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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt
20 de Agosto de 2017 às 18:25

A desculpa perfeita

Dizia Eduardo Galeano que os árbitros eram a única unanimidade do futebol. Todos os odiavam. Mas os árbitros dão jeito: disfarçam as debilidades das equipas e dos treinadores e a incompetência dos dirigentes.

Os árbitros são a desculpa perfeita. A política portuguesa, há muito contaminada pelo futebol, também encontrou nos árbitros uma excelente inspiração para expiar a sua inépcia militante. Os rigorosos inquéritos e os relatórios exaustivos pedidos depois de calamidades são as fórmulas mágicas para deixar que nada se resolva. No meio de tudo isto, o Estado vai-se isentando das suas responsabilidades e, através do seu manto diáfano e das suas costas largas, escondem-se aqueles que fizeram da incompetência e do cinzentismo o caminho seguro para o topo das carreiras. São os herdeiros de Clement Atlee, aquele que Churchill, seu adversário político, designava de forma clara: "É um homem modesto e não lhe faltam motivos para sê-lo."

Ler os relatórios das diversas entidades que estiveram ligadas ao incêndio de Pedrógão Grande é um imenso labirinto de culpas dos outros. A ministra Constança Urbano de Sousa concluiu que a culpa também não é sua. E, portanto, temos culpas avulsas, mas elas estão todas solteiras. Porque ninguém quer casar com elas. A sociedade olha espantada e sente-se como Shane, o pistoleiro do Velho Oeste, um homem bom e implacável que quer ajudar o pai, mas sabe que a luta está perdida à partida. Em Portugal, esta luta está perdida à partida e à chegada. Ninguém tem culpas, nem é capaz de as assumir. Olhe-se para o vergonhoso caso da árvore que caiu no Funchal. A Câmara do Funchal diz que a culpa é da diocese. Esta diz que a culpa é da CMF. No meio deste "a culpa é tua", estão as vítimas e as suas famílias. Ninguém se parece importar com elas. O mais importante é sacudir a água do capote. Responsabilidades? São de quem não fala: das árvores ou do fogo. A desculpa perfeita para a incompetência e a falta de organização. Os grandes vírus que corroem Portugal.

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