A segunda morte de Marx
Rezam as crónicas que se realizou no passado fim-de-semana em Lisboa uma sessão espírita com o propósito esotérico de convocar Marx. Não estou a falar de Groucho, o cómico americano, mas de Karl Heinrich, o pensador político central na história do comunismo.
O encontro místico recebeu o pomposo nome de 'Colóquio Internacional Karl Marx', reunindo figuras típicas da extrema-esquerda lusitana, entre as quais se contavam quase todos os membros do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda: Francisco Louçã, Luís Fazenda, Helena Pinto e Fernando Rosas foram alguns dos oradores, este último em acumulação de funções com a tarefa de organizador.
Segundo consegui apurar, não se utilizaram velas, lâmpadas de óleo ou mesas ovais para materializar em Portugal a 'ditadura do proletariado' proposta pelo filósofo alemão. Para além de anacrónico, seria um exercício impossível por não se terem avistado verdadeiros proletários na sala. À falta de melhor, em vez de trabalhadores da foice e do martelo, juntaram-se alguns académicos e políticos da causa.
A conjura teve lugar na Universidade Nova e valha a verdade que numa notícia sobre a ocasião – no 'Público' de 14 de Novembro – se escutaram algumas mentes lúcidas, como o colunista do Negócios e investigador do Instituto de Ciências Sociais, Pedro Lains. O historiador e economista referiu-se com natural preocupação ao 'novo apelo marxista' que está a crescer entre as gerações mais jovens. Disse ainda que 'este tipo de movimentos pode suscitar sentimentos proteccionistas na opinião pública e o proteccionismo não serve de modelo para resolver esta crise.' Obviamente, Lains não fazia parte da lista restrita de convidados do programa de fim-de-semana, reservada a dirigentes do pequeno Bloco de Esquerda, do PCP e a outras almas do pensamento socialista radical. No que diz respeito à abertura ao debate democrático ou à diferença ideológica dos presuntivos herdeiros de Marx, estamos conversados.
A crise financeira internacional não pode justificar tudo e não justifica certamente o refazer da História. A utopia política marxista revelou-se politicamente desastrosa, produzindo alguns dos regimes mais totalitários e sanguinários de que há memória. Para todos os efeitos, Marx está na gaveta e aí deve continuar encerrado. Para sempre.
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