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Desafios além-fronteiras

"[O INOV Contacto] foi o único projecto em que me senti realmente bem e onde achei que poderia ser útil", afirma Bruno Teixeira, citado no sítio do INOV Contacto. "Este intercâmbio e experiência são um bom contributo para que a engenharia portuguesa...

10 de Setembro de 2009 às 15:31

São jovens licenciados e decidiram tentar a sua sorte em estágios no estrangeiro. Conheça três histórias que passam pela Suíça, Líbia e Estados Unidos da América.

"[O INOV Contacto] foi o único projecto em que me senti realmente bem e onde achei que poderia ser útil", afirma Bruno Teixeira, citado no sítio do INOV Contacto. "Este intercâmbio e experiência são um bom contributo para que a engenharia portuguesa esteja mais próxima do que se faz no resto do mundo, assim como para a difusão do que há de bom na engenharia portuguesa", acrescenta José Santos, engenheiro civil sénior, também citado no "site" do programa.

Mónica Correia, César Marques e Diana Domingos são três dos licenciados portugueses que participaram na última edição do INOV Contacto. Suíça, Líbia e Estados Unidos foram os seus destinos e contaram ao Negócios as suas experiências, o que planeiam para o futuro e o que mudou nas suas vidas (ver textos nestas páginas).

"O INOV Contacto - Estágios internacionais para Jovens Quadros - é um programa para recém-licenciados e visa complementar a formação universitária e promover a sua inserção laboral.

Materializa-se através de um estágio internacional de seis meses em empresas nacionais e estrangeiras de referência, permitindo aos estagiários contactar com as melhores práticas de gestão e 'marketing' internacional", explica Basílio Horta, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, AICEP Portugal Global, entidade gestora do programa. O INOV Contacto é uma iniciativa promovida pelo Ministério da Economia e da Inovação, apoiado pela União Europeia e pelo quadro de referência estratégico nacional (QREN)/programa operacional do potencial humano (POPH), gerido pela AICEP.

São 2.155, os estagiários que já passaram pela experiência internacional do INOV Contacto, desde 1997. Só candidaturas, a AICEP recebeu cerca de 30 mil, em 12 anos. No final de Julho passado, terminou uma edição que contou com 375 "contacteantes", como são tratados os jovens que participam.

Todos aqueles que têm até 30 anos, inclusive, com licenciatura terminada e que se encontrem sem emprego à data de entrada no programa, podem candidatar-se. No que toca à adesão, Basílio Horta escolhe uma palavra para defini-la: "excelente". "A comprová-la está a adesão à próxima - a iniciar em Novembro - em que já se candidataram cerca de 2.500 recém-licenciados, para o preenchimento de 550 vagas. "Também que as entidades de referência, quer nacionais quer estrangeiras, pretendem, em cada nova edição, acolher um maior número de estagiários e envolvê-los em projectos de elevado interesse e potencial, em mercados de desenvolvimento", acrescenta.

Cerca de 50% dos estagiários são convidados a ficar nas entidades que os acolheram, como aconteceu com César Marques, um dos casos reais citado pelo Negócios. Aproximadamente 55% aceita este convite. De acordo com Basílio Horta, a selecção é feita por uma entidade externa previamente escolhida para o efeito, garantindo a total isenção e independência do processo.

Quanto à mais-valia que este programa pode trazer aos jovens, Basílio Horta afirma que o INOV Contacto lhes disponibiliza uma experiência "enriquecedora, num contexto internacional" e permite-lhes um "desenvolvimento profissional de forma única", como os próprios testemunham. "Em média, cerca de 93% dos estagiários revela que a experiência de terem integrado este programa é extremamente positiva, referindo a maioria que este estágio lhes permitiu alcançar mais-valias e oportunidades pessoais e profissionais, que de outra forma nunca estariam ao seu alcance", conclui o presidente da AICEP Portugal Global.

