Da China ao imobiliário, nove sinais de alerta para o FMI
No Relatório de Estabilidade Financeira Global, o FMI sublinha que a recente turbulência mostra as vulnerabilidades das políticas dos bancos centrais, mas há outras preocupações na mente de Kristalina Georgieva.
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Refinanciamento fica mais caro
A inflação persistentemente acima da meta deverá levar os bancos centrais a manterem a estratégia de redução dos estímulos monetários: juros mais elevados e redução da dívida que detêm no balanço. Estes processo tem, contudo, riscos para países e empresas devido ao agravamento dos custos de financiamento. "O impacto de política monetária e condições financeiras mais apertadas pode ser amplificado pela alavancagem, desalinhamento entre ativos e liquidez, e elevados níveis de interconexão entre intermediários financeiros não financeiros e instituições bancárias tradicionais", avisa o Fundo Monetário Internacional (FMI) no mais recente Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado esta terça-feira.
Desafios significativos para os emergentes
Há atualmente 12 países a negociar com "spreads" em nível de stress e outros 20 com "spreads" superiores a 700 pontos base, um nível historicamente visto como desafiante. Apesar dos mercados emergentes se terem mantido até agora acima da linha de água, "podem enfrentar desafios significativos" com a mudança de sentimento e a retirada de capital do mercado. "As métricas de sustentabilidade da dívida soberana continuam a piorar por todo o mundo", diz a autoridade.
Famílias vulneráveis sem poupanças
Olhando além das instituições financeiras, o FMI nota igualmente que a grande quantidade de poupanças acumuladas pelas famílias durante a pandemia está a ser corroída pelo agravamento dos custos da dívida, deixando-as mais vulneráveis ao risco de incumprimento.
Empresas com menos lucro e capital
Já no caso das empresas, as taxas de incumprimento têm se mantido baixas graças às almofadas de capital criadas durante a pandemia. Ainda assim, o declínio nos lucros e as condições de financiamento mais restritivas já estão a causar uma erosão desses amortecedores e poderá gerar dificuldades de fazer face às obrigações financeiras, expondo as empresas ao risco de incumprimento. Empresas mais pequenas e em mercados emergentes poderão ser mais afetadas dadas as poucas alternativas de financiamento em relação à banca e aos critérios de concessão de capital aos quais estão sujeitas.
Menos crédito gera correção nas casas
Devido aos maiores custos dos empréstimos, a procura por crédito à habitação já está a arrefecer a procura por casas a nível global. Nos mercados emergentes, o preço médio das casas caiu mesmo uma média de 60% na segunda metade de 2022, enquanto nos países desenvolvidos o crescimento dos preços também desacelerou, em menor escala. "As avaliações mantém-se esticadas nalguns países, aumentando o risco de acentuada correção nos preços, se os juros subirem rapidamente", alerta o FMI.
Imobiliário comercial centra preocupações
O organismo explica que têm havido crescentes preocupações sobre as condições no mercado de imobiliário comercial, que estado sob pressão face a fundamentos menos sólidos e custos de financiamento mais elevados. Nos EUA, bancos com ativos inferiores a 250 mil milhões de dólares representam três quatros do crédito bancário a este mercado pelo que "a deterioração na qualidade dos ativos teria repercussões significativas tanto na rentabilidade como no apetite para a concessão de crédito". Além dos bancos, também os fundos e seguradoras têm uma forte exposição ao imobiliário comercial, o que alarga as potenciais implicações.
China ainda não saiu do radar
São diversas as preocupações do FMI que se centram no crédito à habitação e mercado imobiliário. Além do comercial, também a China se mantém no radar da organização. Apesar da reabertura do país após as apertadas políticas de combate à pandemia, o mercado imobiliário chinês mantém-se "fraco". O FMI refere que as condições de financiamento estão a melhorar para alguns promotores (que centraram preocupações no ano passado), os compradores continuam a evitar operadores privados, o que limita o progresso e a reconstrução da confiança no setor. Da mesma forma, "as preocupações com a sustentabilidade da dívida dos veículos financeiros das autoridades locais - que estão fortemente envolvidos com o mercado imobiliário - intensificaram-se em 2022", acrescenta o FMI.
Financeiras estão muito alavancadas
O relatório aponta para entidades financeiras não bancárias (NBFI, na sigla em inglês) como é o caso de seguradoras, fundos de pensões ou "hedge funds". Como nota o FMI, o crescimento deste setor acelerou após a crise financeira, contando atualmente com quase 50% dos ativos financeiros a nível global, pelo que o seu bom funcionamento é vital para a estabilidade financeira. A par do crescimento rápido, na última década as vulnerabilidades aumentaram, ficando agora visíveis com o aumento das taxas de juro dos bancos centrais para travar a inflação. Um dos riscos mais patentes é o recurso a endividamento para investir.
Tensões geopolíticas agravam fragmentação
A par dos riscos específicos aos mercados financeiros, o FMI alerta ainda que as crescentes tensões geopolíticas entre grandes economias podem aumentar os riscos para a estabilidade financeira devido à crescente fragmentação económica e financeira, que afeta de forma adversa a alocação transfronteiriça de capital. "Isto pode causar uma reversão súbita dos fluxos de capital e pode ameaçar a estabilidade macrofinanceira ao agravar os custos de financiamento dos bancos", avisa, apontando que os efeitos poderão ser mais agravados para mercados emergentes e instituições financeiras com menores rácios de capital.
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