A morte silenciosa da responsabilidade política
É penoso ter de explicar por que razão o acidente com o carro do ministro Eduardo Cabrita é um caso político, mas em Portugal chegámos a uma espécie de zénite da desresponsabilização dos governantes. A responsabilidade política está tão morta como a nossa exigência.
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Um ministro que tutela as forças de segurança que nos espremem o bolso pela mínima infracção ao volante é transportado a alta velocidade num carro de luxo. O carro atropela e mata um homem – Nuno Santos, um ano mais novo do que eu, casado e com duas filhas menores – que trabalha na autoestrada. O ministério emite uma nota, incrivelmente fria, na qual atira a responsabilidade para a vítima e para a concessionária da autoestrada. O ministro não liga à viúva e manda a chefe de gabinete dar as condolências. Ninguém do Governo aparece no funeral. O ministro, que recusa falar publicamente sobre o acidente, demora mais de duas semanas a pronunciar-se sobre o sucedido – e, quando o faz, remete para a burocracia do Estado, que está a apurar responsabilidades e eventuais indemnizações.
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