Dos impostos aos salários. Seis propostas da CMVM para incentivar poupança
Na semana mundial do investidor, o supervisor da bolsa publicou um estudo em que aponta propostas para estimular a poupança de longo prazo em Portugal. A tributação é o tema central.
A fiscalidade é o ponto central no incentivo à poupança de longo prazo. É a conclusão do estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) sobre o tema, que aponta seis grandes medidas, sublinhando a importância de fomentar o aforro das famílias portuguesas, que tem vindo a diminuir e está na sua larga maioria estacionado em depósitos.
"A poupança de longo prazo assume um papel fundamental na melhoria da segurança financeira e do bem-estar das pessoas e das famílias bem como no financiamento das empresas e da economia em geral. A constituição de poupanças de longo prazo mostra-se, no entanto, muito desafiante e não raras vezes difícil, em especial pelas famílias", aponta o documento publicado na Semana Mundial do Investidor.
É por isso que os Estados incentivam e apoiam a formação dessas poupanças, designadamente através de benefícios fiscais. Portugal já inclui alguns destes benefícios no seu sistema fiscal, mas o supervisor considera que são precisos mais. Aponta assim seis medidas:
1. Tributação favorável para o novo "PPR europeu"
O Produto de Reforma Pan-Europeu (PEPP) - que entrou em vigor em março de 2022 e cuja regulamentação a nível nacional foi prometida pelo Governo até final deste ano - é alvo da primeira recomendação. A CMVM pede a criação de um regime fiscal do PEPP "alinhado com o do regime público de capitalização".
Esse alinhamento implicaria deduções à coleta dos contribuintes que subscrevam PEPP, isenção de tributação das carteiras de investimento dos PEPP e tributação mais favorável dos pagamentos feitos pelos PEPP a favor dos seus subscritores quando mais tarde acederem aos benefícios.
2. Fundos de investimento europeus
2. Fundos de investimento europeus
3. Contas poupança ao género de PPR
A segunda proposta da CMVM é a criação de planos ou contas individuais de poupança reforma sujeitos ao regime dos planos de poupança e reforma (PPR). Ou seja, seriam contas nas quais os aforradores poderiam colocar as suas poupanças, até um certo montante, e nelas adquirir e transacionar instrumentos financeiros.
4. Reformulação da coleta do IRS
A reformulação e incremento da dedução à coleta do IRS dos montantes aplicados em produtos de poupança de longo prazo para a reforma (consoante várias possíveis vias para o efeito) é vista como necessária para incentivar a poupança de longo prazo.
5. Reinvestimento de capital em fundos com tributação adiada
O diferimento da tributação do resgate ou reembolso dos fundos de investimento em caso de reinvestimento é também uma das medidas. Em caso de transferências entre fundos, a respetiva tributação passaria a ser feita apenas no momento em que o investidor saia do circuito dos fundos de investimento e a taxas tanto mais favoráveis quanto maior o período de permanência do investimento nesse circuito.
6. "Matching contributions"
Fora do domínio dos impostos, a CMVM propõe ainda a criação de programas para incentivar a poupança de longo prazo através do estabelecimento de um compromisso prévio entre empresas e trabalhadores em relação à poupança de futuros aumentos salariais. Essas "matching contributions" permitiriam o diferimento da tributação do resgate ou reembolso em caso de reinvestimento, segundo o supervisor.
"A poupança para a prossecução de objetivos específicos de longo prazo permite aumentar os fundos próprios das famílias para a realização dessas despesas, diminuindo o recurso ao crédito, o esforço mensal das famílias associado à contração de crédito e o risco de incumprimento para o setor financeiro", sublinha.
A CMVM acrescenta que a aplicação de poupanças de longo prazo em instrumentos financeiros tende a apresentar vantagens, visto que o retorno das poupanças neles aplicadas tende a ser superior ao de outros produtos financeiros como, por exemplo, os depósitos bancários.
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