Banca europeia a caminho do melhor setembro desde 1997. BCP destoa
O setor da banca na Europa encaminha-se para a maior valorização mensal em setembro das últimas duas décadas, com apoio do BCE. No entanto, o português BCP contrariou a tendência. O caso Thomas Cook pode prejudicar mais o banco português.
O ano de 2019 está a ser atípico para a banca na Europa. O cenário de taxas de juro negativas imposto pelos bancos centrais para fazer face ao abrandamento económico global tem prejudicado o setor que acumula uma descida de 0,9% desde o início do ano.
Excluindo o mês de setembro, a queda do Stoxx 600 da banca ganha outros contornos com uma descida de quase 9%. Até agosto, só o índice da banca e o das telecomunicações – com uma desvalorização ligeira de 0,9% - perderam valor.
No entanto, setembro provocou uma reviravolta no setor, que escalou 9%, a maior subida mensal em setembro, desde 1997. Até 12 de setembro, altura da reunião do Banco Central Europeu, a subida foi mais evidenciada, com a expectativa de que Mario Draghi lançasse um pacote de estímulos, mas que fosse capaz de proteger a banca, a dar força ao setor.
E tal aconteceu: a 12 de setembro, Draghi, para além de avançar com um novo programa de compra de ativos e de tornar a taxa dos depósitos ainda mais negativa (passou de -0,40%, para -0,50%), disponibilizou uma bengala para a banca chamada "tiering", ou escalonamento, com o objetivo de proteger o setor das taxas negativas.
"O setor da banca na Europa beneficiou muito este mês com as reuniões do BCE e também com a da Reserva Federal dos EUA", disse Gualter Pacheco, trader da Go Bulling, do Banco Carregosa, acrescentando que "o corte, quer num lado, quer no outro, foi menos agressivo do que o mercado esperava".
A apoiar esta subida do setor geral na Europa no mês de setembro estiveram os bancos espanhóis CaixaBank (+17,58%) e Sabadell (+16,37%), mas também o suíço Julius Baer (+17,47%) e o irlandês AIB Group (+16,96%).
A par da queda anual do setor da banca está também a queda nas taxas de juro da Zona Euro. A Bund alemã a 10 anos, referência para a região, caiu para -0,702% no final de agosto. No entanto, em setembro a taxa de juro germânica subiu para -0,584%.
BCP contraria tendência. Analistas preveem que falência da Thomas Cook prejudique ainda mais
Apesar da boa prestação geral da banca europeia, o português BCP destoou face aos pares europeus. Em setembro, o banco liderado por Miguel Maya desvalorizou 2,74% para os 0,188 euros por ação. No ano de 2019 como um todo, o banco perdeu 17% do valor.
No entanto, há um fator que pode prejudicar ainda mais as ações do banco. Para Carla Maia Santos, trader da XTB, a falência da Thomas Cook, na passada segunda-feira, pode vir a prejudicar ainda mais a cotada. A holding chinesa Fosun, maior acionista da transportadora aérea, é também a maior acionista do BCP. Como tal, a falência de um ativo da empresa pode prejudicar os restantes.
"A agravar a estas notícias, esteve a falência da Thomas Cook, empresa detida pela Fosun, a maior acionista do BCP. Os investidores colocam assim a possibilidade de a Fosun ter que vender parte da sua posição no BCP, podendo levar o BCP a maiores quedas", disse a trader."Este mês, o BCP contrariou a tendência europeia devido a notícias internas. Por um lado as notícias vindas da Polónia, o BCP adquiriu o Eurobank e existe uma controvérsia da conversão em zlótis dos empréstimos contraídos em francos suíços a ser analisado pelo Tribunal de Justiça Europeu, por outro lado a notícia de ter que pagar coimas por práticas restritivas da concorrência no mercado de crédito", acrescenta.
Primeiro, a Autoridade da Concorrência condenou 14 bancos ao pagamento de coimas por prática concertada de troca de informação comercial sensível. No caso do BCP, o banco revelou que a coima que lhe foi aplicada ascende a 60 milhões de euros. Mais tarde, um dia após a decisão do BCE, o banco tocou em máximos de 9 de agosto, tirando partido do facto de o BCE ter também anunciado medidas destinadas a apoiar o setor financeiro, como o "tiering". Depois, da Polónia, onde o BCP detém 50% do Millennium Bank, vieram os receios dos investidores sobre o impacto do caso dos "frankowicze", já que se espera uma decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre a conversão em zlótis dos empréstimos contraídos em francos suíços para o dia 3 de outubro. Também a pressionar, uns dias depois, estiveram os comentários de
No entanto, ontem, depois de quatro sessões de fortes quedas, o BCP disparou quase 7%. Veio novamente à baila o caso dos "frankowicze", depois de o banco central da Polónia ter garantido esta quinta-feira que o setor bancário do país está "totalmente preparado" para a decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia sobre a conversão em zlótis dos empréstimos contraídos em francos suíços.
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