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Estado e "bullying" sobre as empresas

Se estamos insatisfeitos e temos vontade de mudar temos de dar os dois passos até à urna de voto e escolher se queremos continuar com os mesmos ou se queremos pensar liberal.

A palavra "bullying" tem vindo a ganhar expressão e difusão desde que no dia a dia se conhecem e tornam públicos casos de "bullying" no local de trabalho, nas universidades e escolas, mas também nos hospitais e empresas. Este comportamento muito dramatizado em filmes americanos e fazendo parte de um imaginário nova-iorquino está agora na ordem do dia e é bem real. O tema tem sido abordado em colóquios pelas próprias empresas "caçadoras" de recursos e de cérebros. Uma definição das que mais gosto, e em língua portuguesa, é a da psicológica Gisele Meter que estuda este tema como um fenómeno social. Ela define o "bullying" como "uma afirmação de poder através da agressão, feita de forma intencional e repetitiva, causando dor e angústia à vítima, que normalmente acaba por ver a sua autoestima rebaixada e a sentir-se cada vez mais fragilizada para reagir aos ataques". A agressão permanente pode mesmo levar à desistência.

Conheci bem este fenómeno em Portugal e lá fora. Eu diria que o "bullying" ocorre em todas as organizações e para ele contribuem vários fatores. Interesses, política perversa, organizações várias, "amiguismo e familiarismo" (José Gil) são responsáveis importantes e o ambiente fica de "cortar à faca". Nos Estados Unidos, segundo estudos desta mesma psicóloga, 52% das mulheres e 44,7% dos homens promovem este tipo de agressão no meio profissional. Esta investigadora verificou também que as mulheres usam métodos diferentes dos dos homens, como a maledicência, causando depressão, pânico, ansiedade forte e "stress" nas vítimas.

Carga fiscal e "bullying" às empresas

Baseado na minha experiência, escrevi há tempos (no Público) um pequeno artigo de opinião intitulado "Hipertensão fiscal". Esta história que contei no mês do coração baseava-se no pequeno empresário que apresentava hipertensão arterial agravada. Todos os dias tinha pânico de encontrar cartas da Agência Tributária.

Passados 4 anos, volto ao tema, agora não com o exemplo de uma pessoa, mas sim das Pequenas e Médias Empresas (PME). O que apurei baseou-se numa observação muito simples: a carga fiscal e outras obrigações como licenças, taxas, etc. estão a atuar como "bullying" no milhão de PME portuguesas que de facto são as empresas que sustentam este país e que estão praticamente asfixiadas com impostos e taxas de todo o tipo. Este problema é transversal na sociedade portuguesa, cria uma pressão de tal ordem que é necessário que os empresários tenham um espírito muito forte para não desistir. Os governos não têm tratado e têm até maltratado esta "doença" que afeta a nossa economia e alastra como um fenómeno e uma "doença" social. Como exemplo dou o de um amigo meu, jovem, médico dentista com um pequeno consultório, um verdadeiro profissional liberal.

Numa conversa com ele verifiquei as obrigações a que estava sujeito e imediatamente o coloquei no grupo das empresas sujeitas a "bullying". Certificação de registo (ERS), lixos hospitalares, SILIAMB, MIRR a preencher, E-Gás complicado e em mudanças constantes, obrigado a contratar empresas especializadas para não haver falhas, licença de Rx, antes gerida pela DGS e agora pelo Ambiente, empresas privadas que gerem a realização de relatórios, empresa para avaliar os dosímetros de 3 em 3 meses, medicina do trabalho (ele é o único trabalhador e médico), empresa certificadora de extintores, água, luz, internet, publicidade, materiais, condomínio e por aí afora, ao que acresce a fatura dos ansiolíticos necessários para lidar com tudo isto. E a Segurança Social, lembrei eu, ao que ele me respondeu "só sou eu e está em ordem".

Tenho prestado mais atenção na consulta a empresários jovens e menos jovens e a situação é semelhante. O tratamento é difícil e a regra de aprender a relaxar aqui não funciona. Há até já empresários com quadros obsessivos. O Estado português é como o "cão que morde a mão do dono". Estas Pequenas e Médias Empresas é que nos alimentam. Estamos em período pré-eleitoral e dizia o primeiro-ministro à Renascença que não se pode abdicar de receita fiscal para fazer investimento público.

O que poderá ser feito para tratar esta "doença", tornar Portugal mais competitivo e colocá-lo na senda do crescimento? Talvez mais liberdade social e política económica, menos Estado e mais liberdade, mais transparência, reinventar Portugal com uma Justiça mais fácil e rápida, uma enorme redução de impostos. Um país mais competitivo com menos despesa pública, promovendo a ligação das empresas às universidades, combatendo a corrupção, incentivando um sistema e uma cultura que promova a igualdade de oportunidades e não um país armadilhado e minado apenas para amigos, saúde em vez de doença, cidadania europeia… Esta minha divagação está em linha com o programa político da Iniciativa Liberal. Se estamos insatisfeitos e temos vontade de mudar temos de dar os dois passos até à urna de voto e escolher se queremos continuar com os mesmos ou se queremos pensar liberal.

Médico Cirurgião Cardio Torácico

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