Bolsas europeias arrancam semana no vermelho. Biotecnológica Abivax dispara 12%
Juros da dívida soberana aliviam na Zona Euro
Dólar cede perante expectativas de cortes nos juros em 2026
Aposta em novo corte de juros e tensões geopolíticas levam ouro a máximo histórico
Petróleo ganha terreno após perseguição a petroleiros venezuelanos
Ásia avança com impulso das tecnológicas. Queda do iene também influencia
Europa arranca semana mais curta no vermelho
As bolsas europeias arrancaram a semana de Natal com desvalorizações, com os analistas a preverem alguma volatilidade nos mercados, impulsionada pela baixa liquidez, numa semana de negociações mais curta devido ao feriado natalício.
"Mesmo que seja uma semana tranquila no calendário, não podemos descartar completamente a possibilidade de uma reviravolta no final do ano, o que estaria em consonância com as constantes surpresas de 2025 até agora", disseram analistas do Deutsche Bank, citados pela Reuters.
A maioria dos setores recuou após os fortes ganhos de sexta-feira, dia em que o índice de referência europeu bateu novos recordes. O Stoxx 600 foi impulsionado pela esperanças de um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia, bem como pelos dados económicos dos EUA que apontam para um corte nas taxas de juro pela Reserva Federal - decisão que tende a impulsionar os mercados.
A subida deveu-se ainda ao otimismo do Banco Central Europeu - que manteve os juros inalterados a semana passada - em relação à economia do bloco no próximo ano. Os analistas da UBS Global Wealth Management preveem "que o momento macroeconómico positivo na Zona Euro persistirá e que o crescimento dos lucros corporativos se vai intensificar. Gostamos particularmente dos setores da banca, de serviços públicos, industrial, tecnológico e da Alemanha".
Esta segunda-feira, o "benchmark" do bloco, o Stoxx 600, desvaloriza 0,18% para 586,46 pontos, pressionado sobretudo pelo setor da alimentação que cai mais de 1% e pelas "utilities" que cedem igualmente 1%. Pelo contrário, os recursos básicos e as tecnológicas impedem o índice de maiores quedas, ao registarem subidas ainda que ligeiras.
Quanto aos principais índices da Europa Ocidental, o alemão DAX é o único com ganhos ao somar 0,03%, o espanhol IBEX 35 cede 0,2%, o italiano FTSEMIB desvaloriza 0,29%, o francês CAC-40 perde 0,32%, o britânico FTSE 100 cede 0,48%, e o neerlandês AEX recua 0,11%.
A banca é uma das estrelas do ano. O setor acumula uma valorização de mais de 65% desde o início de 2025 - um dos melhores desempenhos do mercado -, e os analistas preveem um aumento nas atividades de fusões e aquisições, um cenário regulatório mais flexível e um ambiente económico relativamente estável.
Com os recordes do ouro e prata, as empresas ligadas ao setor dos metais também sobem: a Fresnillo avança 3% para recordes, a Hochschild ganha 4,16% e a Endeavour soma cerca de 4%.
Noutros movimentos empresariais, a empresa de biotecnologia Abivax dispara 12,8% numa altura em que há notícias de que possa ser alvo de compra por parte da farmacêutica Eli Lilly.
As ações europeias estão a caminho para o sexto mês de ganhos. Ainda que seja o melhor desempenho anual desde 2021, com uma valorização de 16%, as ações europeias continuam a registar um desempenho inferior ao das ações mundiais.
“Acho que os mercados europeus irão crescer mais no final do ano, impulsionado por fluxos positivos, um impulso sólido nos lucros empresariais e pelo crescente otimismo para a Europa”, disse Ulrich Urbahn, da Berenberg, à Bloomberg.
Juros da dívida soberana aliviam na Zona Euro
Os juros da dívida soberana dos países da Zona Euro arrancaram a semana em ligeira queda.
Pelas 08:30 horas em Lisboa, os juros das "Bunds" alemãs a dez anos, que servem de referência para a região, estavam estáveis nos 2,893%, enquanto os das obrigações francesas recuavam 1 ponto-base para 3,600%.
As "yields", com a mesma maturidade, de Itália, Espanha e Portugal aliviavam 0,6 pontos base. Em concreto, os juros da dívida portuguesa estavam nos 3,175%.
Já fora da Zona Euro, os juros das "Gilts" britânicas também a dez anos contrariavam a tendência, agravando-se em 0,8 pontos base para 4,530%.