Tome nota

1 Quanto tempo?

O programa dura entre seis a n ove meses e é composto por três fases: a primeira consiste num curso de práticas internacionais, designado por "Estágio em Portugal". A segunda é o estágio remunerado no estrangeiro, onde os formandos são preparados para a vida activa e actualizam uma rede de contactos e conhecimentos nos mercados internacionais. A última fase é o apoio à integração.

2 Quem pode concorrer?

São aceites candidaturas de todas as formações académicas incluídas no formulário de inscrição disponível no sítio http://www.live.networkcontacto.com/, embora sejam consideradas preferenciais as áreas de formação em gestão, economia, "marketing", engenharias, tecnologias de informação, redes, telecomunicações (incluindo matemática aplicada, engenharia informática, entre outros).

3 A que tem direito?

A AICEP atribui aos estagiários uma bolsa mensal equivalente a duas vezes o "indexante de apoios sociais". Na segunda fase de estágio, esta bolsa é complementada com um subsídio de alimentação e alojamento, calculado de acordo com o índice de custo de vida da ONU, variando consoante o mercado de acolhimento. Há um seguro de acidentes de trabalho durante o estágio e um seguro mundial de saúde, durante o período de residência no estrangeiro, nos países onde não existe reciprocidade de cuidados médicos. A viagem de ida e volta, entre Portugal e o local de estágio, é paga pela AICEP.

1 Quanto tempo?

O programa dura entre seis a n ove meses e é composto por três fases: a primeira consiste num curso de práticas internacionais, designado por "Estágio em Portugal". A segunda é o estágio remunerado no estrangeiro, onde os formandos são preparados para a vida activa e actualizam uma rede de contactos e conhecimentos nos mercados internacionais. A última fase é o apoio à integração.

2 Quem pode concorrer?

São aceites candidaturas de todas as formações académicas incluídas no formulário de inscrição disponível no sítio http://www.live.networkcontacto.com/, embora sejam consideradas preferenciais as áreas de formação em gestão, economia, "marketing", engenharias, tecnologias de informação, redes, telecomunicações (incluindo matemática aplicada, engenharia informática, entre outros).

3 A que tem direito?

Onde vai estar Mónica daqui a três anos?

Mudou-se do Porto para Genebra, na Suíça, para dar a cara pelo BES. Pela primeira vez, a licenciada em gestão sentiu-se não só portuguesa, mas também europeia.

Mónica Correia, licenciada em gestão, estagiou no Banco Espírito Santo, em Genebra. Gostou da experiência e afirma que o contacto com a banca lhe fez ficar com vontade de fazer carreira no sector.
Mónica Gameiro Correia é licenciada em Gestão, pela Universidade da Beira Interior e candidatou-se ao programa INOV Contacto em Agosto de 2008. A recém-licenciada trabalhava como gestora de "stocks" das lojas internacionais Parfois, marca portuguesa de acessórios de moda, quando arrumou as malas em direcção a Genebra, Suíça.

"Eu despedi-me para ir para o INOV Contacto. Foi uma experiência fantástica, muito enriquecedora em termos pessoais e profissionais. Pena foi ficar no desemprego, mas também tenho um 'background' muito maior, por isso valeu muito a pena", diz. A candidatura começou em Agosto do ano passado, mas só a meio de Dezembro soube para onde ia. "Candidatámo-nos em Agosto, depois recebemos os testes psicotécnicos pela Internet. Em Outubro, chamaram-nos para fazer dinâmicas de grupo e só em Novembro soube que fui seleccionada. Depois, tivemos uma formação de cinco dias em Lisboa, e foi aí que soubemos para onde íamos", explica Mónica Correia.

O destino da licenciada em gestão, natural de Coimbra, foi o Banco Espírito Santo (BES). "De início, foi um bocado complicado arranjar casa. O representante do BES em Genebra, Francisco Andrade, ajudou-me neste processo, deu-me conhecimento a nível da actividade do banco e sobre a integração na comunidade portuguesa. O AICEP também nos dá dois meses de salário logo no início.", diz a "contacteante". Não foi tarefa fácil encontrar um quarto em Genebra. "As pessoas do banco ajudaram-me imenso, mas foi muito complicado. Nem sequer podia alugar casa, porque tinha um visto inferior a um ano. Então, aluguei um quarto. O banco pagou-me duas semanas de hotel, mas a maior parte dos meus colegas teve de pagar do bolso deles."

