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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt
08 de Outubro de 2018 às 21:50

O sítio do Picapau Amarelo

A vitória de Messias Bolsonaro é o fim da grande conciliação brasileira promovida por Lula da Silva durante os seus momentos áureos, entre a elite e os excluídos.

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Monteiro Lobato foi o criador do célebre "Sítio do Picapau Amarelo". Mas não só. Ele escrevia, em 1927, os diálogos de mister Slang, um expatriado, com o Brasil. E aquele dizia: "O orçamento do Brasil compõe-se de uma torneira como aquela, a Receita, e de uma infinidade de 'ladrões' por onde a água escapa. Sabe o que é 'ladrão' em técnica hidráulica?" O interlocutor respondia: "Sei. Falso escapamento de água." E mister Slang: "Isso. Há ladrões em excesso na caixa d'água do Tesouro deste país." O dinheiro que jorrou do petróleo (e da venda de matérias-primas da Amazónia) serviu para tudo, especialmente nas últimas décadas: até para servir de combustível para esta crise que abala a economia, a sociedade e o poder político brasileiro. O milagre esgotou-se. A vitória de Jair Messias Bolsonaro era previsível. Mas esmagou. Poderá perder para o voto útil em Fernando Haddad na segunda volta. Mas o mote está dado: o Brasil está dividido ao meio.Messias Bolsonaro, no seu extremismo fascizante, é a resposta radical à corrupção do PT (e não só, ao contrário do que faz crer o juiz Sérgio Moro) e à falta de segurança. É a implosão do sonho brasileiro: o país do futuro, construído à volta da alegria, do samba e das chuteiras, percebeu que tem pés de barro. A vitória de Messias Bolsonaro é o fim da grande conciliação brasileira promovida por Lula da Silva durante os seus momentos áureos, entre a elite e os excluídos. Durante anos, Lula, apresentado como se fosse o novo Roberto Carlos nos círculos de São Paulo, uniu o impossível: a elite económica do Brasil e o povo. Mas, nas vésperas da sua primeira eleição, o filme "Cidade de Deus" explicava como esse "contrato social" era impossível a prazo. O Mensalão e a Lava Jato ensombraram o PT. Mas o "sonho brasileiro" da conciliação nacional e do futuro próspero e global electrocutou-se. E a elite culpa Lula por isso. A luta anticorrupção foi apropriada por Bolsonaro. A elite vê nele o seu Messias redentor. O sítio do Picapau Amarelo desapareceu.

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