"Crise política"? Quem nos dera
O primeiro-ministro preferiu fechar-se na postura defensiva do tribalismo e jogar taticamente todo o Governo – a confiança dos eleitores e o trabalho das pessoas convidadas a fazerem parte dele – a admitir o erro, ceder na sua esfera pessoal e assumir o inevitável dano político. Este fim de legislatura é o prolongamento de uma grave crise institucional.
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Primeiro. O conflito de interesses e a opacidade neste caso eram necessariamente fatais para o primeiro-ministro, mesmo que este tivesse tido uma atitude humilde, mais transparente e decisiva perante o país, mandando a família cancelar os contratos ainda ativos que ele angariara? Eu – que há duas semanas, com muito menos informação do que temos hoje, escrevi aqui que a vertente de consultoria era "a" fonte de conflito de interesses – tenho dúvidas. Talvez Montenegro conseguisse sobreviver, com danos. Mas o caso seria sempre difícil a partir do momento em que se soubesse que havia clientes ainda a pôr dinheiro na esfera patrimonial do primeiro-ministro – em particular numa microempresa em que a família foi posta, através de um negócio de eficácia jurídica duvidosa, no papel de testa-de-ferro de contratos angariados por Montenegro que, chegado ao Governo, nada declarou sobre potenciais conflitos de interesses com esses clientes e com as áreas em que operam.
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