Da experiência no BES, Mónica Correia tira lições positivas. "Gostei muito, despedi-me [da Parfois], porque queria uma experiência internacional e achei que o INOV Contacto era a opção mais credível. Lá, deram-me apoio, também acho que dei um bom contributo ao banco, segundo o que me disseram. Só é pena a impossibilidade de continuar o meu trabalho. Gostava de ter lá ficado", acrescenta Mónica Correia.

No BES, começou por fazer um estudo de mercado para desenvolver novas estratégicas a nível da captação de novos clientes e novas formas de publicidade. "Entrevistei cerca de 750 portugueses. Foi bastante interessante, porque este estudo permitiu-me conhecer a emigração portuguesa. Numa segunda fase, passei para a área comercial. Em Maio, a abertura de contas e aplicações já tinha aumentado", comenta. O dia de trabalho de Mónica Correia começava às 9h30 e terminava às 18h30.

Quanto ao futuro, tudo permanece incerto para Mónica Correia. O facto de estar desempregada e ter chegado numa altura "complicada" deixa cair-lhe as expectativas. O estágio de cinco meses também não deu para usufruir como Mónica gostaria. "Antes, os estágios eram de nove meses. Agora, são só cinco, tendo em conta que passei dois meses à procura de casa, os três meses que restam não são quase nada." Por agora, ficou o gosto por trabalhar em bancos.

Salvo por Rui Costa

Estava a preparar o regresso à Líbia, quando o Negócios o entrevistou. Na bagagem, César Marques leva um contrato de trabalho de um ano.

A César Marques calhou a Líbia, um dos destinos "exóticos" entre aqueles que esperavam os jovens licenciados que se candidataram ao INOV Contacto. Apreciou a experiência e regressou.
"O futebol é uma grande linguagem universal. Consegue-se manter um diálogo com um árabe durante 10 minutos só a dizer nomes de jogadores e equipas", comenta César Marques, a propósito do dia em que quase foi impedido de entrar num edifício na Líbia, por não levar a sua identificação. Entre conversas com a polícia, bastou-lhe acertar no nome de Rui Costa para que se pudesse juntar ao seu colega português. "Eles gostam muito dos portugueses, mas não fazem ideia de onde Portugal fica, é só por causa do futebol."

O choque cultural que viveu na Líbia dá "pano para mangas". A César Marques não lhe faltam histórias que prendam o ouvinte à conversa. "Quando me disseram que ia para a Líbia, não fazia a mínima ideia de onde ficava. Fui o segundo a saber que ia para lá. Achei que seria interessante e motivador. Naquela semana, eles fazem uma espécie de lavagem ao cérebro e qualquer sítio é bom. E, naquela altura, Guiné e Líbia, eram os destinos mais 'exóticos', aqueles para onde ninguém queria ir", explica.

César Marques acabou por estagiar na Consulgal, empresa de consultores de engenharia e gestão, com representação no exterior, mas a chegada ao INOV Contacto não foi comum. "Eu já me tinha candidatado na penúltima edição, no C12 [Contacto, edição 12], mas não houve vaga para mim e fui automaticamente inscrito no programa seguinte, o C13. Depois, não tive de fazer novamente os exames, bastou-me ir acompanhando os prazos pela Internet. "

Foram quatro os portugueses que rumaram até àquele país, que pensavam ser o Dubai de África. "Chegámos lá à noite e fomos de táxi para o hotel. Essa viagem desmotivou-me muito: a estrada para o hotel, na capital, não tinha iluminação nem alcatrão, estava tudo sujo, com lixo e sacos plásticos no chão. Tudo o que se possa imaginar, estava na rua. Mas nunca tive vontade de vir embora, só mais para o fim", diz César.

