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Paulo Carmona
23 de Abril de 2020 às 10:20

Entre a magia e a ilusão

E não vale censurar os bancos. A sua principal prioridade é a segurança dos depósitos, o património dos acionistas e os bolsos dos contribuintes.

A FRASE...

 

"(…) A feliz conjugação de políticos competentes e responsáveis, com o indispensável sentido de Estado, à frente das principais instituições públicas (…)." 

Teresa de Sousa, Público, 19 de abril de 2020

 

E a prestidigitação continua…

1.ª Magia: acreditar que os bancos, depois das perdas que tiveram, da lenta e ainda não total recuperação de 2011, aceitem novamente alavancarem-se sem controlo de crédito, mesmo com a garantia de Estado a 80%. As empresas sem grande risco já receberam, as outras… dificilmente, ou depois de muita análise. Os automatismos necessários não existem e quando vierem será tarde. Isto é suposto ser uma linha de emergência…. E não vale censurar os bancos. A sua principal prioridade é a segurança dos depósitos, o património dos acionistas e os bolsos dos contribuintes.

2.ª Magia: tentar gastar o mínimo possível a salvar a economia e esperar que resulte. A intervenção do Estado na economia peca por muita retórica e alguma avareza de conteúdo. A dimensão da linha de crédito está no limite mínimo, a garantia cobrada pelo Estado é pouco de emergência, 1,5%, e o custo final do empréstimo de liquidez, +/- 4%, de ajuda tem pouco. O custo do lay-off para empresas sem receitas ainda é grande. Tínhamos necessidade de fundos de recapitalização das empresas, conforme proposta da Missão Crescimento, que pudessem investir em instrumentos de financiamento e capitalização das empresas, tais como obrigações convertíveis em capital, sem direito de voto. E a maior, melhor e mais simples medida, pagar a pronto, ou a 30 dias, a todos os fornecedores do Estado. A injeção de liquidez na economia seria enorme.

3.ª Magia: fazer acreditar que um défice de 8% e correspondente aumento da dívida não acarretam mais impostos num futuro muito próximo, com uma economia pós-anémica. A economia não tem botão de start, a retoma vai ser dura e prolongada, e 2021 verá a continuação de problemas nas contas públicas. O ministro Centeno já foi onde podia no aumento de impostos. Virá aí osso, mais aumento nos indiretos, contribuições covid e mais o que se lembrarem… investimento?

E a Grande Ilusão: que somos muito bons, está a correr bem e a retoma virá devagar, mas certa, sem austeridade de maior. E sobretudo, se não correr tão bem, a culpa será sempre da covid, ou dum holandês qualquer, mesmo que os outros países recuperem melhor, e cá continuemos no mesmo modelo de empobrecimento e perda de rendimentos dos últimos 20 anos, pouco competitivos e esmagados com impostos.

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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