Melhor do mundo tem sotaque do Norte
Que traço comum terão a ponte Luíz I, no Porto, o Metro de São Paulo, o comboio de alta velocidade holandês, a ponte Anzo II, em Espanha, e a barragem de Curitiba, no Brasil? Todos são projectos de monitorização da responsabilidade da...
FiberSensing
A FiberSensing prova que vender 100% português também pode ser sinónimo de liderança à escala global. O segredo? Trabalho, trabalho e mais trabalho.
Que traço comum terão a ponte Luíz I, no Porto, o Metro de São Paulo, o comboio de alta velocidade holandês, a ponte Anzo II, em Espanha, e a barragem de Curitiba, no Brasil? Todos são projectos de monitorização da responsabilidade da FiberSensing (FS), uma empresa portuguesa que nasceu no Porto e hoje assina obras nos dois hemisférios do globo.
Passados cinco anos desde a sua criação, é líder global no desenvolvimento, produção e comercialização de sistemas avançados de monitorização baseados em sensores de Bragg (ver caixa) - considerado, actualmente, como um dos meios mais fiáveis de monitorizar a integridade de estruturas tão complexas como pontes, barragens, túneis, caminhos de ferro, tanques de combustível em aeronaves, cabos de alta tensão, poços de petróleo ou geradores de elevada potência.
É uma espécie de último grito da tecnologia que destronou para sempre os sensores convencionais antes utilizados pelos sectores seus clientes: engenharia civil, geotecnia, transportes, indústria aeroespacial e energia.
Passar o portão dourado do sucesso era o risco que corriam os quatro investigadores do INESC Porto: Francisco Araújo, Luís Ferreira, Alberto Maia, José Luís Santos, todos na direcção da empresa excepto o último que optou pela vida académica, quando, em Abril de 2004, fundaram a empresa. Sem alquimias ou fornos sagrados, o 'ouro' da FS foi fruto do esforço de investigação e desenvolvimento dos sensores de Bragg, em fibra óptica, por eles realizado ao longo de mais de uma década. E quando passa a existir no INESC "know-how" para avançar com a criação de uma empresa, surgiu a oportunidade de lançar o projecto com recursos financeiros adequados, equipa, objectivos e prazos bem definidos.
Primeiro, os protótipos
Foi o que fizeram para, antes de mais, desenvolver um conjunto de protótipos pré-industriais que permitisse encarar com confiança a transferência da tecnologia, a capitalização do "know-how" existente em termos de propriedade intelectual e, em última análise, a criação de riqueza - objectivos essenciais de uma empresa "spin-off" como a FS.
Uma empresa de alto nível tecnológico como esta só seria realizável com um financiamento à altura. O desígnio torna-se possível com a associação de diversos investidores: aos promotores e ao INESC Porto, juntaram-se IAPMEI e PME Capital, financiando o arranque do projecto, ou seja, o tal desenvolvimento de protótipos demonstradores. Custariam qualquer coisa como 650 mil euros.
Numa segunda fase, já com um novo investidor, a PME Investimentos, deu-se a passagem à fase de industrialização e, nos finais de 2005, começa o ataque aos mercados-alvo. Sucederam-se acções de divulgação desta tecnologia que, sendo inovadora, seria de penetração difícil em mercados conservadores - como o da engenharia civil. Ficou claro que não seria possível restringir as operações a Portugal, até porque era uma das poucas empresas a operar nesta área a nível mundial e devia aproveitar essa oportunidade.
Obstáculos, mais do que muitos
E como é que uma pequena empresa lusa assume um posicionamento global e 'ataca' diferentes mercados sem ter implementado ainda uma máquina comercial com capacidade? Os promotores também se perguntaram o mesmo. E a esta questão acrescentaram-se outras levantadas pela própria industrialização da tecnologia. O processo produtivo teria que ser capaz de garantir a reprodutibilidade de características a todos os sensores e unidades de medição fabricados.
Foi necessário realizar um conjunto de testes de fiabilidade sem esquecer, claro, o custo. Chegar ao mercado com uma nova tecnologia com vantagens face à convencional, não bastava.
O custo final por sensor tinha que ser competitivo. Seriam precisos dois anos para garantir que todos estes predicados estavam assegurados. Só então os produtos da FS chegaram "à rua". Hoje, os "standard" custam entre 125 euros (o sensor mais simples) e os 30 mil euros (a unidade de medição mais complexa).
As soluções completas ou os projectos de monitorização (que envolvam instalação) chegam a várias centenas de milhar de euros. E o negócio tem corrido bem à FS. Desde a sua fundação, a facturação cresceu 60% a 100% ao ano e, não fora a crise, os seus responsáveis afirmam que teria correria melhor (ver caixa). Acreditam que 2010 será o ano em que a empresa atingirá três milhões de euros.
Bilhete de identidade
Fundação 2004
Actividade Desenvolvimento, produção e comercialização de sistemas avançados de monitorização baseados em sensores de Bragg
Capital Social 2,4 milhões de euros
Site www.fibersensing.com
Accionistas InovCapital: 78.8%, INESC Porto: 8.8%, FSCR PME-IAPMEI: 8.8%, Promotores individuais: 3.6%
Facturação 2009: 1.45 milhões de euros
Apostar na Energia como fuga à crise
A FiberSensing emprega 35 pessoas e está localizada paredes de meias com o Aeroporto Internacional do Porto. Não é por acaso. Não só tem parceiros espalhados pelo mundo (como a Airbus ou a Agência Espacial Europeia), como a maioria dos seus clientes estão lá fora: EUA, Brasil, Espanha, Alemanha, Suíça, França, Grécia, Itália, Hungria, Taiwan e Colômbia. Os negócios no estrangeiro ocupam 83,6% no total da facturação. Por isso, a empresa sofreu com a crise global que afectou os mercados e, em particular, o da engenharia civil. Em 2009 a facturação desceu 11% face a 2008 (de 1,6 milhões para 1.45 milhões de euros), obrigando a empresa a repensar as suas áreas de intervenção. Resolveu apostar nos mercados da produção e distribuição de Energia, não só pelo potencial da tecnologia neste tipo de aplicações mas também porque foi um dos segmentos mais imunes à crise. Consolidar esta aposta no sentido de se tornar a empresa líder mundial nesta área a médio/longo prazo é um objectivo claro.
O que é uma rede de Bragg?
Foi na Rua José Falcão, nas antigas instalações do Centro de Optoelectrónica do INESC Porto, que a primeira rede de Bragg em fibra óptica foi escrita - em toda a Península Ibérica -, por Francisco Araújo. Estava-se em 1994, corria o mês de Abril. Esta rede de Bragg em fibra óptica seria, essencialmente, uma microestrutura (com oito milímetros de comprido e 0,125 milímetros de diâmetro) que podia ser inscrita de forma permanente na fibra utilizando radiação "laser" ultravioleta. Estes dispositivos actuam como espelhos selectivos, isto é, reflectem luz com apenas uma "cor" quando são iluminados por uma fonte óptica "multicor". A "cor" da luz reflectida é alterada quando a fibra óptica é submetida a variações de temperatura ou a deformação, sendo esta a base da utilização das redes de Bragg como sensores.
Mais lidas