A pandemia e as crianças na sociedade do risco zero
A manutenção das restrições de há um ano nas escolas perante uma realidade sanitária completamente diferente é mais um sinal da irrealista obsessão social pela eliminação do risco – e de uma política pública pouco corajosa, que desconsidera o interesse das crianças.
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“Dada a situação em que nos encontramos, venho informar que os procedimentos para este início de ano lectivo irão manter-se idênticos ao ano lectivo anterior.” Começa assim a comunicação que recebemos há dias da escola pública da nossa filha mais velha, detalhando as restrições que transitaram do ano passado para este. “Dada a situação em que nos encontramos” é uma explicação estranha, uma vez que a situação em que nos encontramos é muito diferente da situação em que nos encontrávamos no ano lectivo anterior. Hoje temos 84% da população vacinada, quando em boa parte do ano lectivo anterior tivemos 0% e uma total incerteza sobre se haveria sequer uma vacina; hoje temos 75 pessoas internadas em cuidados intensivos, quando antes chegámos a ter hospitais de campanha a abarrotar. Mas a missiva da escola tem razão num ponto: há, de facto, uma “situação em que nos encontramos”. É a obsessão pelo risco zero e a política pública que, não tendo a coragem de desafiar essa obsessão, desconsidera a saúde das crianças.
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