Carros novos a GPL - Burocracia dita pouca oferta
São poucas as marcas que incluem na sua gama comercial veículos já equipados com sistemas de GPL. Em Portugal, só há três fabricantes que o fazem, o que é explicado, em parte, pela dificuldade na obtenção de homologação destes veículos quando a sua conversão é realizada em Portugal, antes da matrícula.
A grande maioria dos carros a GPL que circula em Portugal nem sempre teve este combustível como principal fonte de energia. Tendencialmente, são carros que foram comprados e, posteriormente, convertidos, muitas vezes à revelia da marca e com perda de garantia, caso ainda existisse. Mas já há fabricantes que vendem carros novos a GPL.
Nos últimos anos, algumas marcas passaram a incluir na sua oferta comercial carros a GPL. Não são, no entanto, muitas. "Só três marcas arriscaram comercializar veículos a GPL. Foram a Mitsubishi e a Subaru e actualmente a Chevrolet", disse Miguel Rodrigues, Presidente da Associação Nacional de Instaladores e Consumidores de GPL (ANIC), em declarações ao Negócios.
A Chevrolet comercializa o modelo Aveo, em todas as suas configurações, e deverá introduzir em breve mais um modelo, o Spark, na gama de veículos a GPL, a qual recebe a designação de "Bi-FUEL" (uma vez que permite a utilização tanto de GPL como de gasolina, de forma alternada). O "marketing" destes veículos é fácil: "desconto de 50% sempre que abastecer", diz a Chevrolet, numa clara referência ao facto do litro de GPL custar, actualmente, cerca de metade do preço por litro de gasolina.
Nuno Heleno, director de comunicação da Chevrolet Portugal, afirma que tem "havido procura. A adesão tem sido boa. Neste momento, a oferta de GPL representa cerca de 40% das vendas do Aveo". Um bom resultado que permite à marca manter a confiança neste combustível alternativo à gasolina.
As fabricantes "sentem grandes dificuldades" em ter uma oferta comercial de veículos a GPL, "isto porque o Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT) dificulta a homologação do sistema de GPL antes do veículo ser matriculado", explicou Miguel Rodrigues.
O especialista afirma que "se as marcas converterem os carros em Portugal, não os conseguem legalizar, mas se os mandarem vir de fora já com o sistema de GPL instalado com o mesmo equipamento e processo de instalação que é praticado cá, o IMTT aceita administrativamente a alteração sem qualquer validação adicional". No caso da Chevrolet, os carros "são importados de Itália já com o sistema de GPL", diz Nuno Heleno.
Mesmo com todos os entraves, as marcas mantêm a aposta. Fazem-se valer do facto de este ser um combustível substancialmente mais barato do que os tradicionais, com o "bónus" de oferecerem a quem compra um carro a GPL novo, ter garantia da própria marca.
"Quando alguém procede à conversão de uma viatura própria, já em circulação, mas ainda em período de garantia do fabricante, é prática comum as marcas resolverem a garantia de fabrico invocando intervenção não autorizada", explicou Miguel Rodrigues.
Daí que seja "prática comum proceder à conversão após o período de garantia do fabricante do automóvel, ou ainda em garantia, mas abdicando da oficina da marca e passando a utilizar os serviços da rede de instaladores credenciados e associados da ANIC-GPL que proporcionam igualmente serviços de mecânica geral de qualidade certificada".
Já há "kits", mas são caros e o sistema não funciona de forma tão eficiente como nos motores a gasolina.
Motores "diesel" a GPL?
Já há "kits", mas são caros e o sistema não funciona de forma tão eficiente como nos motores a gasolina.
Os "kits" GPL já existem há vários anos., mas para motores a gasolina. Mais recentemente, surgiram no mercado sistemas de GPL para veículos a gasóleo, mas ao contrário do que acontece nos primeiros, para estes motores a conversão não é tão rentável.
"Neste momento já é possível converter carros a gasóleo para GPL, mas não é tão eficaz", explicou Miguel Rodrigues, Presidente da Associação Nacional de Instaladores e Consumidores de GPL (ANIC), ao Negócios.
Porquê? "A instalação é mais cara e o motor continua a consumir gasóleo". Só "cerca de 30% são substituídos por GPL", acrescentou o responsável, lembrando que a conversão só deve ser feita em casos em que a utilização seja intensiva.
"Esta adaptação ainda é feita essencialmente aos pesados pelos factores de maior consumo por quilómetro e número de quilómetros percorridos por ano", diz Miguel Rodrigues. "Um pesado com consumo típico de 40 litros de gasóleo a cada 100 quilómetros e cerca de 100.000 quilómetros por ano consegue recuperar o investimento de cerca de 5.000 euros em menos de um ano", conclui.
Cinco mitos sobre os carros a GPL
Há uma série de mitos que afastam os condutores dos veículos que utilizam GPL. O principal é o de que podem explodir, em caso de colisão. Mas há outros, como o de que o GPL estraga o motor, reduz-lhe a potência e aumenta exponencialmente o consumo de combustível. Gasta mais, é um facto. Mas não muito mais, e o combustível é mais barato.
1. Reservatórios de GPL explodem
Muitos condutores mantêm reservas sobre o GPL. E um dos principais argumentos é o receio de que o reservatório expluda numa situação de embate. Mas, actualmente, essa é uma questão que não se coloca. Os sistemas de GPL são instalados por entidades credenciadas e depois são validados numa Inspecção Extraordinária em centros de inspecção automóvel de categoria B. Desde 2006 que as falhas de segurança nestes sistemas são estatisticamente desprezáveis desde que sejam cumpridas as boas práticas de instalação.
2. Estraga o motor dos carros
Desde que o funcionamento do motor a gasolina esteja perfeito não são expectáveis problemas após a instalação de um "kit" GPL. Poderão existir casos de motores mais exigentes onde, a necessidade de um substituto dos aditivos utilizados na gasolina, é impreterível, pois o aumento da temperatura dos gases de escape é quase inevitável. Nestes casos específicos o instalador está tecnicamente documentado para poder identificar as soluções mais adequadas.
3. GPL tira potênciaO mito da perda de potência é uma consequência histórica. Os sistemas de GPL mais antigos instalados em motores de carburador eram ineficientes, havendo uma perda de potência nos veículos que poderia chegar a 10%. Mas, actualmente, com os sistemas de gestão electrónica isso já não acontece. Inclusive, existem casos de motores turbo em que a afinação adequada permite um aumento de potência aproveitando a maior octanagem do GPL.
4. Consumos disparamO aumento exponencial nos consumos, após a conversão para GPL, é um mito. De facto, um carro a GPL gasta mais, mas não muito mais. O aumento registado resulta das características do próprio combustível. É normal haver um aumento no consumo na ordem dos 20% em número de litros. Mas também é preciso ter em conta que o custo deste combustível é muito mais baixo e acaba por compensar em termos económicos com uma redução de cerca de 40%.
5. Carros ficam sem bagageiraUm dos mitos sobre o GPL é que a instalação dos reservatórios acabam por tirar espaço à bagageira. Antigamente os reservatórios em cilíndricos, retirando de facto espaço para arrumação na mala, mas os novos "kits" acabam com esse problema. Os reservatórios em forma de "donut" são montados no local onde está o pneu suplente, pelo que a bagageira não sofre qualquer perda. Para solucionar o facto de ficar sem suplente, o condutor deve adoptar um "kit" de reparação de furos.
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