PCP, Livre, BE e PAN criticam "opção errada" de privatização da TAP. IL lamenta que não seja total
Os partidos de esquerda criticaram ainda "a pressa" do Governo no processo. Já a Iniciativa Liberal reiterou que a empresa devia ser totalmente detida por privados.
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PCP, Livre, BE e PAN classificaram esta quinta-feira o arranque do processo de reprivatização da TAP como "uma opção errada", questionando "a pressa" do Governo, enquanto o JPP admitiu essa via, mas disse necessitar de mais detalhes.
Em declarações aos jornalistas no parlamento, os partidos reagiram à decisão tomada hoje pelo Governo em Conselho de Ministros de iniciar o processo de reprivatização da TAP com a alienação, numa primeira fase, de 49,9% do capital da companhia aérea.
Pelo Livre, o deputado Jorge Pinto afirmou que esta decisão "embora não seja surpreendente, é errada", sobretudo porque a TAP "passou a dar lucro desde o momento que passou para a alçada pública".
"De todos os grandes projetos para o país em matérias como infraestruturas e mobilidade, o único que tem uma data anunciada -- o final da legislatura -- é o da privatização da TAP. A terceira travessia sobre o Tejo e o novo aeroporto não têm data, e o comboio de alta velocidade não tem data", apontou.
Por outro lado, de acordo com Jorge Pinto, o Governo "coloca-se numa má posição negocial" neste processo de privatização ao estabelecer um calendário para a alienação de parte do capital da transportadora área nacional.
"Porquê tanta pressa?", perguntou.
Portugal, segundo o deputado do Livre, "tem condições únicas no que diz respeito desde logo à sua população, com uma larga percentagem de população emigrada, mas também pelo facto de o território nacional integrar dois arquipélagos".
"E temos uma ligação histórica a países que foram colónias portuguesas. Tudo isto justifica a importância de ter uma companhia nacional de bandeira, algo que o Livre sempre defendeu", completou Jorge Pinto.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, questionou "a pressa do Governo" em concretizar esta privatização, que classificou de "crime económico", defendendo que é um ativo "do qual não só o Estado não se pode livrar, como deve criar condições para que tenha um papel mais ativo".
Questionado sobre o facto de o Estado manter, nesta fase, o controlo maioritário da companhia aérea, Raimundo disse "já ter visto este filme" com outras privatizações.
"De um momento para o outro, o Estado deixa de ser maioritário quando não deixa mesmo de ter uma presença", disse, considerando que o mais grave é mesmo "a opção errada de privatização da TAP".
A deputada única e coordenadora do BE, Mariana Mortágua, apresentou três argumentos pelos quais o partido se opõe a esta privatização.
"O primeiro é um argumento político e de soberania: a TAP é a única empresa que resta e ainda é portuguesa", afirmou, dando como exemplos anteriores privatizações da EDP, CTT ou Galp.
Por outro lado, destacou que a companhia aérea é "uma das empresas mais importantes para a economia portuguesa" em termos de contribuições para a Segurança Social, mas também para as exportações.
"Finalmente, o argumento financeiro: a TAP dá lucro, não queremos que aconteça o que aconteceu com o Novo Banco", afirmou, considerando que "não há nenhuma boa razão para aceitar a privatização" da companhia aérea.
A deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, pediu que seja garantida a "proteção dos trabalhadores" e defendeu que no debate do estado da nação, na próxima semana, o primeiro-ministro deve dar "respostas sobre as contrapartidas a esta privatização".
"Lamentamos a insistência e a teimosia nesta privatização porque estão a vender um dos ativos mais relevantes para o país", criticou, defendendo "uma consulta pública sobre a privatização da TAP".
Filipe Sousa, deputado único do JPP eleito pela Madeira, considerou que "quando o serviço público falha, a privatização pode ser um objetivo", mas ressalvou que é preciso conhecer o caderno de encargos e mais pormenores sobre a operação
O deputado defendeu também a necessidade de salvaguardar certas rotas, "principalmente com as regiões autónomas e a diáspora".
Em sentido contrário, a IL manifestou "profunda desilusão" com o facto de o Governo só estar a prever a privatização de 49,9% do capital da TAP, considerando que deveria ser total e alegando que até o ex-primeiro-ministro António Costa era mais ambicioso.
"Foi uma profunda desilusão. Uma desilusão para nós, mas uma desilusão também para a TAP e, sobretudo, para os portugueses que, no futuro, poderão ter de continuar a ser chamados para colocar o seu dinheiro numa companhia aérea da qual nem sequer muito deles beneficiam", afirmou o deputado da IL Mário Amorim Lopes em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.
Mário Amorim Lopes considerou que a declaração de Luís Montenegro poderia ter sido feita pelo ex-secretário-geral do PS e antigo ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos, que também era "defensor desta solução coxa para a TAP".
"Aliás, o próprio António Costa era mais ambicioso e colocava a possibilidade de haver uma privatização total da companhia aérea, que é aquilo que nós defendemos, a bem do interesse nacional, estratégico, e do bolso dos portugueses", disse.
Numa alusão à proposta do Governo para o IRS, o deputado da IL ironizou que é melhor os portugueses não gastarem "os três, quatro ou cinco euros que poderão poupar" com essa redução do imposto, porque, "no futuro, infelizmente, poderá ser necessário recorrer a esse dinheiro para, uma vez mais, injetar" na TAP.
Interrogado se teme que este venha a ser um mau negócio, Mário Amorim Lopes respondeu que sim, "porque mantém o Estado enquanto acionista e, quando o Estado continua como acionista", o que se vê "muitas vezes é interferência política, na autonomia e na gestão da TAP".
"A nossa mensagem é: deixem a TAP voar, deixem a TAP ser livre, sem o peso do Estado no porão do avião e, sobretudo, sem o dinheiro dos contribuintes nos aviões também", referiu.
Questionado sobre porque é que acha que os contribuintes terão de voltar a injetar dinheiro na TAP, Mário Amorim Lopes respondeu que, se a companhia aérea não for "financeiramente viável", o acionista maioritário, que continuará a ser o Estado, terá "novamente de acompanhar uma injeção de capital".
Sobre porque é que acha que o Governo optou por só querer alienar 49,9% do capital da TAP, o deputado da IL considerou que essa é "uma boa questão" para se fazer a Luís Montenegro.
"A nossa posição é muito clara: o Estado não tem de andar a gerir companhias aéreas em mercados livres e concorrenciais, onde existem atualmente alternativas, e tem sobretudo de acabar com a ingerência política em empresas públicas. Isto seria bom para a TAP e para os contribuintes portugueses", afirmou.
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