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Investir em câmbios sem aniquilar as poupanças

"Não há romantismos no mercado cambial. A maioria das pessoas vai perder dinheiro, muito dinheiro". A sentença é dada por Filipe Garcia, economista da IMF, especializado no investimento em câmbios. E vai mais longe. "A personalidade de cada um...

26 de Fevereiro de 2010 às 09:30

O investimento no mercado de câmbios é altamente arriscado e exigente. Mas quem domina a arte consegue altos retornos. Saiba como minimizar os riscos.

"Não há romantismos no mercado cambial. A maioria das pessoas vai perder dinheiro, muito dinheiro". A sentença é dada por Filipe Garcia, economista da IMF, especializado no investimento em câmbios. E vai mais longe. "A personalidade de cada um vem ao de cima quando se investe neste segmento: a teimosia, a diligência (ou não), a disciplina, a vingança, a ganância....". Enfim, quase se poderia dizer que os sete pecados mortais moram aqui.

Este não é, claramente, um mercado para investidores inexperientes e pouco informados. O cambial é dos segmentos de negociação mais exigentes que existe. Aqui, é essencial haver uma disponibilidade permanente para acompanhar os investimentos, ter conhecimentos sofisticados sobre o funcionamento do mercado, utilizar os mecanismos de controlo do risco, saber lidar com investimentos alavancados e ter nervos de aço.

Controlo de emoções

Para perceber se está a ir além dos seus limites de pressão, há uma máxima a não descurar, salienta Duarte Caldas, do IG Markets: "Trade to your sleeping point" (negoceie só até ao ponto em que a preocupação lhe retira o sono). "O maior risco do mercado cambial é não reconhecer os riscos" que lhe estão associados, avisa Carlos Almeida, da direcção de investimentos do Best.

O grande perigo do mercado cambial, o mais líquido do mundo, é que "a maioria dos investidores não compreendem os mecanismos de alavancagem. Entrar numa posição é fácil, sair é bem mais difícil", alerta Filipe Garcia. Mas é exactamente o seu principal risco que lhe confere o maior ponto de atracção aos investidores mais aventureiros e dispostos a correr riscos, reconhecem os seis especialistas contactados pelo Negócios. Sobretudo se utilizarem os instrumentos mais sofisticados para negociar Forex: os produtos derivados (futuros, opções, CFD)

Comecemos pelo princípio. No câmbio estão sempre em jogo duas divisas, como o euro/dólar ou dólar/iene. Isto significa que sempre que há a compra de uma moeda, está automaticamente a vender-se a outra. Os câmbios são sempre negociados à quarta casa decimal. Se um euro vale 1,3499 dólares, então a variação mínima, para cima ou para baixo, será de 0,0001 dólares. Entre os especialistas este movimento é denominado por "pip".

Mecânica dos câmbios

Se um investidor acredita que o dólar vai valorizar face ao euro, irá ao mercado comprar dólares. Então terá que se questionar: Se me financiar em 100 mil euros, por exemplo, quantos dólares preciso de comprar? Se o euro estiver a cotar nos 1,3650 dólares, então, abre a posição comprando 136.500 dólares no mercado. Admitindo que a expectativa do investidor se confirma e o dólar valoriza, então um euro passa a comprar apenas 1,3550 dólares. Logo, para pagar o empréstimo de 100 mil euros já só serão necessários 135.500 dólares. Assim, o investidor fecha posição. Isto é, vende os dólares (compra euros) e paga o empréstimo em euros. Sobram-lhe 1.000 dólares: o lucro da transacção.

Multiplicar ganhos e perdas

A vantagem ao apostar utilizando instrumentos financeiros alavancados é que basta ter na sua conta um montante de 1.000 euros para na prática estar a investir (ter uma exposição de) 100 mil euros. Isto porque no Forex a alavancagem máxima pode chegar a ser de 100 vezes face ao investimento inicial. Tudo depende da margem escolhida para o negócio: Uma margem de 1% (percentagem de capital próprio face à exposição no mercado) implica uma alavancagem de 100 vezes, uma margem de 2% implica um multiplicador de 50 vezes.

"É um suicídio abrir uma conta com 1.000 euros e negociar 100 mil euros", avisa Duarte Caldas. Também Carlos Almeida defende que, o grau de risco assumido deve ser ponderado: "Não é nada recomendável que se façam investimentos superiores a 40% a 60% do capital próprio".

O melhor mesmo, afirmam os especialistas é manter a ponderação no nível de risco assumido. Isto num mercado em que, num ápice, o investimento pode desaparecer.

