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Luís Todo Bom - Gestor de Empresas | Autor do livro “Manual de Gestão de Empresas Familiares”
05 de Março de 2021 às 09:20

Distribuir o peixe ou canas de pesca

O PRR – Plano de Recuperação e Resiliência é, na sua base conceptual, um programa estatizante, assistencialista e distributivo, ou seja, adopta a aproximação dos países subdesenvolvidos.

As políticas públicas de afectação dos recursos disponíveis podem adoptar duas aproximações distintas, utilizando a metáfora da distribuição dos “peixes” ou das “canas de pesca”.

Os países subdesenvolvidos utilizam os seus recursos, normalmente rentistas, para comprar e distribuir “o peixe” pelos seus cidadãos, com sessões contínuas de propaganda.

Os países desenvolvidos adoptam o modelo da distribuição de “canas de pesca”, ensinando os seus cidadãos a pescar, com eficiência.

A correcção das desigualdades só se consegue com a distribuição de “canas de pesca” e não do “peixe”.

No primeiro caso, temos regimes assistencialistas, burocráticos, ineficientes, no segundo, regimes desenvolvimentistas, abertos, eficientes.

O problema da primeira aproximação reside na redução sistemática da quantidade de “peixe” para distribuir, já que, por ausência de “canas de pesca”, os países têm ao seu dispor, recursos cada vez mais limitados.

É o drama actual do regime venezuelano, com um sistema produtivo estagnado e com os recursos do petróleo em constante redução, por força do preço e da falta de investimentos das petrolíferas, com a fome e a miséria em contínua expansão.

O petróleo português são as transferências da União Europeia, que suportam as políticas públicas de afectação de recursos.

O PRR – Plano de Recuperação e Resiliência é, na sua base conceptual, um programa estatizante, assistencialista e distributivo, ou seja, adopta a aproximação dos países subdesenvolvidos.

Não incentiva o crescimento das empresas portuguesas para poderem competir nos mercados internacionais e não apresenta uma estratégia de desenvolvimento tecnológico, coerente com os clusters tecnológicos actuais mais promissores.

Não define uma abordagem selectiva à captação de investimento estrangeiro e não estabelece os parâmetros de crescimento da nossa capacidade exportadora, sendo o objectivo dos 60% do PIB, uma miragem.

Não apoia a reestruturação dos sectores tradicionais e do turismo, na sua evolução para produtos e serviços de maior valor acrescentado, que permitam a criação de emprego mais estável e mais bem remunerado.

Uma desilusão, como programa estratégico de desenvolvimento, sem uma visão integrada e objectivos quantitativos a atingir, nos antípodas do que o país precisa para a sua recuperação.

Uma oportunidade perdida, para a reconversão e modernização do nosso aparelho produtivo, em particular, da nossa indústria, que necessita, urgentemente, dum programa de reindustrialização robusto.

Quando a União Europeia se cansar de nos sustentar, o nosso petróleo desaparece, e não criámos estruturas produtivas que permitam assegurar uma qualidade de vida digna para os nossos cidadãos.

Por este caminho, seremos, em breve, o “lanterna vermelha” da Europa, continuando, alegremente, a discutir os temas fracturantes e outras inutilidades que aprofundarão a nossa pobreza, económica e cultural.

Restando, aos nossos jovens mais qualificados, o caminho da emigração.

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