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Avelino de Jesus - Economista e professor no ISEG
22 de Setembro de 2019 às 19:00

O balanço que conta

A balança externa está destinada a sofrer significativos agravamentos que algumas notícias deixam transparecer e que estão já a verificar-se.

O balanço da legislatura que agora termina ganhará em relevância se o foco incidir sobre as variáveis que determinam o futuro da economia. Proponho, para este efeito, que o leitor reflicta, por si próprio, com a ajuda do quadro anexo em que seleccionei as variáveis seguintes:

- Stock de capital: indicador que exprime a quantidade acumulada de meios à disposição da economia para ajudar o factor trabalho no processo produtivo. É o principal determinante da capacidade produtiva do país;

- Stock de capital por empregado: é o grande determinante da produtividade, medindo a quantidade média de meios de produção afectos a cada trabalhador;

- PIB por empregado: representa a produtividade da economia, balizando o nível de vida do país em geral e dos salários em particular;

- Consumo "per capita": representa, em última instância, o objectivo final da actividade económica. Deve ser observado em comparação com os três indicadores anteriores. Embora o aumento do consumo seja o objectivo final, aquele desiderato a médio e longo prazo não se obterá sem a melhoria dos restantes indicadores, o que por sua vez obriga a sacrificar, previamente, parte significativa do consumo ou seja exige a moderação do seu crescimento ou mesmo a sua diminuição em certos casos.

O ciclo governativo agora em análise teve três traços principais, que marcam a natureza nociva da política económica implementada:

- Quebra do stock de capital, quer em valor absoluto quer em valor por empregado, indiciando a destruição da capacidade produtiva da economia;

- Estagnação ou quebra do PIB por empregado;

- Aumento significativo do consumo.

Com a evolução dos indicadores acima referidos, a balança externa está destinada a sofrer significativos agravamentos que algumas notícias deixam transparecer e que estão já a verificar-se.

O mito das contas certas - na acepção de contas equilibradas, como no sentido de contas e políticas adequadas -, que tantos e tantos conquistou, não pode perdurar muito. Mas, infelizmente, o efeito de rebanho tem sido tão forte que o mito ainda vai pairar o suficiente para gerar os efeitos políticos que aprofundarão os estragos sobre a capacidade produtiva e a produtividade da economia portuguesa. 

 Economista e professor no ISEG

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

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