A nação de Clouseau
O Governo sabe que sem os votos dos funcionários públicos não há maiorias neste país. Por isso os debates do Estado da Nação são um bocejo. Longo e entediante.
Assistir a um debate do Estado da Nação é o mesmo que ver um filme com o célebre inspector Clouseau. A classe política, como Clouseau, exemplo máximo da incompetência e da inépcia, acaba por perseguir-se a si própria. De alguma maneira, poder e oposição comportam--se ao nível da selecção portuguesa de futebol: podiam jogar mal, sem nada que os distinguisse para o futuro, mas ganhando (como sucedeu no Euro 2016), tudo se lhe perdoava; mas quando se joga de forma sofrível e se perde (como no Mundial deste ano), não há absolvição nem desculpa. As trocas de piropos e de perdigotos entre as diferentes bancadas e o Governo mostraram a indigência política do momento.
A realidade é uma coisa e o mundo paralelo onde vive o Parlamento é outra, como é visível. Um dia, como Newton, descobrirão a verdade, quando uma maçã lhes cair em cima da cabeça. António Costa sabe isso: "A geringonça está no coração e na cabeça". Porque é uma questão afectiva, mas é, sobretudo, uma equação de deve e haver. Resta saber como se está bem com Bruxelas e com a eventualidade de uma maioria parlamentar do PS. Nem Mário Centeno, com os seus lápis de subtrair, tem a solução mágica para "repor direitos", fazer investimentos públicos e cumprir as regras do défice acordado com a União Europeia (UE). Sobre isso, o palavreado da leal oposição ajuda: depois de anunciar que vinha aí o Diabo dos gastos, agora pede mais dinheiro para o SNS. Contradições virais que afectam os partidos quando estão na oposição.
Clouseau está em todo o lado: as receitas fiscais não estão a crescer como o esperado, o SNS está o caos, a educação vai ser uma dor de cabeça (enquanto Mário Nogueira não for convidado pelo PS para ministro da Educação ou, mesmo, para secretário de Estado da Cultura), os transportes ferroviários estão a implodir. O país real sofre enquanto se "repõem direitos". E o Governo sabe que sem os votos dos funcionários públicos não há maiorias neste país. Por isso os debates do Estado da Nação são um bocejo. Longo e entediante.
Grande repórter
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