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Leonel Moura - Artista Plástico leonel.moura@mail.telepac.pt
02 de Abril de 2015 às 00:01

Uma lição para Costa

O desaire eleitoral do PS na Madeira não foi um acontecimento menor. É certo que a autonomia regional também funciona para os partidos e que o ambiente é particularmente agreste. Quando metade da ilha trabalha ou depende do Governo não é fácil fazer oposição.

 

Acresce que a Madeira, na linha de Jardim, é fértil em trapalhadas. Veja-se a cena patética da contagem, recontagem seguida de nova recontagem dos votos. Uma maioria que é e não é conforme as horas do dia, é tudo menos absoluta. Pior ainda. Já nos basta a incompetência pública e privada, na banca, nas finanças, na justiça, na saúde, na educação. Se a suspeita de chapelada e trafulhice atinge agora também o sistema eleitoral então estamos mesmo perdidos. E, já agora. Porque é que continuam a existir tantos eleitores-fantasma? Na era dos computadores que vasculham cada fatura e penhoram bolos em restaurantes, não é possível fazer um programa para limpar os cadernos eleitorais?

Mas o desaire do Partido Socialista madeirense não se deve só à situação. Deve-se certamente à mediocridade do pessoal político local. E a gente pergunta-se porque é que são tão maus? Porque é que nunca encontram um candidato apresentável? No caso presente, essa falta de qualidade resultou numa estratégia desastrosa. Algum chico-esperto fez um cálculo linear e achou que o PS somado com três outros pequenos partidos dava o suficiente para tirar a maioria absoluta ao PSD. Só que por vezes mais com mais dá menos. Foi o que deu. E é bem feito.

O descrédito da política tem levado à procura de novas soluções. É normal e salutar. Só que a perda de identidade não pode ser uma delas. Nos últimos anos, na cena europeia, o ziguezague de vários partidos levou ao desastre. Aconteceu na Grécia com o Pasok. Querendo agradar a gregos e a troianos, sendo os troianos a direita, o Pasok perdeu identidade e crédito. Em Espanha vai sucedendo algo similar. E até a França tem um partido socialista em clara crise identitária. Em política a coerência é um valor maior. Os troca-tintas podem enganar durante algum tempo, mas não prevalecem.

No caso português temos assistido ao aparecimento de novos partidos no campo da esquerda dispostos à aliança com o PS. Fartos de se reduzirem à contestação, como é o caso do PC e do Bloco, nasceram os Livres e outros com nomes peculiares. Esta abertura, que para alguns surge como uma esperança para um PS até aqui sem aliados no seu campo, pode revelar-se uma armadilha mortal. Uma coligação, formal ou anunciada, poderá levar não só a uma dispersão de apoio eleitoral como à descrença. Até porque, até ao momento, ninguém sabe realmente ao que vêm estes pequenos partidos. Não se lhes conhecem causas concretas, nem uma linha de orientação vá além do dizer mal do Governo e da direita em geral. É pouco. A constante declaração de fé no estado social não tem em conta as condições reais de uma economia aberta e tecnológica e muitas das vezes resulta em dar ainda mais poder a um Estado avassalador que limita as liberdades individuais.

No PS, a orientação é conhecida. Trata-se de tentar conciliar a Europa tal como a conhecemos, ou seja, a Europa do liberalismo económico, com as políticas sociais possíveis e a aposta no conhecimento. Parecendo pouco é todo um programa. De execução complexa e atribulada. Juntar a isto a indefinição de uma extrema-esquerda sem ideias palpáveis e, sobretudo, sem ideias atualizadas, seria um erro.

É por isso que me parece mais higiénico que cada partido se apresente nas próximas eleições com aquilo que tem para oferecer. A confusão já é permanente e muita. Não se queira acrescentar ainda mais. Para os eleitores será mais claro. Para os destinos do país também.

Neste contexto fez bem António Costa em se afastar da presidência da Câmara de Lisboa. Pode agora dedicar-se a tempo inteiro a uma campanha que promete ser feroz. Que o seja também clarificadora. A câmara fica bem entregue a Fernando Medina. Não só pela qualidade do próprio, comprovada, mas também porque representa a tão desejada, mas pouco praticada, renovação do pessoal político.

Artista Plástico

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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