Mercado laboral nos EUA encolhe 911 mil empregos após revisão oficial
O mercado de trabalho norte-americano revelou-se ainda mais débil do que os números inicialmente indicavam. O Departamento do Trabalho reviu em baixa o crescimento do emprego no período compreendido entre abril de 2024 e março de 2025, concluindo que foram criados menos 911 mil postos de trabalho do que o reportado anteriormente.
A correção preliminar, divulgada esta terça-feira, mostra que o abrandamento já estava em curso antes de a economia sentir em pleno os efeitos das tarifas comerciais impostas pela Administração Trump.
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Segundo a Bloomberg, os dados significam que, em média, os EUA criaram cerca de 76 mil empregos por mês a menos do que se julgava. Antes da revisão, o governo apontava para um total de 1,8 milhões de vagas criadas no período, ou seja, cerca de 149 mil por mês.
O ajustamento revela que o mercado vinha a crescer de forma mais moderada e condicente com o enfraquecimento registado nos últimos meses. Em agosto, foram criados apenas 22 mil empregos, abaixo da previsão de 75 mil. Para além disso, o desemprego atingiu os níveis mais altos desde 2021.
A revisão é parte do processo anual de “benchmarking” do Bureau of Labor Statistics (BLS), cujos valores finais só serão publicados em fevereiro. No entanto, os números já acrescentam pressão sobre a Reserva Federal para agir rapidamente. “O fraco relatório de agosto sela a decisão de um corte de juros na reunião de setembro”, nota a Bloomberg, recordando que o próprio Jerome Powell reconheceu em Jackson Hole que os riscos para o emprego aumentaram.
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Apesar de os ajustamentos serem regulares, este ano ganharam uma carga política excecional. Em agosto, Donald Trump demitiu a comissária do BLS, Erika McEntarfer, depois das revisões negativas a maio e junho, acusando-a de manipular dados sem apresentar provas. O presidente nomeou entretanto E.J. Antoni, um economista crítico da própria publicação mensal dos “payrolls”, o que gerou controvérsia no meio académico e empresarial. A Associação Nacional de Economistas Empresariais apelou mesmo a que se defenda a independência estatística do BLS, “para que os números dos EUA permaneçam precisos, independentes e confiáveis a nível global”.
Os analistas sublinham que a debilidade laboral não pode ser dissociada de outros fatores estruturais. A Reuters destaca a redução da oferta de trabalhadores devido ao endurecimento da política migratória e a crescente automação e uso de inteligência artificial, que reduzem a procura de mão de obra. Para a Fitch Ratings, este é “um sinal de alerta ainda mais alto” do que o soado no mês passado e a Fed deve agora dar prioridade à estabilidade do emprego face ao objetivo de inflação.
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Com a reunião da Fed marcada para os dias 16 e 17 de setembro, os mercados dão como praticamente certo um corte das taxas diretoras. O enfraquecimento mais profundo do mercado laboral, agora confirmado pelas revisões, deixa pouco espaço para alternativas.
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