Destaque ainda para o juro da dívida japonesa a 10 anos que subiu, esta segunda-feira, para 2,1%, o valor mais alto desde 1999, após o Banco do Japão ter aumentado a taxa de referência do país asiático para 0,75%.
Dólar cede perante expectativas de cortes nos juros em 2026
Com a mais recente redução por parte da Reserva Federal (Fed) dos EUA da taxa de juro diretora já totalmente incorporada pelos investidores, as atenções viram-se agora para o que poderá o banco central americano fazer ao longo de 2026.
Segundo a ferramenta FedWatch, os investidores espeam que na reunião de janeiro não haja qualquer alteração às taxas de juro, mas daí em diante as apostas recaem em mais reduções. Estas expectativas estão a pressionar negativamente o dólar, o que por sua vez está a impulsionar o ouro, que nesta segunda-feira atingiu um novo máximo histórico.
O índice do dólar americano (DXY) da Bloomberg, que compara o valor da moeda norte-americana com outras divisas, recua 0,09% para os 98,5100 pontos.
A esta hora, o euro segue a valorizar 0,22% para 1,1736 dólares e a libra também segue a avançar 0,29% para 1,3418 dólares. O dólar também recua 0,19% para 0,7941 francos suíços. O dólar perde ainda 0,16% face à divisa japonesa, para 157,50 ienes.
Já noutros pares de câmbio, o euro cede 0,10% para 0,8746 libras e avança 0,05% para 184,83 ienes.
No caso da divisa japonesa, o Governo local alertou esta segunda-feira que tomará "medidas apropriadas" contra movimentos excessivos do iene, num contexto no qual o iene continua a desvalorizar, apesar da subida das taxas de juro feita pela Banco do Japão, que coloca a taxa diretora no valor mais elevado dos últimos 35 anos.
"Estamos preocupados com movimentos unilaterais e rápidos da moeda", declarou o vice-ministro das Finanças para Assuntos Internacionais, Atsushi Mimura, em declarações à imprensa citadas pela agência Kyodo.
Aposta em novo corte de juros e tensões geopolíticas levam ouro a máximo histórico
As apostas em novos cortes de juros nos EUA e o aumento das tensões geopolíticas puseram o ouro a brilhar como nunca, elevando-o a um máximo histórico esta segunda-feira e puxando o lustro do metal precioso para o seu melhor desempenho anual em mais de quatro décadas.
Pelas 08h30, o preço do ouro subia 1,72% para 4.413 dólares por onça (28,35 gramas), batendo o recordo anterior, alcançado em outubro.
Segundo a Bloomberg, os investidores estão a apostar num duplo corte das taxas de juro em 2026 por parte da Reserva Federal dos EUA (Fed), atendendo, por um lado, a uma série de dados económicos divulgados na semana passada e, por outro, ao facto de o Presidente norte-americano, Donald Trump, continuar a defender um alívio da política monetária.
"A subida de hoje é impulsionada principalmente pelo posicionamento antecipado em torno das expectativas de corte de juros da Fed, amplificado pela baixa liquidez de final de ano”, afirmou Dilin Wu, estratega do Pepperstone Group, apontando que o crescimento lento do emprego e a inflação nos EUA mais baixa do que o esperado em novembro reforçaram a narrativa de mais cortes de juros.
E o ouro, a par com outros metais preciosos, tende a ter um melhor desempenho num ambiente de taxas diretoras mais baixas por não render juros. A prata também disparou, estando a subir 2,52% até aos 68,85 dólares por onça.
As tensões geopolíticas, que se têm acentuado nas últimas semanas, também reforçaram o apelo pelo ouro e pela prata como ativos de refúgio. Os EUA intensificaram o bloqueio de petróleo contra a Venezuela, aumentando a pressão sobre o governo do Presidente Nicolás Maduro, enquanto a Ucrânia atacou pela primeira vez um petroleiro da chamada "frota fantasma" da Rússia no Mar Mediterrâneo.
Os dois metais preciosos caminham assim para os seus maiores ganhos anuais desde 1979.
Petróleo ganha terreno após perseguição a petroleiros venezuelanos
Os preços do petróleo estão a registar valorizações esta manhã, com os investidores a reagirem aos desenvolvimentos nas tensões entre os EUA e a Venezuela. Na noite de domingo, a Casa Branca intensificou o bloqueio à Venezuela, após a Guarda Costeira ter avançado à Reuters que estaria a seguir um petroleiro em águas internacionais perto do país sul-americano - o terceiro desde que a Casa Branca começou a aplicar sanções a estas embarcações que saem e entram em terras venezuelanas.
