teve acesso.  

“Importa romper este ciclo vicioso e dele fazer um ciclo virtuoso”, considera o grupo Lionesa, que lança este movimento “pois considera imperativo respeitar as pessoas que fazem e investir na cultura que sentem”.

O grupo da família Pedro Pinto propõe ao Governo a consideração de uma medida no Orçamento de Estado para 2026 – “a redução da taxa de IRC para 15% em empresas que cumpram dois critérios essenciais: aumentarem o salário médio e o salário mínimo em 15% e investirem 1% da sua matéria coletável em cultura”.

Com esta proposta, o grupo Lionesa pretende “contribuir para a criação de um ciclo virtuoso que promova melhores salários, maior competitividade e um reforço do financiamento da cultura em Portugal”.

Lembrando que, “em 2024, o IRC ultrapassou pela primeira vez os 10 mil milhões de euros, um crescimento superior a 17%”, e que “a matéria coletável das empresas atingiu os 50 mil milhões de euros”, a Lionesa preconiza que, “se 1% desta matéria coletável fosse direcionada para a cultura, seriam garantidos 500 milhões de euros adicionais por ano — um valor equivalente ao investimento total do Estado em 2024”, observa.

Por sua vez, sublinha, “um aumento de 15% no salário mínimo permitiria ultrapassar a marca simbólica dos 1.000 euros mensais”, enquanto “um aumento de 15% no salário médio no setor privado representaria cerca de 200 euros adicionais por mês para mais de quatro milhões de trabalhadores, o que teria um impacto estimado de 12,5 mil milhões de euros anuais na economia”, assinala.

A administração do grupo Lionesa considera que “uma redução de 2,5 mil milhões de euros na receita fiscal pode ser amplamente compensada pelo impacto positivo de 500 milhões de euros adicionais para a cultura e 12,5 mil milhões de euros para as famílias e para a economia. Consideramos que é uma medida justa e equilibrada, que traz benefícios para toda a sociedade”, conclui.

Para o grupo Lionesa, esta proposta “representa um compromisso ético e económico: valorizar o trabalho, apoiar uma cultura dinâmica e contribuir para um modelo de desenvolvimento sustentável”, porquanto acredita que “ligar a política fiscal à valorização dos trabalhadores e ao investimento cultural é um caminho construtivo para o futuro do país”.

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