Fernando Sobral fsobral@negocios.pt 22 de Novembro de 2010 às 11:47

Três tristes tigres

Em política qualquer negação em dose dupla significa uma confirmação.

E quando não se confirma nem se desmente é porque o pior se vai concretizar. A bela história dos três tristes tigres contada por Guillermo Cabrera Infante confirma-se como farsa. Grécia, Irlanda e Portugal têm tudo em comum para se sentirem deprimidos. O tigre celta engasgou-se nos seus contínuos desmentidos e começou a negociar com o FMI. Quando o ministro Teixeira dos Santos, dentro do espírito altruísta de "nós não somos a Grécia, nem a Irlanda", veio dizer que a Irlanda ia tomar a melhor decisão, queria obviamente pedir encarecidamente para o tigre celta se atirar para os braços do FMI para ver se a pressão sobre Portugal abrandava. O problema maior é que a Grécia e a Irlanda estão cada vez mais engasgadas e Portugal, Espanha e Itália começam a estar debaixo do ponto de mira. Alguém irá à falência técnica? E o euro sobreviverá a tanto esforço? O que neste momento mina a confiança de Bruxelas é saber se a pressão financeira não causará um terramoto político nas débeis estruturas da UE. Sem o euro, pouco sobra de solidariedade europeia, onde em poucas matérias há interesses comuns. Olhe-se para a PAC ou para a defesa para se entender que é cada vez mais o que divide os países da UE do que o que os une. A UE depois das crises da Grécia, da Irlanda e de Portugal pode avançar a todo o vapor rumo à extinção. Por falta de objecto. Sucessivos desmentidos sobre a necessidade de um salva-vidas não escondem a necessidade de um quando o náufrago deixa de ter forças para nadar.

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