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Manuel Caldeira Cabral
08 de Abril de 2010 às 11:58

Cumprir o destino turístico

Lisboa foi eleita pelos consumidores europeus como o "Melhor Destino Europeu de 2010". O potencial turístico da cidade é fantástico e é reconhecido. Mas o que é que estamos a fazer para o valorizar melhor? Há muito a fazer para cumprir as expectativas...

Lisboa foi eleita pelos consumidores europeus como o "Melhor Destino Europeu de 2010". O potencial turístico da cidade é fantástico e é reconhecido. Mas o que é que estamos a fazer para o valorizar melhor? Há muito a fazer para cumprir as expectativas criadas.

Lisboa tem uma das maiores áreas históricas anteriores ao século XIX do mundo. A cidade está situada num cenário natural de colinas e rio e rodeada por praias, serras e parques naturais. Para além disso, tem uma vida nocturna animada e uma oferta cultural interessante. Os turistas sabem apreciar isto.

No entanto, tantos ficam alojados acima do Marquês de Pombal em hotéis fora da zona histórica.

O facto de Lisboa ter uma zona histórica de grande escala com muitos edifícios históricos a necessitar de restauro, não se traduziu ainda numa oferta turística diferenciada, que coloque a maioria dos turistas no centro das zonas que estes querem visitar, em espaços que, com maior ou menor luxo, sejam únicos.

Este quadro melhorou nos últimos anos, com a abertura de vários hotéis de charme, no Bairro Alto, no Rossio, em Belém ou na Avenida da Liberdade. Mas são ainda poucos.

E há várias oportunidades a pedir para serem aproveitadas. Basta pensar no que se poderia fazer no Convento da Graça, ou no do Chiado, ou em inúmeros palácios, quartéis, conventos e outros edifícios que estão subaproveitados ou mesmo quase em ruínas.

Quem conhece a obra de Souto Moura em Santa Maria do Bouro pode imaginar o potencial que estes espaços teriam. Poderiam nascer aí hotéis que, respeitando os espaços históricos, se tornassem verdadeiros estandartes na promoção de uma imagem única, que contribuísse para manter Lisboa como melhor destino na próxima década.

Potenciar o título conquistado deve passar por convencer as pessoas a voltar, ou a ficarem mais uma noite, prolongando o fim-de-semana.

Uma estratégia que considere isso deve pensar também em melhorar a ligação entre a cidade e o que está ao seu redor. Há oportunidades ainda pouco exploradas de ofertas que incluam juntar estadias em Lisboa e na praia, que reforcem o potencial da proximidade a Sintra, Cascais, à Arrábida, a Óbidos ou a Évora. A frente de rio de Cacilhas, com uma das melhores vistas sobre a cidade a 10 minutos de barco, o Cabo Espichel, e as zonas militares ao longo da Marginal, são só alguns exemplos de desperdício. O aproveitamento da cidadela em Cascais, um bom exemplo de que nos últimos anos se fizeram progressos importantes.

Há grandes opções estratégicas que já foram assumidas e que podem ajudar a trazer mais turistas na próxima década, como o Novo Aeroporto ou a ligação em Alta Velocidade a Madrid.

Mas para além destas grandes decisões, há outras, de média dimensão, como a recuperação da Baixa, o aproveitamento do Terreiro do Paço, o reforço dos incentivos à recuperação de edifícios nas zonas históricas, ou a valorização da frente de Rio. Perante o sucesso dos barcos no Douro, pergunto-me se o Tejo não é uma oportunidade por descobrir.

Há ainda o reforço da oferta cultural e a melhor divulgação e adaptação desta a quem nos visita. O programa que se desenvolveu no Algarve teve forte adesão de estrangeiros e portugueses a uma iniciativa que contribuiu para reforçar a diferenciação do destino Portugal. Falta, por exemplo, um site onde se agrupem eventos culturais que estão a acontecer na cidade.

Valorizar a vida nocturna, promovendo-a, em vez de proibir, reforça uma das marcas da cidade.

Mas existem muitas outras coisas que podem ser melhoradas sem necessidade de grandes meios financeiros, que podem fazer um grande diferença.

Por exemplo, uma maior fiscalização da atitude de alguns taxistas do aeroporto poderia evitar más aterragens na realidade lisboeta. Garantir com um autocarro uma ligação de forte intensidade ao metro, alargar os horários dos museus (veja-se o caso do museu do Oriente - o único aberto à segunda), ter algum cuidado extra com o estado dos passeios e a duração de obras e melhorar as indicações nos trajectos turísticos, são outros exemplos.

O potencial turístico da capital é um importante recurso, uma vantagem comparativa que temos de aproveitar cada vez melhor.

Departamento de Economia, Universidade do Minho.

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