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A solidão do poder autoritário

Cinco homens marcaram o século XX na forma solitária e autoritária como conduziram os seus países e os seus povos. Não custa ver, numa Europa estilhaçada dos dias de hoje, sinais semelhantes àqueles que permitiram a estes homens chegar ao poder. A história repete-se. E nem sempre como farsa.

06 de Janeiro de 2017 às 12:00
A solidão do poder autoritário

Como escreve o autor, para nos guiar neste labirinto histórico: "Estaline nasceu em 1878, Mussolini em 1883, Hitler e Salazar em 1889, Franco em 1892. Catorze anos separam o mais velho do mais novo. Mussolini, o primeiro a tomar o poder, foi nomeado chefe do Governo em Outubro de 1922, depois da marcha sobre Roma; Estaline, em 1929, já mandava em todas as Rússias e pôde expulsar o 'renegado Trotsky'; Salazar era ministro das Finanças da ditadura nacional em Abril de 1928 e presidente do Conselho em 1932; Hitler foi chanceler do Reich em Janeiro de 1933; e, em Outubro de 1936, catorze anos passados sobre a tomada de poder por Mussolini, Francisco Franco é aclamado pelos generais rebeldes chefe da Espanha nacional. Catorze anos, outra vez, entre o primeiro e o último a alcançar o poder.

A solidão do poder autoritário

Depois há o outro lado, como descreve Jaime Nogueira Pinto: "São homens sozinhos, secretos, que, mesmo quando têm família, ou amantes, ou amigos, marginalizam ou secundarizam os afectos. Até Mussolini, o mais humano dos cinco, é assim. Todos têm grande desprezo pelos bens materiais, embora não dispensem a pompa e a circunstância da vida pública, da qual cuidam até ao mais ínfimo pormenor. Vivem para o poder e só para o poder, que usam para fins ideológicos, que às vezes se confundem com visões utópicas, precipitando-se em apocalipses wagnerianos, para acabarem em purgas e campos de extermínio ou se perderem nos corredores escuros das prisões e dos degredos. Todos querem dobrar a História; os revolucionários, como Estaline, Mussolini e Hitler, para a fazer avançar para um qualquer admirável mundo novo; os conservadores ou reaccionários, como Salazar e Franco, para a tentar parar ou domesticar." Não deixa de ser curioso aquilo que o autor refere: a visão da História é diferente. Uns querem mudá-la para sempre, outros buscam redescobrir os velhos valores que se estão a perder. Por isso, os extremos tocam-se nesta evolução histórica.

Jaime Nogueira Pinto baliza o surgimento de Oliveira Salazar num país descrente com uma I República tumultuosa e um início de Revolução Nacional (nascida em 1926) que continuava a ter problemas de sustentação, fosse económica, fosse ideológica. O autor descreve o tempero onde a Europa era cozinhada: "Na política europeia, a reacção anti-individualista e antiliberal vinha de duas frentes: uma, assinada pelos partidos e movimentos de esquerda radical, preparava a contestação da sociedade burguesa e capitalista para, sobre as suas ruínas, instalar a ditadura do proletariado, seguindo uma matriz de tipo soviético; outra, de direita, seguia uma linha de nacionalismo e de defesa do interesse nacional. Nesta área, como mera contenção das forças radicais de esquerda que ameaçavam a unidade nacional e a ordem social, surgiam as ditaduras e soluções militares, como as dos Balcãs e da Europa Oriental; mas também surgira o fascismo italiano que, além do nacionalismo, do antiliberalismo e do anticomunismo, tinha uma dimensão de justicialismo social. Ao contrário dos sistemas autoritários tradicionalistas ou direitistas, o fascismo apresentava soluções modernizantes e revolucionárias, buscando também um 'homem novo' e retirando o exclusivo da mudança ao liberalismo e ao comunismo."

A II Guerra Mundial iria fazer implodir o fascismo italiano e o nazismo. Pelo contrário, Estaline, vitorioso, continuaria no poder. Salazar e Franco, poupados à guerra, continuaram no poder até à sua morte. Todos eles acabaram por ser determinantes na História da Europa e do mundo. Uns mais do que outros. Mas, ainda hoje, a sua impressão digital está presente nas sociedades que modelaram durante tanto tempo. Não custa ver, numa Europa estilhaçada dos dias de hoje, sinais semelhantes àqueles que permitiram a estes homens governar de forma totalitária os seus países. A História repete-se. E nem sempre como farsa. Este livro oferece-nos excelentes pistas para percebermos uma época. E para, à luz desses tempos, entendermos melhor o que se passa nos nossos dias.

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