Braço de ferro entre superpotências obriga a investimento na defesa
O aumento da despesa em PIB, um território mais vasto e o mundo em autodestruição. Este foi o painel que abordou os investimentos que têm de ser feitos e como Portugal precisa de colocar o pé no acelerador para vingar na defesa.
O mundo está instável, com as guerras entre geografias e um setor a precisar de um "boost" obrigatório para acelerar a defesa própria. Esta é a conclusão do painel "Tecnologia, Espaço e Defesa - Uma Nova Era" da conferência anual do Negócios, cujos participantes alertaram que a competição entre superpotências está a forçar os investimentos.
"O período de instabilidade e de guerra está para continuar. Vai estar aceso enquanto decorre a transição de poder entre os EUA, que está em declínio, e a República da China, que está a 'reganhar' a posição que considera ser sua", diz Madalena Meyer Resende, do Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Os conflitos armados na Ucrânia e Médio Oriente são exemplo disso. "Temos um novo mundo em que a guerra é a forma de competição das grandes potências. Enquanto não houver uma balança de poder entre as principais superpotências, não há diplomacia que impeça a guerra", sendo esta uma forma de "estabelecer poder", alerta a professora.
Questionado sobre o papel da diplomacia, Nuno Coutinho, Head of OGMA Institutional Affairs, recorda a Segunda Guerra Mundial, em que também existiu cedência de espaços geográficos. "Se houve diplomacia, ela falhou".
Contudo, o responsável admite que há uma oportunidade para a Europa. "A Europa pode organizar-se e criar a sua independência dos EUA, nunca largando o eixo transatlântico, embora com menos confiança. Mas a Europa tem que ter esse músculo, seja pela defesa ou pelo que for criado. A Europa não é os EUA, que tem problemas entre estados", lembra. O único risco passa pelo facto da Europa poder não ter outra oportunidade para se reorganizar.
Já Pedro Sinogas, fundador da POST77, aponta o dedo à necessidade tecnológica. "Temos parar de nos iludir. A tecnologia faz a diferença", atira, lembrando que a Europa tem de acordar e abandonar a postura "pacífica e regulamentar" para começar a apostar na tecnologia e inovação.
Para o empresário, o atraso coloca a Europa atrás dos outros. "Não vamos ter IA ou tecnologia que nos ponha a par com os EUA ou a China. Temos o talento, capacidade, investigação para estarmos a par ou à frente. Temos de ter coragem", diz.
Portugal pode apanhar o comboio?
A resposta não abona a favor. "O rearmamento na Europa tem de ser pensado a nível continental, mas temos más notícias para Portugal e para os países do sul", adianta Madalena Meyer Resende, explicando que os países do norte e do leste estão a posicionar-se à frente da batalha, dando o exemplo da Alemanha e da Polónia.
Nuno Coutinho diz que o dinheiro a entrar em Portugal passa dos 10 mil milhões de euros, mas que isso não significa que o país tenha a força necessária para fazer os investimentos. "Somos bons a planear e depois não executamos, e entramos num ciclo vicioso", diz. Agora, Portugal pode entrar nos eixos, dado que o investimento "vai estar concentrado na modernização e aquisição de novos equipamentos".
É então que a conversa entra a substituição dos F-16, cujo processo ainda não arrancou.
O painel recorda que a substituição dos F16 têm de trazer "retorno económico" para o país. "O ministro disse que quando o processo for lançado, o mercado é o mundo livre. Isso quer dizer que vão acontecer mudanças do outro lado do oceano, e que as opções europeias são consideradas", lembrando que os franceses da Airbus e os suecos da Saab Gripen estão a aliciar o Governo para serem escolhidos em detrimento dos americanos Lockheed Martin.
Também as fragatas da Marinha serão modernizadas, o que para Pedro Sinoga é um bom sinal, porque Portugal tem de ser olhado como um todo, especialmente devido à área marítima que rodeia a terra.
Admitindo puxar a brasa à sua sardinha, o fundador da POST77 assegura que o investimento em meios co-utilizados é uma vantagem. "Com recursos humanos, IA e meios não tripulados conseguimos alargar a capacidade de combate e autonomia. Em oposição, podemos dar um saco de ouro aos norte-americanos", ironiza.
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