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Paulo Carmona
03 de Dezembro de 2018 às 20:07

Poucochinho, mas seguro

Oliveira Salazar tinha o português pobrezinho, mas honrado, na felicidade dos humildes porque parcos em ambições. Um povo adormecido, contentando-se com pouco e albardado por uma ditadura em 48 anos de resignação.

"O ministro do Planeamento responsabilizou o PSD pelo baixo investimento público concretizado em 2016."

Eco, 19 de abril de 2017 

Hoje tudo mudou. Ou talvez não. Em vez do pobrezinho mudámos para o poucochinho. É poucochinho, mas é.

A CP não tem dinheiro, porque cativado pelo ministro, para a manutenção dos comboios. Há risco de segurança. Investe-se? Não, suprimem-se comboios. Os comboios são poucochinhos, mas existem…

A IP ex-Refer não tem dinheiro para requalificar as linhas de comboio, nomeadamente a linha do Norte entre Espinho e o Porto. Há risco de segurança. Investe-se? Não, baixa-se a velocidade dos comboios para médias quilométricas de 1919. É poucochinha a velocidade, mas andam…

A IP ex-EP não tem dinheiro para manter algumas estradas. Há risco de segurança. Investe-se mais? Não, baixa-se a velocidade ou diminui-se a tonelagem permitida em circulação. É poucochinha, mas dá para andar.

O Metropolitano de Lisboa tem avarias quase todos os dias, menos composições, a circulação é poucochinha, mas é melhor do que andar a pé.

Os hospitais públicos têm falhas na qualidade de serviço porque faltam médicos e enfermeiros. Contratam-se mais? Não. Aumenta-se o prazo de pagamento, atendimento e as listas de espera. A esperança de ser operado às cataratas em menos de 12 meses é poucochinha, mas existe. (Se tiver meios para ter seguro privado já não é poucochinho.)

O salário dos funcionários públicos é poucochinho e não é aumentado há anos, mas é seguro e melhor do que nada.

O crescimento económico vai ser dos piores da Europa. É poucochinho, mas ao menos é crescimento.

O dinheiro que o Estado tem é poucochinho, mas ao menos já não estamos em austeridade.

Até as narrativas são poucochinhas, a culpa é do governo anterior ou da troika, e os comboios tiveram uma racionalização ou entraram em horário de verão até… 2025, etc.

No fundo, a ambição é poucochinha, as mudanças que o Governo fez em três anos são poucochinhas e até a oposição é poucochinha.

Está tudo bem, desde que não nos confrontemos com a mediocridade das nossas pobres ambições.

Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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