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A Bem da Nação

Leio na imprensa que a direcção da Lusa proibiu que os jornalistas de Economia utilizassem a palavra "estagnação". Fomos informados ainda que o conselho de redacção da agência do Estado criticou o "número exagerado de notícias" sobre a entrega de computadores Magalhães e outras "campanhas de marketing do Governo". Isto para além de entender como "estranho" que, no dia da divulgação de novas previsões do Fundo Monetário Internacional, os jornalistas da secção de economia...

Estagnação: derivação feminina singular de estagnar; s. f., estado do que estagnou; paralisação; inércia; imobilidade.

Leio na imprensa que a direcção da Lusa proibiu que os jornalistas de Economia utilizassem a palavra "estagnação". Fomos informados ainda que o conselho de redacção da agência do Estado criticou o "número exagerado de notícias" sobre a entrega de computadores Magalhães e outras "campanhas de marketing do Governo". Isto para além de entender como "estranho" que, no dia da divulgação de novas previsões do Fundo Monetário Internacional, os jornalistas da secção de economia "tenham sido proibidos de utilizar a palavra ‘estagnação’ [no título e no lead], para qualificar a evolução de 0,1% prevista para o PIB português em 2009".

Se me permitem, não entendo a dita estranheza e aplaudo o vigoroso gesto do Sr. director da agência Lusa, Luís Miguel Viana. Tal como escreveu Fernando Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se. Embora resuma com meridiano rigor o estado em que se encontra o País – da Educação à Economia, passando pela Justiça – a palavra "estagnação" é um tremendo insulto a um Governo e a um primeiro-ministro que tudo têm feito na prossecução do bem-estar e da felicidade dos portugueses.

Depois de erradicar a horrenda "estagnação" do léxico dos jornalistas da agência pública – e seguindo uma tradição com longas raízes na História de Portugal – deveria ir mais longe o Sr. director, estabelecendo um Index das Palavras Proibidas na Lusa (IPP-L). Quem sabe se a obra não consegue criar doutrina e ser adoptada com amplos proveitos noutros meios de comunicação social do Estado, como a RTP ou a RDP?

Para início de conversa, é aconselhável eliminar a palavra "recessão". Mais vale prevenir que remediar. A "crise" merece reprovação imediata, sobretudo se conjugada com os substantivos "política" ou "económica". Apagar desde já a maldita "depressão" é mais do que um dever ético, um imperativo patriótico. "Falência" só é aceitável se designar actos de privados e, ainda assim, deve ser substituída por "nacionalização". E por aí em diante. Talvez pudesse o sr. director da Lusa ponderar a extinção das palavras "manifestação" e "greve". Ou mesmo, se possível, "oposição". Só desse modo poderia reinar a esperança entre todos os portugueses. A bem da lusa nação.

Nota do Autor

Por motivos exclusivamente ligados à minha vida profissional, esta é a última edição do Plano B que assino no Negócios. Não posso deixar de agradecer o convite, a confiança, o apoio e a total liberdade que me foram oferecidos pela Direcção Editorial do melhor diário económico português. Nas pessoas de Pedro Santos Guerreiro, Helena Garrido e João Cândido da Silva, o meu muito obrigado.

Paulo Pinto Mascarenhas
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