Quanto ao trabalho, foi gratificante e o arquitecto, de 29 anos, aceitou a proposta de voltar para lá. "O trabalho na empresa foi muito motivante, eu não estava habituado a reuniões e a ter de andar de fato. Às vezes, chegávamos a ter cerca de seis reuniões por dia, em sítios diferentes. E, como nós não podemos conduzir, íamos sempre a pé ou de táxi." A entrada no INOV Contacto foi atribulada, mas valeu a pena. "Fizeram-me uma proposta para ficar lá e eu aceitei.

Vou lá ficar, no mínimo, seis meses. As condições que me deram permitem-me vir a Portugal de três em três meses. Em Setembro, vou ter de voltar e depois venho também na altura do Natal. "

A crise parece ter passado ao lado do pais de acolhimento de César Marques. "A Líbia, neste momento, é um mercado aberto a muitas empresas. É um país que promete muito e que tem muito dinheiro. É um mercado muito virgem em termos de construção civil. Eles não têm um centro comercial como deve ser, por exemplo. Não têm cinemas, não têm bares. A partir das 23 horas, ninguém anda na rua."

Para terminar, César conta mais uma história caricata. "Éramos três, num táxi, a caminho do aeroporto e o taxista começa a falar com o Alex [outro português, colega de César]. A certa altura, já se começa a entender o que é que algumas palavras querem dizer e eu comecei a perceber que ele precisava de cinco minutos para rezar. Então, parou o carro, foi à mesquita e nós ficámos lá à espera dele. Os taxistas param para ir comprar tudo: tabaco, água, até pizzas, e para cumprimentar amigos. Quando ele voltou, o carro não pegava e lá fomos nós a empurrar o carro", termina. Alguns dias após esta entrevista, César Marques voltava para a "cidade dos sacos plásticos", Tripoli, capital da Líbia.

"Seis meses a 100 à hora"

A Cisco, nos Estados Unidos da América, foi a última paragem da vida de Diana Domingos. Resta saber, para onde a levará agora.

Diana Domingos foi estagiar para a Cisco, nos Estados Unidos. Confessa que viveu a "cem à hora" e que trabalhou num ambiente marcado pela eficiência e profissionalismo.
Diana Domingos tem 29 anos, é natural de Águeda, no distrito de Aveiro, e licenciada em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, pela Universidade de Coimbra. Em Agosto do ano passado, candidatou-se ao programa INOV Contacto. A engenheira electrotécnica e de computadores já tinha acabado a sua licenciatura em 2007, mas encontrava-se à procura de emprego quando decidiu participar no programa. "Soube da existência do programa por amigos", explica ao Negócios Diana Domingos. À decisão de fazer as malas e rumar ao outro lado do Atlântico, contribuiu a ansiedade em viver outras experiências. "Candidatei-me em Agosto de 2008, porque estava à procura de novas experiências profissionais e pessoais", confessa a licenciada de 29 anos.

A empresa que a acolheu na terra do "Tio Sam" foi a Cisco, a multinacional tecnológica com sede em São José, no estado da Califórnia. Durante seis meses, Diana Domingos viveu o sonho de muitos estudantes: "o estágio correu bem, o ambiente de trabalho é único, muito informal, as pessoas são muito prestáveis e competentes. Correspondeu às minhas expectativas", diz.

Agora, Diana Domingos, tem um futuro à espera e considera que esta experiência pode ter aberto portas na sua vida profissional. "Lidei com um mercado de trabalho completamente diferente do nosso. Estou mais à vontade com novos hábitos", comenta a licenciada em engenharia electrotécnica e de computadores.

Aos futuros "contacteantes" ou a todos aqueles que ponderem candidatar-se ao programa gerido pela AICEP Portugal Global, a jovem, natural de Águeda, recomenda: "que avancem sem receio, pois é uma experiência única". Descrever este capítulo de uma vida não é fácil, mas Diana Domingos não hesita. Quando o Negócios lhe propõe que diga uma frase que resuma a sua experiência, a resposta é "seis meses vividos a 100 à hora".

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