Como escolher um fundo de obrigações - Parte I
Neste momento, o rendimento fixo capta muitas atenções por uma série de razões. Os títulos de dívida pública têm atraído os investidores nervosos que procuram uma garantia do governo para o seu rendimento e capital.
Neste momento, o rendimento fixo capta muitas atenções por uma série de razões. Os títulos de dívida pública têm atraído os investidores nervosos que procuram uma garantia do governo para o seu rendimento e capital. Isto fez subir os preços e, consequentemente, diminuir as taxas de rentabilidade ("yields"). Por outro lado, as obrigações das empresas deixaram de atrair os investidores, que fugiram ao risco de incumprimento por parte das empresas. Os seus preços caíram, tendo, portanto, aumentado as taxas de rentabilidade.
Como resultado desta actividade, e comparativamente aos títulos de dívida pública, as obrigações de empresas estão actualmente mais baratas do que alguma vez estiveram desde a década de 30, com os investidores a exigirem uma taxa de rentabilidade de 6,7% para adquirirem até mesmo a dívida "corporate" europeia mais segura. Isto é cerca de 4,1 pontos percentuais mais do que poderiam ganhar por emprestar o seu dinheiro ao governo durante cinco anos. De facto, este diferencial entre as taxas é uma medida interessante do receio dos investidores; quanto maior for, mais receosos os investidores ficam.
É precisamente este crescente diferencial de taxas que tem atraído muitos investidores profissionais à oportunidade que as obrigações de empresas actualmente oferecem. Um inquérito recente efectuado pelo "FT" aos gestores de fundos e aos estrategas de investimento, divulgado com o título "Gestores de activos voltam-se para as obrigações de empresas", indicava que as obrigações de empresas de elevada qualidade eram a classe de activos que iria provavelmente registar uma maior subida em 2009.
Esta atenção dada a uma classe de activos que é mais conhecida pelas suas qualidades de rendimento é particularmente oportuna porque muitos investidores estão a tentar desesperadamente substituir o rendimento que perderam devido à queda das taxas de juro e aos preços baixos dos activos.
Mas pode ser difícil navegar no grande e complexo mercado obrigacionista e no universo de fundos de obrigações que investem neste mercado. Eis, pois, quatro coisas a considerar quando seleccionar a sua "short list" de fundos de obrigações:
1) Compreenda qualquer risco cambial subjacente no fundo
As oscilações dos mercados cambiais foram uma das viragens dramáticas que ocorreram no ano passado e fazer a aposta errada teria afectado o desempenho. O euro teve um ano acidentado, valorizando face à maioria das moedas durante a primeira metade de 2008, caindo acentuadamente em Setembro e Outubro, e recuperando depois novamente para encerrar o ano em alta. Face a um cabaz de moedas dos seus principais parceiros comerciais, o euro encerrou 2008 com uma valorização de 4,1%. Para alguns fundos de obrigações internacionais que não fizeram cobertura de risco das participações em moedas estrangeiras, isto significou que o desempenho foi ligeiramente afectado pelo facto de deterem activos denominados em moedas mais fracas.
Normalmente, fazer a cobertura do risco cambial, ou eliminar o risco de deter activos denominados em moedas estrangeiras, é comum em fundos de obrigações, sendo pois possível deter activos internacionais sem que haja qualquer risco cambial. No entanto, também existem méritos nas estratégias sem cobertura de risco, e muitos fundos podem não a fazer, o que é essencial é compreender se os fundos adoptam uma ou outra estratégia e se estamos expostos a oscilações cambiais.
2) Saiba qual é a sensibilidade do fundo às mudanças gerais das taxas de juro
O segundo ponto a investigar é a sensibilidade do fundo às alterações das taxas de juro. Um factor importante que influencia o desempenho das obrigações, em particular dos títulos de dívida pública, são as alterações das taxas de juro e as perspectivas quanto à sua direcção no futuro. Quando as taxas de juro descem, o valor de uma obrigação sobe para reflectir a vantagem de ter assegurado um fluxo fixo de rendimento. Foi esta a razão para o forte desempenho dos títulos de dívida pública em 2008.
É uma regra simples, um fundo com uma duração de X anos deverá crescer X em valor por cada caída de um ponto percentual nas taxas de juro (e vice-versa). Com as taxas a descer muitos pontos base de cada vez para mínimos sem precedentes, isto é relevante. Por exemplo, um fundo com uma duração de 7 anos veria o valor do seu capital aumentar 7%, caso as taxas de juro caíssem 1%. (sendo tudo o resto igual).
A duração é tão importante, de facto, que é uma das medidas que o gestor de um fundo de obrigações vigia diariamente. Surpreende, pois, que poucas fichas sobre os fundos mencionem a meta ou a duração real de um fundo. E poucos investidores finais apreciariam que, em 2008, o facto de terem uma duração mais longa tivesse impulsionado o desempenho de muitos fundos de rendimento fixo, quando as taxas de rendibilidade caíram acentuadamente.
*O artigo será concluído na próxima edição
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