Accionar o controlo de danos

O Forex funciona com a denominada "negociação em margem". Ou seja, face a oscilações cambiais desfavoráveis, os investidores têm que reforçar as suas contas margem com montantes que permitam cobrir as perdas potenciais. E, no limite, sempre que a corretora considerar que a margem se está a aproximar de um limite de risco - em que o cliente pode perder mais do que o montante disponível -, pode por sua iniciativa fechar a posição do investidor. Desta forma minimiza os riscos de investimento. "No mercado cambial é fundamental a utilização de ferramentas de controlo de risco", explica Rui Broega, do BIG. Tanto para a protecção do património do investidor como da própria corretora. Mas a intervenção da corretora ocorre no limite. Deve ser o próprio investidor a colocar limites às perdas potenciais, aplicando mecanismos de controlo de risco como os de "stop loss".

Quanto aos custos. Cada caso é um caso. De um modo geral, a comissão das corretoras está nos "spreads" entre o preço de compra e venda das divisas. Mas há casos em que, além disso, há lugar ao pagamento de uma comissão fixa ou de uma percentagem sobre o montante de investimento. Mas há outro custo a ter em conta, lembra Bruno Costa, "trader" da GoBulling. Quando se investe numa moeda está, implicitamente, tem que pagar juros sobre a divisa em que se financia e recebe juros sobre a moeda em investe. Logo, em cada dia em que a posição é mantida em aberto há lugar ao pagamento (ou recebimento) do diferencial de juros. E, por isso, o preço de entrada no negócio é reajustado diariamente para incorporar esse diferencial.

Dada a complexidade envolvida, Carlos Almeida, considera que do montante total que um investidor tenha para aplicações de risco, "não se deve colocar mais de 10% a 20% no mercado cambial".

O Forex funciona com a denominada "negociação em margem". Ou seja, face a oscilações cambiais desfavoráveis, os investidores têm que reforçar as suas contas margem com montantes que permitam cobrir as perdas potenciais. E, no limite, sempre que a corretora considerar que a margem se está a aproximar de um limite de risco - em que o cliente pode perder mais do que o montante disponível -, pode por sua iniciativa fechar a posição do investidor. Desta forma minimiza os riscos de investimento. "No mercado cambial é fundamental a utilização de ferramentas de controlo de risco", explica Rui Broega, do BIG. Tanto para a protecção do património do investidor como da própria corretora. Mas a intervenção da corretora ocorre no limite. Deve ser o próprio investidor a colocar limites às perdas potenciais, aplicando mecanismos de controlo de risco como os de "stop loss".

Quanto aos custos. Cada caso é um caso. De um modo geral, a comissão das corretoras está nos "spreads" entre o preço de compra e venda das divisas. Mas há casos em que, além disso, há lugar ao pagamento de uma comissão fixa ou de uma percentagem sobre o montante de investimento. Mas há outro custo a ter em conta, lembra Bruno Costa, "trader" da GoBulling. Quando se investe numa moeda está, implicitamente, tem que pagar juros sobre a divisa em que se financia e recebe juros sobre a moeda em investe. Logo, em cada dia em que a posição é mantida em aberto há lugar ao pagamento (ou recebimento) do diferencial de juros. E, por isso, o preço de entrada no negócio é reajustado diariamente para incorporar esse diferencial.

Cinco formas de investir

No mercado, há uma vasta gama de produtos para investir em câmbios. Conheça alguns exemplos.

No mercado, há uma vasta gama de produtos para investir em câmbios. Conheça alguns exemplos.

A via tradicional: pouco eficiente e cara

Um investidor que não pretenda estar exposto ao mercado de câmbios através de derivados - a forma mais comum hoje em dia - pode, simplesmente, dirigir-se ao banco e comprar ou vender moeda estrangeira consoante a expectativa de evolução do câmbio. Mas face às alternativas, esta acaba por ser francamente mais cara e menos financeiramente menos eficiente. Tem duas alternativas.

Depósito em divisa estrangeira

Se acredita que o dólar vai valorizar face ao euro, então pode, pura e simplesmente converter euros em dólares e colocá-lo numa conta bancária em dólares. Se a moeda de facto valorizar, no final vende os dólares fecha a conta. Submete-se às comissões do banco com a conversão e com a manutenção da conta.

Financiamento em outra moeda

Se o investidor acredita que o euro vai valorizar contra o dólar e, uma vez que as taxas de juro nos EUA estão mais baixas do que na Zona Euro, então pode pedir um empréstimo nos EUA, converter os dólares em euros e aplicá-los (numa conta ou num activo). No final, se a sua expectativa se concretizar, vende apenas os euros necessários para pagar o empréstimo nos EUA e o resto é lucro.

Se o desempenho do dólar contras as principais divisas contrair a expectativa, o investidor perde.

ETF: Replicar um cabaz de moedas

Uma forma de investir num cabaz de moedas sem estar alavancado no investimento é usar os "Exchange Traded Funds" (ETF), que permitem replicar o comportamento de activos. Embora em alguns produtos de ETF até seja possível a alavancagem, na maioria dos casos não é. Mas o risco de perda do capital total aplicado também é elevado. Por isso, esta também não é uma forma de aplicação de capital para investidores conservadores e avessos ao risco.

