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Como a PT vendeu a Vivo pelo triplo do valor

Em Maio, a Vivo valia 2,3 mil milhões de euros. Dois meses e meio depois, a PT vendeu por 7,5 mil milhões. Veja como.

28 de Julho de 2010 às 01:48

Com muitos incidentes pelo meio (de uma hostilidade total entre PT e Telefónica até uma intervenção do Estado Português sem precedentes), a Portugal Telecom acaba por vender a Vivo por um valor "de sonho". Olhando em retrospectiva, foi tudo uma longa negociação?

Pré-história: dois mil milhões

Quando, em 2006, a Sonaecom lançou uma OPA hostil sobre a PT, oferta que seria inviabilizada em Assembleia Geral já de 2007, Belmiro de Azevedo assumia que a Vivo era para vender. O "patrão" da Sonae via na Vivo um sorvedouro de dinheiro - a Vivo dava ainda prejuízo - e teria comprador: a própria Telefónica. Os espanhóis, recorde-se, votariam ao lado da derrotada Sonae, o que levou o "núcleo duro" português a afirmar desde então que Sonae e Telefónica eram aliadas na OPA. O preço de venda que então era daco como certo era próximo dos dois mil milhões de euros. Há três anos.

História começa em privado: cinco mil milhões

O primeiro "lance" da oferta da Telefónica para comprar a Vivo só seria conhecido muitos meses depois, já se ia no quarto lance. Na Assembleia Geral da Portugal Telecom, o presidente do Conselho de Administração, Henrique Granadeiro, revelou que a Telefónica começara por apresentar junto da PT a disponibilidade de oferecer cinco mil milhões de euros. Não foi especificada a data dessa primeira oferta, mas sabe-se que foi este ano. A PT garantiu que recusaria essa proposta, razão pela qual ela não seria formalmente apresentada. Mas foi aí que os ânimos começaram a aquecer.

Primeira oferta pública: 5,7 mil milhões

A 11 de Maio de 2010, a notícia cai como uma bomba... excepto para a PT, que já a esperava. A Telefónica anuncia uma oferta de 5,7 mil milhões de euros para comprar a posição da PT na Brasilcel, "holding" que controla perto de 60% do capital da Vivo (o remanescente está disperso em Bolsa). A Telefónica garante que essa proposta é justa e final. Mas não seria. Foi recusada num ápice pela Administração da PT, contra a opinião da Telefónica, que a queria levar a Assembleia Geral. Formalmente, a Administração é que tem poder para aceitar ou recusar uma oferta destas. Mas, se recusar contra o interesse dos accionistas, correria o risco de ser por eles processada. Ou mesmo destituída. A hostilidade ganha escala e fala-se mesmo de OPA hostil sobre a própria PT.

Afinal a proposta não era final: 6,5 mil milhões

A 1 de Junho, a Telefónica faz uma nova proposta, desta feita de 6,5 mil milhões de euros. O anúncio terá já garantido que alguns accionistas aceitam a proposta. Começa uma aparente tensão dentro do núcleo accionista da PT, havendo já quem quer vender. Formalmente, todos continuam a dizer que não. Mas o Conselho de Administração entende que, mesmo estando contra a venda da Vivo a este preço, devem ser os accionistas a deliberar. E convoca a Assembleia Geral para final de Junho.

In extremis: 7,15 mil milhões

A 29 de Junho, na véspera da Assembleia Geral, a administração da PT está confiante: tem do seu lado a maioria dos accionistas, que votarão contra a oferta de 6,5 mil milhões. Mas perto das 23 horas da noite, a apenas 11 horas do início da Assembleia Garal da PT, a Telefónica anuncia uma última proposta para ganhar: 7,15 mil milhões de euros. A proposta não dá tempo à Administração da PT para se pronunciar e todos entram na Assembleia Geral com uma sensação: o negócio foi fechado na véspera com o BES e a Ongoing. A votação na Assembleia Geral assim o confirma. Mas eis que se dá um golpe de teatro, totalmente inesperado: o Estado usa a "golden share" e veta politicamente o negócio. Nunca tinha acontecido em Portugal.

Depois do apito final: 7,5 mil milhões

Depois da Assembleia Geral, a Telefónica fica furiosa com o Estado Português mas mantém a sua oferta até dia 16 de Julho. Até lá, decorrem negociações entre PT e Telefónica e entre PT e Oi, para garantir uma alternativa no Brasil que viabilize a aprovação do Governo de José Sócrates. Durante esse período, sabe-se agora, a Telefónica subiu uma vez mais o preço, "arredondando" nos 7,5 mil milhões de euros. Mesmo assim, o prazo chega ao fim sem acord: falta a Oi. A Telefónica dá as negociações por terminadas mas a PT não.

Como disse Ricardo Salgado, numa frase que marcaria todo este processo, "tudo na vida tem preço e a Vivo também tem preço". Ei-lo: 7,5 mil milhões de euros.

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