Crise política: Três semanas depois... Governo mantém-se
A demissão de Vítor Gaspar aconteceu a 1 de Julho e abriu a crise política. Foram três semanas de suspense. Não houve acordo de salvação nacional e, no final, Cavaco Silva manteve o Governo em funções.
1 de Julho
Vítor Gaspar anuncia demissão numa carta tornada pública. “É minha forte convicção que a minha saída contribuirá para reforçar a sua liderança e a coesão da equipa governativa”.
No mesmo dia anuncia-se a substituta. Maria Luís Albuquerque, até então secretária de estado do Tesouro, passará a ser ministra das Finanças.
2 de Julho
Minutos antes da tomada de posse de Maria Luís Albuquerque como ministra das Finanças, a notícia surgiu: Paulo Portas demitia-se do Governo de forma “irrevogável” em discordância com a escolha de Passos Coelho para o lugar de Vítor Gaspar. “Ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível”, dizia Paulo Portas numa carta também ela tornada pública.
A crise política estava oficialmente aberta e levou Passos Coelho ao Presidente da República. Após a reunião, fez a declaração ao País, onde anunciou não aceitar a demissão de Paulo Portas e que "nas próximas horas procurarei junto do CDS clarificar e garantir todas as condições de estabilidade para o Governo e para o país para superar a crise nacional”. Começam as reuniões entre PSD e CDS.
3 de Julho
Passos Coelho mantém a agenda e vai a Berlim falar de desemprego jovem. Mas na reunião encontrou-se com os credores e com Angela Merkel. Passos Coelho volta a Lisboa para se reunir com Paulo Portas, depois de uma queda na bolsa de Lisboa superior a 5%. António José Seguro é recebido em Belém por Cavaco Silva, a quem pede que convoque eleições antecipadas
4 de Julho
Passos Coelho e Paulo Portas continuam reuniões. Conselho de Ministros realiza-se sem o ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros. Passos Coelho reúne-se com Cavaco Silva a quem terá apresentado uma primeira solução para a crise da coligação depois de três reuniões com o líder do CDS. "Comprometi-me junto do Presidente da República a encontrar a melhor fórmula de garantir a melhor solução para esta situação", declarou Passos Coelho à saída da reunião. Neste dia, Mário Draghi, presidente do BCE, elogia Maria Luís Albuquerque. E o PS reúne a comissão política.
5 de Julho
Cavaco Silva começa o seu dia a ouvir cerca de 40 economistas sobre o pós-troika. CDS adia Congresso Nacional que deveria decorrer no fim-de-semana para eleger os novos órgãos sociais. Reuniões entre Portas e Passos Coelho continuaram nesta sexta-feira e o primeiro-ministro apresentou neste mesmo dia a Cavaco Silva a sua solução para resolver a crise política.
6 de Julho
Direcções do PSD e CDS reúnem-se. Ao final do dia Passos Coelho faz conferência de imprensa onde anuncia o acordo com o CDS, ao lado de um Paulo portas silencioso. “Este acordo reúne as condições políticas necessárias para o Governo chegar ao fim da legislatura e assegurar o cumprimento das nossas obrigações internacionais", declarava Passos Coelho que aceitou Paulo Portas como vice-primeiro-ministro e com a coordenação da área económica e das negociações com a troika.
7 de Julho
Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas, sem declarações, juntaram-se na cerimónia de entrada na Diocese do novo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, nos Jerónimos, onde Passos coelho e Cavaco Silva foram aplaudidos.
8 de Julho
Cavaco Silva começa reuniões com partidos políticos. Recebe “Os Verdes”, Bloco de Esquerda e PCP. Todos pedem eleições antecipadas. E ainda recebe Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. Maria Luís Albuquerque estreava-se em Bruxelas como ministra das Finanças, onde decorreu o Eurogrupo (segunda-feira) e o Ecofin (terça-feira).
9 de Julho
Cavaco Silva continuou reuniões com partidos. Nesta terça-feira foi a vez do PS, CDS e PSD. E ainda recebeu as confederações patronais.
10 de Julho
11 de Julho
Cavaco Silva reúne-se com os líderes dos três partidos: PS, PSD e CDS para que iniciem negociações. Seguro, Passos Coelho e Portas reúnem direcções dos partidos. Aceitam negociar, mas o PS quer todas as forças políticas envolvidas.
12 de Julho
13 de Julho
Bloco de Esquerda e PCP excluem-se do processo negocial. PS avança com o nome de Alberto Martins para o seu negociador que encontrará Jorge Moreira da Silva do PSD e Mota Soares do CDS também como negociadores.
14 de Julho
Começa o processo de diálogo inter-partidário com a discussão da metodologia de trabalho e tendo-se fixado o prazo de uma semana para concluir os trabalhos.
15 de Julho
A troika não chegou a Portugal, como estava previsto, para iniciar a oitava avaliação, nem os diplomas da função pública e reforma do Estado entraram no Parlamento.
CDS atira Congresso do partido para depois das autárquicas em 29 de Setembro.
16 de Julho
Bloco de Esquerda propõe ao PS negociar um Governo de esquerda, que incluísse também o PCP. PS diz não fazer sentido processos paralelos. Na reunião interpartidária deste dia participou Maria Luís Albuquerque.
17 de Julho
Reuniões continuaram noite fora. Neste dia, o comunicado dizia que “as delegações reafirmam que as negociações embora exigentes estão a decorrer sem intransigência e com espírito de abertura”. À uma da manhã as reuniões foram interrompidas.
18 de Julho
Cavaco Silva faz visita às ilhas Selvagens e na conferência de imprensa elogia a demonstração dos partidos na vontade de chegarem a acordo. “Quero sublinhar o sentido de responsabilidade que todos o partidos estão a demonstrar”. E acrescentava: “Continuo a confiar no sentido de responsabilidade dos partidos políticos”, mas “não tenho garantia que no final haverá um acordo”.
PS adia comissão política devido ao processo de diálogo, mas segundo o jornal “Público” António José Seguro reuniu-se com líderes distritais do partido.
Conselho Nacional do PSD, onde Passos Coelho, numa declaração pública, afirma que no processo negocial entre os três partidos do arco da governação “não há concessões a fazer”, porque não se trata de um “negócio” ou um “regateio”.
19 de Julho
Cavaco Silva, regressado das Ilhas Selvagens, reúne com Passos Coelho, António José Seguro e Paulo Portas, em encontros separados, depois de nove reuniões interpartidárias.
António José Seguro faz declaração: “PSD e CDS inviabilizaram compromisso de salvação nacional”. Ironicamente a 19 de Julho de 1987 Cavaco Silva, então primeiro-ministro, ganhava a primeira maioria parlamentar de um só partido.
21 de Julho
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