ETF sobre o Dollar Index

O dollar index é um cabaz que segue a evolução da moeda dos EUA contra seis moedas (euro, dólar canadiano, libra inglesa, iene, franco suíço e coroa sueca). Ao replicar o desempenho do dollar index, o investidor ganha se o dólar subir contra as principais moedas.

Forex: comprar e vender moeda à vista

O funcionamento das transacções no mercado Forex (isto é, de negociação entre divisas para entrega imediata ou à vista), é muito semelhante ao que se passaria recorrendo a um banco. Mas neste caso, ao contrário do recurso ao câmbios nos bancos, há alavancagem. O montante inicial de que dispõe pode ser de apenas 1% face à sua exposição ao câmbio. Neste caso, além da preocupação com a evolução cambial, o investidor tem que estar atento ao diferencial entre as taxas de juro da moeda que compra face à moeda que vende.

Exemplo: Aposta na queda do dólar

O investidor tem 1.000 euros na sua conta e acredita que o dólar vai cair contra o euro, que está a cotar nos $1,3447 (preço de compra)/ $1,3450 (preço de venda).

Primeiro passo

Por isso, abre uma posição em que decide financiar-se em 100 mil euros (vender dólares). Tem uma alavanca-gem de 100 vezes. Tem que vender no mercado 134.500 dólares.

Segundo passo

Horas depois o euro valoriza contra o dólar para os $1,3500 - $1,3503 e o investidor decide fechar a posição. Vende os 100 mil euros e consegue comprar 135 mil dólares. O lucro obtido é de 500 dólares, que terá ainda de converter para euros. Se

Resultado

O lucro obtido é de 500 dólares, que terá ainda de converter para euros. Mas se mantiver a posição aberta por mais do que um dia, terá que incorporar no preço de abertura de posição o diferencial de juros entre as duas moedas.

Futuros e CFD: património dita escolha

O investimento em contratos de futuros ou CFD segue a mesma mecânica. São derivados sobre o Forex, negociados em margem. Ou seja, o investidor tem que estar sempre preparado para reforçar a conta no caso da evolução cambial lhe ser desfavorável. Mas há diferenças de peso entre os dois produtos. Rui Broega, responsável pela gestão de activos do Banco BIG explica que os futuros "são o veículo preferencial dos investidores institucionais", mas obrigam a elevados montantes. Um contrato de futuro implica, geralmente, um mínimo de 125 mil euros, enquanto no CFD basta um euro. Este último, "é tanto mais versátil quanto mais pequeno é o património do investidor".

A cotação do Euro/dólar é de 1,5742 (preço de venda) e o investidor decide abrir uma posição comprando dólares através de cinco contratos CFD. O depósito requerido para a abertura desta posição é igual ao valor de contrato x nº de contratos x taxa de câmbio x margem requerida:

$7871 = (100.000€ x 5 contratos x $1,5742 x 1%)

No mesmo dia, a cotação atinge os 1,4978 dólares (preço de compra) e o investidor fecha a posição.

Mais-valia da operação

Abertura da posição $ 787.100

Fecho da posição $ 748.900

Mais-valia $ 38.200

Exposição ao câmbio via Fundos

A oferta de fundos de investimento que apostam especificamente em Forex não é extensa. Mas existem muitos que, tendo por objectivo o investimento em activos como as acções, também estão expostos a divisas estrangeiras.

5 passos na negociação de câmbios

Formação é essencial

A maioria das corretoras oferece acções de formação para se compreender como funciona o investimento no mercado cambial, os conceitos envolvidos, bem como a comprensão dos riscos. Este é um passo a não descurar.

Saber gerir o risco do investimento

Um ponto fulcral para quem não quer perder o valor do investimento é aplicar os mecanismos de controlo de risco. O mais comum é o "stop loss", que permite fechar a posição quando a evolução da moeda é desfavorável ao investidor.

Começar pelas simulações

Depois de absorvidos os conceitos de negociação em Forex, o melhor é não começar logo a negociar. Use os simuladores disponibilizados pelas corretoras de forma gratuita e teste se apreendeu correctamente os conceitos.

Testar a gestão do "stress"

Uma coisa é investir com dinheiro fictício nas simulações, outra bem diferente é quando se investe com dinheiro real. Após as simulações, deve começar a investir com montantes muito pequenos para aprender qual o seu grau de tolerância ao "stress".

Investir sempre com ponderação

Se passou com distinção os passos anteriores, então, muito provavelmente, está preparado para começar a aplicar montantes mais elevados. Os especialistas alertam que é sempre recomendável assumir um grau de risco ponderado.

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