A carga ligeira de Tancos
Como observou Maquiavel, a mentira é uma formidável arma política, porque a verdade é mais difícil de acreditar. Alexandre, o Grande, ou Júlio César não duvidaram em usar a mentira para atingir os seus fins, mas tiveram a inteligência de não abusar dela.
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A carga da brigada ligeira foi o episódio mais desastrado da história militar britânica. A carga da cavalaria comandada por Lorde James Cardigan contra a artilharia russa foi uma chacina: em poucos minutos 40% dos britânicos pereceram. Lorde Cardigan, que sobreviveu, foi considerado um herói nacional. Tancos é, por estes dias, a carga da brigada ligeira da elite política e militar do país. Está a conduzir à derrota, sem honra ou glória, dos catedráticos em jogos de guerra para computador que não sabem fazer continência à verdade. Nenhum dos intervenientes será condecorado como um herói nacional. Ou mesmo da sua rua ou praceta. É certo que vivemos na era da pós-verdade, mas parece que neste caso a verdade é mais difícil de encontrar do que uma agulha num monte de palha. Ou talvez não seja. Marcelo Rebelo de Sousa já disse que tem o "legítimo desejo" de saber o que se passou. Só que Tancos parece um cubo de Rubik: é um quebra-cabeças tridimensional. Tem personagens reais e de ficção. Uma destas últimas é o ex-ministro Azeredo Lopes, uma invenção política que deixa como legado uma bomba-relógio. O avisado Cardeal Richelieu dizia que: "A dissimulação é a ciência dos reis." Nem nisso o ex-ministro, o ex-CEME e os operacionais foram profissionais. O amadorismo é digno de um recreio infantil. Só não se saberá a verdade se alguém não o desejar.
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