O West Texas Intermediate (WTI), que serve de referência para os EUA, sobe 0,88% para 57 dólares por barril, enquanto o Brent, referência para o bloco europeu, soma também 0,88% para 60,98 dólares por barril.
Washington tem intensificado a pressão sobre o Governo de Nicolás Maduro, com a intenção de "sufocar" a sua principal fonte de receita - o "ouro negro". Os EUA também designaram o regime como uma "organização terrorista estrangeira", acusando-o de envolvimento com o narcotráfico. A Venezuela ainda possui das maiores reservas de petróleo bruto do mundo, mas suas exportações - a maioria das quais destinadas à China -, representam agora menos de 1% da procura mundial.
No Médio Oriente, o conflito prossegue: a Ucrânia procedeu a um ataque de drones a um petroleiro russo no Mediterrâneo este fim de semana.
As tensões geopolíticas ajudaram a equilibrar os preços do crude este ano, que cai cerca de 25%, pressionado pela perspetiva de um excesso de oferta em 2026. Em causa está a retoma rápida da produção de petróleo por parte da Organização de Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+), enquanto os produtores fora do cartel aumentaram a produção e a procura continuou abaixo das perspetivas.
"Mantemos a nossa visão ligeiramente mais otimista sobre o petróleo bruto até o final do ano, com base nos desenvolvimentos geopolíticos muito mais favoráveis", disse Robert Rennie, do Westpac Banking, à Bloomberg. No entanto, o analista considera que o Brent poderá cair para a fasquia dos 50 dólares por barril já no próximo ano.
Ásia avança com impulso das tecnológicas. Queda do iene também influencia
As bolsas asiáticas terminaram a primeira sessão da semana natalícia com valorizações, acompanhando os ganhos do setor da tecnologia em Wall Street na passada sexta-feira. No Japão, a queda do iene em relação ao euro e ao franco suíço promete impulsionar os ganhos de exportação das empresas do país, levando a subidas das bolsas japonesas.
A desvalorização da divisa nipónica acontece depois de o Banco do Japão aumentar as taxas de juros para o maior patamar em 30 anos, nos 0,75%, e sinalizar novas subidas no futuro, o que impactou negativamente a dívida pública.
Os analistas apontam para um forte fecho dos mercados este ano, isto porque o índice MSCI All Country World - um dos mais abrangentes medidores do mercado acionista - subiu pela terceira sessão consecutiva, elevando o seu ganho acumulado em 2025 para 20%.
Pelo Japão, o Nikkei 225 subiu 1,81% para 50.402,39 pontos e o Topix ganhou 0,64% para 3.405,17 pontos. O sul-coreano Kospi - índice com grande peso de cotadas ligadas à tecnologia e inteligência artificial - avançou 2,12% para 4.105,93 pontos e o índice de referência de Taiwan, o Taiex, pulou 1,64% para 28.149,64 pontos. Já pela China, o Hang Seng de Hong Kong valorizou 0,29% para 25.765,70 pontos e o Shanghai Composite ganhou 0,69% para 3.917,36 pontos, à medida que crescem as expectativas de que o Banco Popular da China possa flexibilizar a política monetária no próximo ano.
Os mercados de "commodities" estiveram em destaque, numa altura em que o ouro, a prata e o cobre atingem máximos históricos e o petróleo valoriza, com o aumento de tensões geopolíticas entre os EUA e a Venezuela.
Os analistas consultados pela Bloomberg explicam ainda que as valorizações nas bolsas desta segunda-feira se devem às quedas dos preços no final da semana passada, com os investidores a aproveitarem os preços mais baratos. Além disso, o otimismo em relação à inteligência artificial voltou, aliado às apostas num corte das taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA.
Ao longo da semana sairão mais dados para medir o pulso aos EUA, como a evolução da economia, que vai dar mais "luz" aos investidores quanto à decisão da política monetária da Fed.
Pela Europa, o desempenho será mais tranquilo, com os futuros do Euro Stoxx 50 a apontarem para uma ligeira queda de 0,2%.
Os analistas da TD Securities, citados pela Reuters, disseram que os mercados acionistas registaram os maiores fluxos de entrada semanais da história, com 98 mil milhões de dólares na semana passada, liderados por fundos de ações dos EUA. Também os chineses registaram o terceiro maior fluxo de entrada semanal de 2025.
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