V2G, "power to the people": futurismo ou realidade?
Entusiastas dos carros eléctricos falam uma linguagem cifrada, sem limite de autonomia. Mas ainda falta algo para isso se tornar real
"Smart grids", "V2G", "home charging". Para os entusiastas da mobilidade eléctrica, estas são expressões óbvias. E durante os debates sobre o tema vão sendo debitadas em ritmo acelerado, sem limites de autonomia, ao contrário dos carros de que agora tanto se fala. Mas os cenários futuristas revelados em sucessivas simulações estão perto ou longe da realidade?
Nos últimos meses, Portugal tem desenvolvido a sua rede de pontos de carregamento, ligada a um modelo tecnológico que já foi concluído há mais tempo e até vislumbra uma versão 2.0. O director de inovação da Endesa, José Arrojo, sublinha que "o carro será uma primeira peça da 'smart grid' [rede eléctrica inteligente], porque armazena energia".
José Arrojo deu números de Espanha: 2 mil carros eléctricos no final deste ano, face aos actuais 1.030.
Estamos num momento semelhante ao que tiveram as companhias de telemóveis.JOSÉ ARROJO Director Investigação da Endesa
A ideia é que dentro de alguns anos o "home charging" (o carregamento na garagem de casa) sirva, além do carregamento das baterias, para o consumidor beneficiar da volatilidade da electricidade. Perspectiva-se que as "utilities" venham a ter tarifas variadas e que durante a noite o dono de um carro eléctrico possa abastecer quando o preço lhe for mais favorável. Mas também será possível, acreditam os especialistas, os carros venderem à rede alguma electricidade de que não precisem, aproveitando momentos em que a eventual escassez de energia nos parques eólicos e barragens incentive a microprodução eléctrica, em casa, com tarifas mais altas. É isso o V2G, ou "Vehicle To Grid", que Luís Reis, da Inteli, ontem referia na conferência do Negócios.
João Dias, líder do Mobi.E e assessor de Sócrates, diz que o País não pode perder esta iniciativa.
O Mobi.E pode ser o Visa da mobilidade eléctrica, porque é um sistema aberto.JOÃO DIAS Coordenador do Mobi.E
Luís Reis sublinhou que as pessoas é que vão ser a base dos novos desenvolvimentos do Mobi.E, pela informação que poderão consumir. "O futuro é começar a trabalhar e gerir esta informação dos utilizadores", diz o coordenador da área automóvel da Inteli.
O espanhol José Arrojo refere que "estamos num momento semelhante ao que tiveram as companhias de comunicações móveis", pelo rápido desenvolvimento que se espera, assente na evolução das baterias, por um lado, e na tecnologia de informação, por outro. Já Rui Avelãs Nunes, responsável pela área de energia na Critical Software, sublinhou que "é muito importante que o utilizador se sinta no controlo da informação daquilo que pode consumir, onde e quando".
Rui Avelãs Nunes considera essencial dar informação ao dono de um carro eléctrico.
É importante que o utilizador se sinta no controlo da informação daquilo que pode consumir.
RUI AVELÃS NUNES Resp. Energia da Critical Software
Agora que começa a haver carros eléctricos em massa e pontos de carregamento em várias cidades, a questão do ovo e da galinha (para um surgir é necessário o outro) começa a dissipar-se. A meta nacional vai até 2020: 200 mil carros eléctricos. Futurismo ou realidade? Os condutores portugueses o dirão.
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