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Fitch avalia Portugal. E nem a crise política deve impedir um "upgrade"

A agência de notação financeira deverá elevar o rating da dívida soberana portuguesa, consideram os especialistas ouvidos pelo Negócios. A queda do Governo e as novas eleições não devem mexer com o bom sentimento relativamente às finanças públicas.

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bandeira portugal Wolfram Kastl/AP
14 de Março de 2025 às 09:30

A Fitch poderá mexer esta sexta-feira no rating da dívida soberana de Portugal – e os especialistas ouvidos pelo Negócios apontam para a possibilidade de a agência de notação financeira melhorar a classificação da República, apesar da crise política que o país atravessa. A acontecer, será o terceiro "upgrade" deste ano, depois de a DBRS o ter feito a 17 de janeiro e a Standard & Poor’s a 28 de fevereiro.

Na sua última avaliação a Portugal, em setembro do ano passado, a Fitch manteve o rating em A- e elevou o "outlook" (perspetiva para a evolução da qualidade da dívida) de estável para positivo, sinalizando assim que poderia vir a melhorar a notação soberana. E, na perspetiva dos especialistas, isso pode acontecer já hoje.

"Penso que existe a possibilidade de ser feito um 'upgrade' à classificação da dívida de Portugal, apesar da turbulência política", diz ao Negócios o analista-chefe do Danske Bank, Jens Peter Sørensen. "A Fitch atribuiu uma perspetiva positiva no outono de 2024 e as finanças públicas parecem estar a ter um bom comportamento. Por isso, é de esperar uma melhoria do rating, tal como fez a S&P", considera.

Penso que existe a possibilidade de ser feito um ‘upgrade’ à classificação da dívida de Portugal.Jens Peter Sørensen

Analista-chefe do Danske Bank

Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, tem o mesmo entendimento. "A atual crise política em Portugal poderá ser um fator considerado pela Fitch, mas é pouco provável que tenha um impacto determinante na decisão da agência. Até agora, os mercados financeiros demonstraram relativa indiferença face à instabilidade política, focando-se mais na solidez das contas públicas e no crescimento económico sustentado pelo turismo, emprego e investimento estrangeiro. Além disso, a S&P e a DBRS já subiram o rating de Portugal este ano", afirma.

"A Fitch poderá avaliar a situação, mas o histórico recente mostra que as eleições antecipadas não têm tido impacto relevante na perceção de risco da dívida portuguesa. Desta forma, a expectativa de uma subida da notação de crédito por parte da Fitch mantém-se válida", aponta Paulo Monteiro Rosa. Esta atualização da Fitch, refere, "será um dos primeiros 'testes do algodão' à crise política, permitindo avaliar até que ponto esta influencia a perceção externa sobre a solidez da economia portuguesa". Na sua opinião, "a melhoria pela Fitch do 'outlook' para positivo em setembro de 2024 abriu caminho para um quase certo aumento do rating de Portugal".

Esta atualização da Fitch será um dos primeiros ‘testes do algodão’ à crise política.Paulo Monteiro Rosa

Economista sénior do Banco Carregosa

Além disso, "a melhoria dos fundamentos económicos do país e a evolução positiva das classificações das restantes agências sugerem que Portugal poderá ver o seu rating subir para A, consolidando a confiança dos mercados e garantindo condições de financiamento mais favoráveis. Um eventual impasse prolongado na formação de um novo governo ou uma mudança inesperada na orientação económica poderiam, a médio prazo, alterar esta perceção. Mas, para já, os sinais indicam que Portugal continuará a crescer, mesmo num cenário de instabilidade política", sublinha o economista do Carregosa.

Também Henrique Valente, representante de contas da ActivTrades, considera que "a decisão da Fitch sobre o rating de Portugal não deverá ser influenciada pela atual instabilidade política, dado que esta não altera os principais fundamentos económicos do país". "Portugal tem demonstrado um compromisso consistente com a disciplina orçamental, aproveitando os fundos europeus e o impacto da inflação para reduzir significativamente a dívida pública e alcançar excedentes orçamentais. Além disso, salienta, "a economia portuguesa beneficia de um 'mix' energético diversificado, de uma base económica assente nos serviços e de uma localização geográfica distante dos principais focos de tensão geopolítica. Estes fatores tornam o país mais resiliente aos choques internacionais e é expectável que continue a atrair investimento e turismo.

Para o responsável da ActivTrades, "num ambiente de taxas de juro em queda, que alivia o custo de financiamento tanto para o setor público como privado, e com um setor bancário mais robusto após o ciclo de taxas elevadas, Portugal está numa posição sólida para manter a notação em 'A-' e, potencialmente, abrir caminho para uma futura subida do rating".

Portugal tem demonstrado um compromisso consistente com a disciplina orçamental.Henrique Valente

Representante de contas da ActivTrades

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