“O mundo vive uma etapa de convulsões que iniciam um período de transição para uma nova ordem mundial, com uma configuração substancialmente diferente da que vivemos desde o final da Segunda Guerra Mundial”, afirmou o presidente da Comissão Executiva do Millennium BCP, Miguel Maya, na abertura do evento Millennium Portugal Exportador, organizado pela Fundação AIP e pelo Millennium bcp.
Identificou múltiplos desafios estruturais, desde conflitos armados às migrações, sublinhando que “o discurso simplista de que é um tema de sim ou não aos imigrantes é um discurso deslocado”. Miguel Maya defendeu “uma política definida que assegure a integração dos migrantes que acolhemos na nossa sociedade, na nossa cultura de liberdade, de democracia e de tolerância pela diversidade”.
Sobre a fragmentação geopolítica foi taxativo. “As tarifas nos Estados Unidos da América estão ao nível das tarifas em vigor há um século atrás. Só este facto diz muito do que se está a passar e demonstra que temos de mudar a forma de escrever o futuro.”
O banqueiro defendeu ainda uma revisão do contrato social. “Num mundo mais volátil e imprevisível justifica-se uma relação séria sobre o contrato social e o papel que compete às empresas e ao Estado. É imperativo garantir a flexibilidade e o enquadramento para as empresas se adaptarem, o que requer maior flexibilidade laboral, mas também requer assegurar que o Estado tem condições de proteger os trabalhadores”, salientou o CEO do Millennium BCP, e criticou a obsessão com equilíbrios precários. “Perdemos demasiado tempo em configurações de equações de soma nula, em que o esforço se centra em equilíbrios precários que requerem diminuir a uns para aumentar a outros, quando o esforço principal se deve concentrar no aumento da geração de valor para haver muito mais para distribuir”.
O desempenho das exportações
“Em 2005 exportávamos 43 mil milhões de euros e essa cobertura dessas exportações pelas importações representava um valor negativo de 76%. Em 2024, exportávamos 132,5 mil milhões e representávamos 104% daquilo que importávamos”, referiu António Ramalho, presidente da Fundação AIP, sobre a evolução exportadora.
Acrescentou que em 2005 Portugal exportava 27,1% do PIB e era o vigésimo terceiro país da Europa. Em 2024 as exportações atingiram 45,8% do PIB, o vigésimo país da Europa. António Ramalho sublinhou ainda que “existem 10 países na Europa que exportam mais de 70% do PIB” e a sua dedução é de que nos faltam “duas chaves simples que são importantes, termos empresas maiores e estarmos em mercados maiores”.
O responsável sublinhou o compromisso da organização do evento. “A FIL-AIP é uma associação empresarial para executar políticas de apoio à nossa economia. Em 2024 organizámos ou acolhemos mais de 120 eventos. O contributo direto e indireto em 2024 foi de 583 milhões de euros de impacto na nossa economia”, concluiu António Ramalho.