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Mecanismo ibérico é "temporário", mas Governo quer manter "escape" aos preços altos

Na sua intervenção, no encerramento do seminário, a secretária de Estado deu a conhecer os "três eixos centrais para o redesenho do mercado elétrico" defendidos pelo Governo, a começar pela "estabilidade e previsibilidade, por via de contratos de longo prazo". 

secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia
secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia Pedro Catarino
26 de Janeiro de 2023 às 17:28

A secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia, garantiu esta quinta-feira que  o Governo português ainda não decidiu se, à semelhança de Espanha, irá enviar para Bruxelas um documento com as suas contribuições para a revisão do atual modelo marginalista do mercado elétrico. Esta é uma das prioridade da Comissão Europeia, que já anunciou que a  primeira proposta de reforma deverá ficar concluída até ao final de março, após um período de consulta pública que decorre neste momento, e até 13 de fevereiro.    

"Ainda não definimos. A discussão prossegue e há ainda muita reflexão a fazer, por parte de todos os intervenientes do setor elétrico. Conhecemos todos os princípios centrais, mas a dificuldade vai ser definir os detalhes concretos das propostas. Até 13 de fevereiro vamos todos refletir, enviar comentários à Comissão e ver o que daí resulta", disse a governante em resposta às questões dos jornalistas, à margem do seminário "Perspetivas para o Desenho do Mercado Elétrico", organizado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). 

Durante o debate foram várias as vozes do setor elétrico a pedir para que Portugal se manifeste oficial e publicamente junto de Bruxelas - tal como outros países já o fizeram, entre eles Espanha, França e a Grécia - para fazer valer a sua posição e as suas propostas concretas quanto a uma reforma do mercado elétrico. 

Na sua intervenção, no encerramento do seminário, a secretária de Estado deu então a conhecer os "três eixos centrais para o redesenho do mercado elétrico" defendidos pelo Governo, a começar pela "estabilidade e previsibilidade, por via de contratos de longo prazo". 

"Esse tem sido o modelo seguido em Portugal. Representa cerca de 40% da produção, por via de tarifas fixas e por via dos leilões. Durante a atual crise, assegurou um mercado mais resiliente, menos volátil, com maior proteção aos consumidores", explicou Ana Fontoura Gouveia.

No entanto, "ao invés da imposição de contratos a prazo – contratos por diferença (CfD) ou de compra e venda de energia (PPA) - à totalidade do mercado, defendemos a definição de um limiar mínimo de contratualização a prazo, suavizando flutuações e protegendo os consumidores", revelou.

Além disso, defendeu, o modelo de contratos de longo prazo escolhido por Bruxelas para o futuro "não pode ignorar que o ponto de partida de cada país é muito díspar", lembrando que em 2022 Portugal alcançou 57% da produção a partir de renováveis e tem como meta chegar aos 80% já em 2026.

"Os incentivos necessários no nosso país são, em resultado dos investimentos passados, diferentes dos que têm de existir em países que começaram este caminho mais tarde. Os custos – e ganhos – das escolhas nacionais têm de se refletir à escala nacional, excluindo por isso caminhos de ajustamento via mercado", clarificou.

O segundo eixo da proposta nacional está relacionado com os mercados de curto prazo, diário e intradiário. "A contratação a prazo suavizará o impacto da eventual volatilidade nos mercados spot", prevê a secretária de Estado, sem descartar a existência de "cláusulas de escape" que possam ser ativadas e coloquem um tecto nos preços de mercado de forma a "responder a situações atípicas, sem colocar em causa o funcionamento do mercado".

Aqui, Ana Fontoura Gouveia referiu-se ao mecanismo ibérico, que Espanha quer prolongar até ao final de 2024, com Portugal a sublinhar, por seu lado, a "natureza temporária" da medida, "de resposta a uma situação excecional". A Comissão Europeia já deixou bem claro que, a haver luz verde para a sua extensão além de maio de 2023, o mercanismo ibérico só poderá ir até ao final deste ano.  

"Estamos a colaborar com Espanha para termos uma posição conjunta e com as autoridades da Comissão Europeia também, para assegurar que o processo chegará a bom porto. Portugal e Espanha estão alinhados. O que ambos os paíse pretendem é assegurar que o mecanismo vigore além de maio de 2023. Creio que a Comissão Europeia também estará alinhada com esta vontade", disse ainda a governante à margem do evento da ERSE.  

Sobre o terceiro eixo da posição portuguesa, este diz respeito à "promoção da resiliência do sistema elétrico, como parte integrante do redesenho do modelo de mercado".

"Devemos assegurar um mix diversificado de produção. Em 2022, 30% da eletricidade foi produzida a partir de eólica, 15% de hídrica (com os constrangimentos que conhecemos), 8% de bionenergia e 6% de solar. É um caminho que temos de prosseguir, explorando complementaridades intradiárias, sazonais e de disponibilidade", disse a secretária de Estado, reforçando a importância das interligações físicas entre países, tanto de gases renováveis como de eletricidade.

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