"Bad bank turned good"! Coelho e Gaspar: só um tem razão...
Vertigem de 36 anos, assente no crédito externo. Mas a torneira deste fechou e a solução, temporária, foi a de colocar a dívida do Estado e das empresas do sector público empresarial junto dos bancos domésticos.
Vertigem de 36 anos, assente no crédito externo. Mas a torneira deste fechou e a solução, temporária, foi a de colocar a dívida do Estado e das empresas do sector público empresarial junto dos bancos domésticos. Até que chegou a troika e obrigou os bancos a reduzirem o rácio crédito/depósitos. Como uma boa parte do crédito estava concedido ao Estado e afins, o único recurso seria o de cortar o financiamento às empresas privadas e às famílias. Interrompendo o processo de criação de massa monetária, reduzindo de forma drástica a liquidez na Economia. Vem nos livros anglo-saxónicos. Chama-se credit crunch e tem um impacto sobre a economia real maior, muito maior, que cortes de pensões ou de salários ou outras medidas avulsas.
Mas existe uma solução. O primeiro ministro aludiu-lhe, mas o ministro das finanças recusou-a. Chama-se bad bank . Uma entidade juridicamente autónoma. Não é uma solução nova no mundo... na década de 90 utilizara-na os suecos, primeiro. Os EUA, pouco depois, com a Resolution Trust Corporation que ajudou a resolver de forma decisiva a crise das Savings and Loans Companies (bancos hipotecários). Há um par de anos na França e na Alemanha a solução foi também adoptada. E já no início deste mês de Outubro, o governo belga anunciou que criaria um bad bank para comprar e isolar os activos tóxicos do banco Dexia.
Activos tóxicos? Sim, dívida soberana de um país do Euro, no caso em apreço a da Grécia... Uma grossa fatia dos 95 milhares de milhão de euros de activos que receberá o bad bank . Este, como em casos similares, comprará os activos tóxicos através de emissão de obrigações garantidas pelo estado belga. Criar uma entidade juridicamente separada do Dexia tem várias vantagens, sobre a não solução de nada fazer: permite ao banco voltar a ter níveis de liquidez para retomar os empréstimos à economia (uma pequena economia aberta, também...); concentra a gestão do Dexia nas funções bancárias tradicionais; permite uma melhor concentração e especialização na recuperação do valor das carteiras de activos do bad bank através da nomeação de uma gestão especializada para o efeito. Mais importante, minimiza o potencial de perdas para a sociedade e possibilita ao banco comercial recuperar a confiança dos investidores institucionais.
Na Suécia, em 1992, foi estabelecido um bad bank denominado Securum, recebendo os activos tóxicos que valiam cerca de 12% do PIB. Ao fim de cinco anos, o Securum foi dissolvido e conseguiu, através de uma gestão autónoma e competente, que as perdas efectivas fossem apenas um sexto do potencial. Mais recentemente, na discreta mas eficiente Suíça, o Banco Nacional criou um bad bank para resolver os problemas dos activos tóxicos do UBS, seguindo o modelo sueco. Alguém ouviu falar em crise de liquidez na Suiça? Claro que não... soluções eficientes não dão paragonas nos jornais...
O Reino Unido resolveu ser original... Ao invés de criar um bad bank , Gordon Brown injectou directamente dinheiro dos contribuintes no capital dos bancos, diluindo as posições accionistas privadas. E continuou a injectar... sem que o fim esteja à vista. A ilação sueca: uma vez tendo percebido a natureza sistémica da sua crise, o governo actuou de forma decisiva, com clareza de propósitos. Retirar os activos tóxicos, promovendo a sua gestão e recuperação autónoma, é mais eficiente que meras operações de recapitalização.
O problema está nos activos, originados em empréstimos ao Estado, e não nos capitais próprios dos bancos... Porque o estoiro na concessão de crédito tem um efeito multiplicador sobre a actividade económica: emprego, exportações, investimento... E os efeitos directos e indirectos desta secagem de crédito à economia vão fazer parecer insignificantes os impactos das medidas de austeridade do Orçamento do Estado para 2012... Quer Portugal ser original ou usar medidas testadas pelo tempo?
Director Bancário e Economista, www.antonuco.blogspot.com, Convidado da PG em Marketing Digital do ISGB - Instituto Superior de Gestão Bancária.
Convidado da PG em Marketing Digital do ISGB - Instituto Superior de Gestão Bancária.
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